20 O quarto Evangelho. O quarto Evangelho, atribuído a João, que veio a aparecer entre os anos 95 e 98 (segundo outros, em 110), talvez em Àfeso, oferece outra importante contribuição para a sistematização das doutrinas cristãs, se bem que não seja claro se a peculiaridade de suas idéias deva ser atribuída ao conhecimento efetivo do ensino e da vida de Jesus ou à influencia da especulação grega ou gnóstica. O uso do vocábulo lógos, "palavra", no prefácio do livro, explica não só a seleção, como a dimensão mais ampla e maís profunda que o autor - que conhece o mundo judaico e o grego - dá às narrativas que se seguem. O quarto Evangelho parece, muitas vezes, uma continuação do pensamento paulino (Paulo estes e demoradamente e Êfeso), sobretudo o da preexistência de Cristo e da universalidade de sua mensagem.
21 Credos. escolas e concílios. O livro dos Atos dos Apóstolos, escrito ao redor do ano 90 e narrando acontecimentos que provavelmente ocorreram entre os anos 29 e 63, revela os primeiros esforços de organização do cristianismo, tendo as igrejas por base principal. Os cristãos consideravam-se uma nova raça, um novo povo escolhido, cuja cidadania, noentanto, está no céu, ao qual aspiram. Reúnem se freqüentemente e criam, no Final do séc.I, as primeiras formas litúrgicas; a oração "do Pai nosso", ensinada por Jesus, é recitada três vezes ao dia. Diante das lutas para manter a pureza da nova doutrina, e para dirimir dificuldades internas, um primeiro concilio - o de Jerusalém - foi realizado nos primórdios do estabelecimento do cristianismo (ano 49), segundo narração de At 15.
22 Somente a partir de meados do séc. II, no entanto, é que maior numero de concílios (sínodos) se realizam, com a finalidade de resolver questões relativas às heresias da época. O primeiro deles parece ter-se realizado na Ásia Menor, com o fim de adotar medidas contra o montanisno, para discutir questões sobre a Páscoa (provocadas por Vítor de Roma, c. 190) e estabelecer o cânon do Novo Testamento. Certos escritos. entre os quais muitos apócrifos, surgiram nessa época, como o Didaquê ["ensino do Senhor através dos doze apóstolos"), anterior ao ano 150, incorporado em manuais e cânones da Igreja, entre os quais em Didascalia (séc. III), Ordenanças da Igreja apostólica. (ano 300), Constituições apostólicas (séc. IV)
23 O Didaquê tratava de instrução moral, da liturgia, da disciplina e dos ofícios eclesiásticos, além de uma exortação final sobre o breve retorno de Jesus e a ressurreição dos mortos. Os primeiros teólogos e os primeiros pais da Igreja são dessa época. Entre os mais antigos está Justino Mártir, filósofo grego de origem pagã, autor da Apologia, que, insatisfeito com os conceitos gregos sobre o cosmos, se tornou cristão.
24 No final do séc. II desenvolve-se em Alexandria, grande centro de cultura do império romano, a Escola de Catecúmenos, instituição cristãpara eruditos, na qual se ensinava tanto a filosofia grega como a doutrina cristã. Clemente, pensador liberal cristão, dessa época. fundiu idéias platônicas e estóicas com o pensamento cristão, fato de que resultou o aparecimento do guinosticismo cristão. Seu discípulo, Orígenes. foi autor do primeiro tratado de doutrina cristã, Perì Archón, além de outros escritos, como Katà Kélson, refutação ao filósofo grego Celso, cuja obra se perdeu. Deve-se a Eusébio de Cesaréia, seguidor de Orígenes, a primeira história da Igreja. Já no séc. III, os escritos de Tertuliano e Cíprianos, outros nomes importantes da época, foram fundamentais na constituição dos dogmas e da teologia cristã.
25 A partir de 325, coto o Concílio de Nicéia, começam os concílios maiores, chamados ecumênicos, convocados para estabelecer a posição da Igreja ante doutrinas consideradas heréticas. Nesse primeiro concilio geral aprova-se o credo de Nicéla, como resposta ao arianismo; em 381 (Constantinopla I) define se a natureza da divindade do Espírito Santo; em 431 (Àfeso) trata-se da unidade pessoal de Cristo e da Virgem Maria; em 451 (Calcedônia); definem-se as naturezas divina e humana de Cristo; em 553 (Constantinopla II) condenam-se os ensinos de Orígenes e de outros; em 680-681 (Constantinopla III) são dogmatizadas as duas naturezas de Cristo; em 787 (Nicéla II) é regulada a questão da veneração das imagens.
26 O credo mais antigo, que resume a doutrina cristã, é atribuído aos apóstolos, que o teriam elaborado em Jerusalém, mas que foi composto por Marcelo, bispo de Ancira, e enviada ao bispo de Roma, Júlio, c. 340. O credo de Nicéia (325), redigido por ordem do imperador Constantino, foi a revisão do credo de Eusébio, bispo de Cesaréia e historiador famoso, cuja influencia foi grande no Concilio de Nicéia. Em 341, Atanásio. patriarca de Alexandria, escreve o seu credo, enfatizando a doutrina do Espírito Santo. O terceiro credo cristão foi adotado por noventa bispos, quando se reabilitou Atanásio, desterrado cinco vezes por sua oposição tenaz; ao arianismo.
27 À só a partir do séc. XIX. entretanto, que se aplica mais sistematicamente o princípio de um desenvolvimento da doutrina cristã. A trabalhos conto os de Adolf vou Harnack e Reinhold Seeberg, no séc. XIX. segue-se vasta série de estudos que examinam a doutrina cristã através de estágios de desenvolvimento causal, o que difere das formas monolíticas e estáticas que consideravam as doutrinas como um conjunto de verdades imutáveis. Dessa forma as doutrinas passaram a ser examinadas no contexto de situações históricas e sociais que determinavam a ênfase num ou noutro aspecto.

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