Períodos de tempo de Daniel 12 " passado ou futuro?

Ao analisarmos os acontecimentos proféticos narrados no capítulo 12 de Daniel, verificamos que podemos dividi-lo em 3 blocos. O primeiro bloco é composto pelos versos 1 a 3 do capítulo, e relata uma seqüência de acontecimentos:

"O tempo do fim

1 Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá grande tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que se achar inscrito no livro.

2 Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno.

3 Os que forem sábios, pois, resplandecerão com o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente."

(Daniel 12:1-3) (ênfase suprida)

Este bloco é uma continuação da narrativa que o anjo iniciou no capítulo 11, e destaca uma seqüência de acontecimentos. Para facilitar a identificação, enfatizamos os acontecimentos descritos neste bloco de texto. São eles:

-         Miguel se levantará;

-         Haverá grande tempo de angústia;

-         O povo de Deus será salvo e muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão;

-         Os que forem sábios resplandecerão como o fulgor do firmamento.

Estudaremos o significado de cada um dos eventos descritos acima com detalhes no próximo capítulo. Por enquanto, queremos apenas enfatizar que todos estes acontecimentos pertencem ao mesmo bloco, ou seja, o texto deixa claro que eles ocorrem em seqüência.

Ao lermos o verso 4, verificamos que nele o anjo está dando uma instrução específica para Daniel:

"4 tu, porém, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim, muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará.

(Daniel 12:4)"

Assim, percebemos claramente que a narrativa dos versos 1 a 3 se encerrou. Por isto, entendemos que o primeiro bloco de texto de Daniel 12 termina no verso 3.

O segundo bloco é composto pelos versos 4, 8 e 9, e informa que a profecia de Daniel 12 só poderia ser compreendida quando se iniciasse o "tempo do fim":

"4 tu, porém, encerra as palavras e sela o livro, até ao tempo do fim, muitos o esquadrinharão, e o saber se multiplicará.

8 Eu ouvi, porém não entendi; então, eu disse: meu senhor, qual será o fim destas coisas?

9 Ele respondeu: Vai Daniel, porque estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim."

(Daniel 12:4, 8 e 9) (ênfase suprida)

Estudamos no capítulo anterior que o "tempo do fim" é o tempo no qual seria pregada a mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14, e que este tempo se deu pouco antes de 1844. Assim, já compreendemos os versos 4, 8 e 9, que compõem este segundo bloco. Eles informam que a profecia de Daniel 12 poderia ser compreendida somente a partir de meados do século XIX, pouco antes de 1844.

O terceiro bloco de Daniel 12 é composto pelos períodos de tempo. São apresentados três períodos de tempo na profecia:

-         "um tempo, dois tempos e metade de um tempo" " verso 7;

-         "1290 e 1225 dias" " versos 11 e 12.

Estes são os períodos de tempo de Daniel 12. Para sabermos se eles estão no passado ou no futuro, vamos analisar um texto que a revelação nos traz sobre Daniel 12:

"Leiamos e estudemos o capítulo doze de Daniel. Ele é uma advertência que todos nós precisamos compreender antes do tempo de angústia."

(Eventos Finais, Pág.  15 / Manuscript Releases Vol. 15 Pág. 228 " Ano 1903) (ênfase suprida)

Analisamos sucintamente esta declaração da revelação no capítulo anterior. Nesta declaração, a revelação afirmou claramente que era necessário se compreender Daniel 12 antes de se iniciar o "tempo de angústia". Note:

"A revelação não afirmou que nenhuma parte de Daniel 12 era compreendida até aquele momento."

Poderia ser que algumas partes do capítulo já fossem compreendidas enquanto outras não. Portanto, precisamos compreender se esta declaração se refere ao capítulo inteiro de Daniel 12 ou a algumas partes do mesmo. E caso ela tenha se referido a algumas partes da profecia, precisamos saber a quais partes ela se referiu. Como dividimos Daniel 12 em três blocos, precisamos então saber a qual deles a revelação estava se referindo quando afirmou que era necessário se compreender Daniel 12.

Ao pesquisarmos os escritos da revelação, verificamos que, desde 1888, existiam esclarecimentos sobre os eventos descritos no primeiro bloco de Daniel 12, composto pelos versos 1 a 3. Em 1888, o livro entitulado "The Great Controversy", e traduzido atualmente para o português como "O Grande Conflito" foi revisado pela terceira vez. Esta foi a penúltima revisão neste livro, e foi a última revisão na qual foram acrescentados textos da revelação. Na última revisão deste livro, feita em 1911, a alteração mais significativa ocorrida foi o acréscimo de referências históricas (vide "Mensagens Escolhidas, Vol. 3, Págs. 433-440") . Portanto, na revisão de 1888, já constavam as informações que esclareciam o conteúdo do primeiro bloco (versos 1 a 3) de Daniel 12. Citamo-las abaixo:

"

"Naquele tempo Se levantará Miguel, o grande príncipe, que Se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até aquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro." Daniel 12.1

            Quando se encerrar a mensagem do terceiro anjo, a misericórdia não mais pleiteará em favor dos culpados habitantes da Terra. O povo de Deus terá cumprido sua obra. ... Cessa então Jesus de interceder no santuário celestial."

(O Grande Conflito, Págs. 613) (ênfase suprida, grifos acrescentados)

"A Sétima Praga e a Ressurreição Especial

 

Há um grande terremoto "como nunca tinha havido desde que há homens sobre a Terra; tal foi este tão grande terremoto". Apocalipse 16:18 O firmamento parece abrir-se e fechar-se. A glória do trono de Deus dir-se-ia atravessar a atmosfera. ...

Abrem-se sepulturas, e "muitos dos que dormem no pós da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para a vergonha e desprezo eterno". Daniel 12:2 Todos os que morreram na fé da mensagem do terceiro anjo saem do túmulo glorificados, para ouvirem o concerto de paz, estabelecido por Deus com os que guardaram a Sua lei. "Os mesmos que O traspassaram" (Apocalipse 1:7), os que zombaram e escarneceram da agonia de Cristo, e os mais acérrimos inimigos de Sua verdade e povo, ressuscitam para contemplá-lo em Sua glória, e ver a honra conferida aos fiéis e obedientes. ...

Os que tudo sacrificaram por Cristo estão agora em segurança, como que  escondidos no lugar secreto do pavilhão do Senhor. Foram provados, e perante o mundo e os desprezadores da verdade, evidenciaram sua fidelidade Àquele que por eles morreu. Uma mudança maravilhosa sobreveio aos que mantiveram firme integridade em face mesmo da morte. Foram subitamente libertos da negra e terrível tirania de homens transformados em demônios. Seu rosto, pouco antes tão pálido, ansioso e descomposto, resplandece agora de admiração, fé e amor. [Daniel 12:3]"

(O Grande Conflito, Págs. 636 e 637) (ênfase suprida, grifos acrescentados)

Vamos explicar melhor os textos da revelação apresentados acima, que aclaram os versos 1 a 3 de Daniel 12 no capítulo 4 deste livro. Por ora, apresentamos eles nos servem apenas para confirmar que o bloco 1 (versos 1 a 3) da profecia de Daniel 12 já estava revelado a partir de 1888.

O bloco 2 (versos 4, 8 e 9) de Daniel 12 também já era compreendido em 1903. Isto porque a revelação já o havia explicado em 1890, através do texto que apresentamos a seguir:

"Daniel ficou na sua sorte para dar seu testemunho, que foi selado até o tempo do fim, quando deveria ser proclamada ao mundo a mensagem do primeiro anjo."

(Testemunhos para Ministros Pág. 115 / Review and Herald, 18 de fevereiro de 1890) (ênfase suprida, grifos acrescentados)

Portanto, já em 1890, os pioneiros do movimento adventista sabiam que o "tempo do fim" se havia iniciado pouco antes de 1844, e portanto a profecia de Daniel 12 já poderia ser compreendida.

Portanto, se os blocos 1 e 2 já eram compreendidos em 1888 e 1890 respectivamente, a afirmação da revelação sobre Daniel 12 feita em 1903 só poderia estar se referindo ao bloco 3, que abrange os períodos de tempo de Daniel 12. Assim, ao lermos a declaração:

"Leiamos e estudemos o capítulo doze de Daniel. Ele é uma advertência que todos nós precisamos compreender antes do tempo de angústia."

(Eventos Finais, Pág. 15 / Manuscript Releases Vol. 15 Pág. 228 " Ano 1903)" (ênfase suprida)

entendemos que a revelação está informando que, em 1903, os períodos de tempo não eram compreendidos e precisava-se entender o seu significado antes de se iniciar o "tempo de angústia". Lembremo-nos que Daniel 12 apresenta três períodos de tempo:

-         "um tempo, dois tempos e metade de um tempo", verso 7;

-         1290 dias, verso 11;

-         1335 dias, verso 12.

Assim, se em 1903 a revelação afirmou que era preciso compreender estes períodos de tempo antes do "tempo de angústia", podemos extrair deste raciocínio duas afirmações:

1        - Em 1903 os períodos de tempo ainda não estavam cumpridos.

Isto porque toda a profecia é dada por Deus para que seus servos a compreendam antes do seu cumprimento. Para que isto se torne claro, apresentamos um exemplo prático. Imaginemos que você morasse na encosta de uma montanha vulcânica, e houvesse uma profecia que afirmasse que o vulcão desta montanha entraria em erupção às 12:00 de segunda-feira. A profecia ainda afirmava que, caso você não partisse do local com no mínimo 24 horas de antecedência, você seria tragado pelas toneladas de lava que sairiam do vulcão e morreria. Suponhamos que você entendesse a profecia segunda-feira, às 12:05, logo após se iniciar a erupção do vulcão, conforme a profecia havia predito, e ainda estivesse dentro de sua casa. Para que serviria a profecia? Apenas para confirmar que você morreria em poucas horas, tragado pela lava quente. Entretanto, caso você tivesse entendido a profecia a tempo e atendido à sua recomendação, fugindo um dia antes, no domingo às 10:00 - por exemplo, você teria sido salvo por ter atendido à recomendação da profecia. Assim, a profecia é útil para os que a compreendem antes do seu cumprimento.

Se a profecia é útil para os que a compreendem antes do seu cumprimento, o fato de a revelação ter afirmado que os adventistas precisariam compreender Daniel 12 antes do "tempo de angústia" em 1903, significa que os períodos de tempo de Daniel 12 ainda não eram compreendidos.

2        - Os períodos de tempo estão relacionados com o "tempo de angústia".

Se a revelação afirma que os períodos de tempo de Daniel 12 precisavam ser compreendidos antes do "tempo de angústia", isto significa que os períodos de tempo estão de alguma forma relacionados com o "tempo de angústia".

Se os períodos de tempo não estavam cumpridos até 1903, e estavam relacionados com o "tempo de angústia", certamente eles iriam se cumprir em um tempo para frente de 1903 (quando ela escreveu esta afirmação), uma vez que Ellen G. White afirmou que os períodos de tempo de Daniel 12 precisariam ser compreendidos antes do "tempo de angústia", apontando para um tempo futuro.

4.1 - Uma luz sobre o santuário celestial

Através do estudo do ministério de Jesus no santuário celestial, podemos compreender claramente o tempo no qual se desenrolam os acontecimentos e os períodos de tempo de Daniel 12.

Segundo a Bíblia apresenta no livro de Hebreus, santuário celestial é o verdadeiro tabernáculo, do qual o santuário construído na Terra pelo povo de Israel era somente uma "maquete", ou seja, o santuário da Terra era um modelo do verdadeiro santuário que existe no Céu:

"1 Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote (Jesus), que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus,

2 como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem."

(Hebreus 8:1,2) (ênfase suprida, grifos acrescentados)

Assim, tudo o que acontecia no santuário da Terra, era um modelo do que acontecia no santuário do Céu. Se um determinado ritual era executado na Terra, isto significava que este mesmo ritual era executado no Céu. Em outras palavras, o santuário terrestre dado por Deus ao povo de Israel e os rituais nele praticados exemplificavam as cenas reais que ocorreriam no santuário celestial ao longo dos séculos, e que desempenhariam um papel fundamental no plano elaborado por Deus para a salvação do homem.

A profecia de Daniel 12 faz referência ao santuário celestial, quando menciona o "homem vestido de linho" no verso 7.  Assim, para compreendermos claramente Daniel 12, precisamos determinar com exatidão o que esta expressão significa. Vamos então estudar sucintamente o significado dos objetos e das cerimônias do santuário terrestre, e comparar com os eventos que descrevem as cenas do santuário celestial, apresentados na Bíblia. Isto nos ajudará no entendimento de Daniel 12.

O santuário usado pelo povo de Israel foi dado a Moisés por Deus no monte Sinai, de acordo com o relato de Êxodo capítulos 25 a 31. Era constituído de três partes:

-         Átrio Exterior;

-         Lugar Santo: onde ficavam o candelabro com sete castiçais de ouro, a mesa com doze pães, chamados de pães da proposição e o altar de incenso;

-         Lugar Santíssimo: onde se localizava a arca da aliança, sobre a qual estava o "shekiná", a glória de Deus.

O santuário possuia dois rituais que são objeto de nosso interesse para posterior compreensão da profecia de Daniel 12 " as ofertas contínuas e o dia da expiação.

As ofertas contínuas (Êxodo 29: 38-45) consistiam-se de dois sacrifícios de cordeiro feitos diariamente. Um Cordeiro era sacrificado pela manhã e outro era sacrificado à tarde. Através destes sacrifícios o povo de Israel era diariamente consagrado ao Senhor, e lembrava-se de que um dia, Jesus, o Cordeiro de Deus, viria à Terra e morreria pelos pecados dos homens. Além das ofertas contínuas, eram realizados outros sacrifícios diariamente para a oferta pelo pecado. Nestes sacrifícios, os pecados eram simbolicamente passados para o animal quando o pecador colocava sua mão sobre sua cabeça. O animal era então morto pelo pecador, representando a Cristo, que um dia viria morrer pelos seus pecados. O sangue do animal era tomado em um recipiente, levado para dentro do compartimento santo do santuário pelo sacerdote, e aspergido na cortina que dividia o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo do santuário celestial, que também é chamada na Bíblia de "segundo véu". Através deste procedimento, os pecados perdoados ficavam simbolicamente depositados dentro do santuário.

Assim, a cada dia, o santuário acumulava mais e mais pecados perdoados, representados pelas porções de sangue aspergidas diariamente no segundo véu do santuário.

Deus instruiu a Moisés que somente homens dedicados aos serviços sagrados, chamados de sacerdotes, deveriam executar os serviços do santuário. Dentre os sacerdotes, um homem era escolhido por Deus para ser o sacerdote principal, ou Sumo Sacerdote (vide Êxodo capítulo 28). O primeiro Sumo Sacerdote escolhido por Deus para oficiar no santuário terrestre foi Arão, o irmão de Moisés (vide Números capítulos 16 e 17). Os sacerdotes realizavam diariamente os serviços referentes aos sacrifícios pelos pecados do povo, enquanto o Sumo Sacerdote tinha a principal obra de realizar os serviços do Dia da Expiação.

Existia também uma diferença marcante entre a vestimenta dos sacerdotes comuns e a vestimenta do sumo sacerdote. A vestimenta dos sacerdotes comuns era uma túnica branca de linho amarrada com um cinto na altura da cintura, juntamente com uma espécie de turbante, chamada de mitra, sobre a cabeça, também feita de linho branco. Já o sumo sacerdote possuía duas vestimentas diferentes. A vestimenta mais comum, com a qual ele oficiava todos os dias era composta de uma túnica branca, coberta por uma estola azul, (vide Êxodo capítulo 28). Sobre a estola estava um peitoral de ouro, que continha doze pedras. A vestimenta possuía também uma mitra para a cabeça, feita de fios de linho branco. A segunda vestimenta, chamada de "veste sagrada de linho", era utilizada somente para oficiar no Dia da Expiação. O texto de Levítico 16 comprova isto:

"O Dia da Expiação

2 Então disse o Senhor a Moisés: Dize a Arão, teu irmão, que não entre no santuário em todo o tempo, para dentro do véu, diante do propiciatório que está sobre a arca, para que não morra; porque aparecerei na nuvem sobre o propiciatório.

3 Entrará Arão no santuário com isto: um novilho, para a oferta pelo pecado, e um carneiro, para holocausto.

4 Vestirá ele a túnica de linho, sagrada, terá as calças de linho sobre a pele, cingir-se-á com o cinto de linho e se cobrirá com a mitra de linho; são estas as vestes sagradas. Banhará o seu corpo em água e, então, as vestirá

32 Quem for ungido e consagrado para oficiar como sacerdote no lugar de seu pai fará a expiação, havendo posto as vestes de linho, as vestes santas;

33 fará expiação pelo santuário, pela tenda da congregação e pelo altar; também a fará pelos sacerdotes e por todo o povo da congregação."

(Levítico 16:2-4, 32, 33) (ênfase suprida, grifos acrescentados)

Ao décimo dia do sétimo mês do calendário judaico, era realizada a cerimônia do Dia da Expiação. Nela o santuário seria simbolicamente limpo, ou "purificado" de todos os pecados que tinham sido nele acumulados durante o ano. Todo o povo deveria estar preparado para esta cerimônia, que era a mais solene dentre todos os serviços do santuário. Esta cerimônia era realizada somente pelo Sumo Sacerdote. Ele sacrificava um novilho pelos seu pecados e pelos pecados de sua casa (família), e aspergia o sangue da oferta sobre o propiciatório, localizado acima da arca, no Lugar Santíssimo do santuário. Depois, sacrificava um bode pelos pecados do povo de Israel e também aspergia o sangue da oferta sobre  propiciatório. Finalmente, tomava do sangue das duas ofertas (do novilho e do bode), os misturava os passava sobre os chifres do altar, para purificar o santuário dos pecados acumulados durante o ano. Após isto, o Sumo Sacerdote colocava a mão sobre um outro bode, que era chamado "bode expiatório", transferindo assim, simbolicamente, os pecados retirados do santuário para o animal, que era levado para o deserto. Através desta cerimônia o santuário era simbolicamente purificado.

Para oficiar a cerimônia do Dia da Expiação, o sacerdote deveria trajar as "vestes sagradas de linho", que vimos a pouco.

 

Comparativo entre o santuário de Israel e o santuário celestial

Agora que explicamos sucintamente as cerimônias diárias e a cerimônia do Dia da Expiação do santuário terrestre, vamos compará-las com o santuário celestial a fim de compreendermos o significado da expressão "homem vestido de linho", existente em Daniel 12.

No santuário terrestre, o sacerdote comum (não o sumo sacerdote) usava vestimentas de linho para realizar o holocausto. No simbolismo do santuário terrestre, o holocausto significava o sacrifício de Cristo. No santuário celestial, o holocausto não existe, pois o sacrifício real já foi realizado através por Cristo no calvário. Jesus Cristo é o verdadeiro Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Então a obra realizada diariamente pelos sacerdotes no santuário terrestre foi realizada por Jesus Cristo quando Ele estava aqui na Terra, ao morrer por nós, como o verdadeiro Cordeiro. Após ascender ao Céu, Jesus passou a oficiar como Sumo Sacerdote no santuário celestial, segundo está escrito em Hebreus capítulos 7 e 8:

"22 Por isso mesmo, Jesus se tem tornado fiador de superior aliança.

23 Ora, aqueles (os sacerdotes de Israel antigo) são feitos em maior número, porque são impedidos pela morte de continuar;

24 este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável.

25 Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.

26 Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus,

27 que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo, porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu.

28 Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à fraqueza, mas a palavra do juramento, que foi posterior à lei, constitui o Filho, perfeito para sempre."

(Hebreus 7:22-28) (ênfase suprida, grifos acrescentados)

"1 Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote (Jesus), que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus,

2 como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem.

(Hebreus 8:1,2 " Bíblia de Estudo Almeida " 1999)" (ênfase suprida)

O Sumo Sacerdote, no santuário terrestre, possuía uma vestimenta diferente da do sacerdote comum. A vestimenta do Sumo Sacerdote era composta por uma túnica bordada, coberta por uma estola sacerdotal. Por cima da estola sacerdotal estava um peitoral, contendo doze pedras com os doze nomes das tribos de Israel. Com esta vestimenta o sumo sacerdote ministrava diariamente, no compartimento Santo do santuário terrestre. O sumo sacerdote só poderia entrar no compartimento Santíssimo do santuário terrestre no Dia da Expiação, conforme veremos mais adiante.

No santuário celestial, a exemplo do que acontecia no santuário terrestre, Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, ministrou no compartimento santo, conforme descreve o apóstolo João em Apocalipse 1:12-15:

"12 Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro

13 e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho de homem, com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro.

14 A sua cabeça e cabelos eram brancos como a alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo;

15 os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz, como voz de muitas águas.

(Apocalipse 1:12-15)" (ênfase suprida)

                                                

O apóstolo João viu em visão a Jesus, nosso sumo sacerdote, glorificado, ao lado dos candeeiros de ouro no santuário celestial. Os candeeiros de ouro do santuário celestial eram representados no santuário terrestre pelo candelabro, que se encontrava no lugar santo. Portanto, Jesus estava no compartimento Santo do santuário celestial. Jesus estava trajando a veste utilizada para oficiar no serviço diário, pois vestia "vestes talares". Vestes talares também significa "vestes coloridas". O livro de Gênesis nos conta que Jacó fez uma túnica "talar" (vide Gênesis 37:3 " Tradução João Ferreira de Almeida revista e Atualizada). Em outras versões da Bíblia, esta túnica é apresentada como sendo uma túnica de diversas cores. Assim, o Apocalipse mostra que o traje utilizado por Jesus, nosso Sumo Sacerdote, quando visto por João no Apocalipse junto ao candelabro, no compartimento Santo do Santuário celestial, era de várias cores, tal qual o era o traje do Sumo Sacerdote terrestre durante quase todos os dias do ano.

Na visão de Apocalipse, ainda não havia se iniciado o período de tempo correspondente ao dia da expiação no santuário celestial, pois quando isto ocorresse, Jesus sairia do compartimento Santo e iria para o compartimento Santíssimo do santuário celestial.

No Dia da Expiação do santuário terrestre, o Sumo Sacerdote terrestre depunha suas vestes talares e utilizava as "vestes sagradas de linho", para realizar o serviço de expiação pelo povo de Israel. O mesmo deveria ocorrer no santuário celestial. Ao iniciar-se o período de tempo correspondente ao Dia da Expiação no santuário celestial, Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, colocaria as "vestes sagradas de linho", e então entraria no compartimento Santíssimo do santuário celestial. A partir de então, iniciaria-se a purificação do santuário celestial, também chamada de "Juízo Investigativo". Jesus permanecerá com as vestes sagradas de linho até ao final do "Juízo Investigativo".

O texto da lição do professor da Escola Sabatina da IASD " trimestre Abril-Junho 2002, do dia 5 de Maio de 2002, citando o texto do livro "Segredos de Daniel", de Jacques Doukhan, reafirma isto:

"A atmosfera do livro de Levítico é ainda mais percebida nas ações do chifre pequeno, que envolve o "sacrifício diário", o "pecado" e o "santuário". Dan. 8:11 e 12. A passagem até menciona o mais elevado oficiante do sistema sacrifical, o sumo sacerdote. A palavra hebraica traduzida como "Príncipe" ou "Príncipe dos príncipes" (sar; versos 11 e 25) é o termo técnico que designava os sumos sacerdotes. Esdras 8:24. No livro de Daniel, a palavra se refere a Miguel (Dan. 10:5,13 e 21; 12:1) que está vestido de roupas de linho como o sumo sacerdote oficiando no dia de Kippur. Lev. 16:4."

(Lição da Escola Sabatina IASD, 5 de maio, Pág. 66 / Segredos de Daniel " Autor: Jacques Doukhan - Págs.125 e 126)

Sabemos que foi Jesus, o "Verbo de Deus" [João 1:1] quem inspirou os profetas a escreverem os livros da Bíblia, que compõem o cânon sagrado. Jesus é chamado de o "Verbo" de Deus, não por acaso, mas porque Ele possui uma habilidade extrema de usar a palavra, pois Ele conhece a linguagem do Céu, muito mais perfeita que a linguagem do homem, imperfeita, imprecisa e falha. Assim, entendemos que, cada vez que a Bíblia apresenta uma palavra, e não o seu sinônimo, para representar alguém ou alguma coisa, isto significa que esta palavra possui um significado especial, que a conecta com outros versos da Bíblia de modo a permitir que o homem entenda as verdades maravilhosas que Deus possui para nos revelar. Podemos entender isto mais claramente ao verificarmos os diferentes nomes apresentados pela Bíblia representando a Jesus. Apresentamos alguns deles:

-         Emanuel, que significa "Deus conosco" [Mateus 1:23];

-         Miguel, exemplificando Jesus quando em batalha contra Satanás e suas hostes [Apocalipse 12:7];

-         Cristo [Apocalipse 12:10];

-         Cordeiro de Deus, apresentando Jesus como o tipo do sistema sacrifical judaico [João 1:29];

-         Homem vestido de linho, enfatizando a vestimenta de Jesus Cristo no santuário celestial e conectando o texto com o serviço sacerdotal do "Dia da Expiação" [Daniel 10:5,6].

Cada vez que a Bíblia apresenta a Jesus com um determinado nome, não o faz por acaso. O nome dado a Jesus nas diferentes situações ajuda-nos a compreendermos melhor cada texto que estamos lendo, e conectá-lo com outras passagens da Bíblia, para que compreendamos o seu correto significado.

Vimos a pouco que Apocalipse 1:12-17 apresenta Jesus no compartimento Santo do santuário celestial, vestido de vestes talares. Em Daniel 10:5,6, Jesus é descrito como o "homem vestido de linho":

"5 levantei os olhos e olhei, e eis um homem vestido de linho, cujos ombros estavam cingidos de ouro puro de Ufaz,

6 o seu corpo era como o berilo, o seu rosto, como um relâmpago, os seus olhos, como tochas de fogo, os seus braços e os seus pés brilhavam como bronze polido; e a voz de suas palavras era como o estrondo de muita gente."

(Daniel 10:5,6)" (ênfase suprida)

A descrição de Daniel 10:5,6 enfatiza a vestimenta de Jesus. Naturalmente, a Bíblia não o faz por acaso. Ela enfatiza que Ele está trajando as "vestes sagradas de linho", utilizadas no Dia da Expiação. Enquanto Apocalipse descreve a Jesus no lugar Santo do santuário celestial, Daniel descreve Jesus, nosso Sumo Sacerdote, trajando as "vestes sagradas de linho", utilizadas no Dia da Expiação do santuário celestial.

Assim, concluímos que:

-         Na visão de Apocalipse, o apóstolo João viu Jesus antes do dia da expiação no santuário celestial, ministrando no compartimento Santo, ao lado dos candeeiros de ouro (Apoc. 1:12);

-         O profeta Daniel viu Jesus no período correspondente ao Dia da Expiação no santuário celestial (pois já estava trajado com as "vestes sagradas de linho", utilizadas apenas no Dia da Expiação), portanto ministrando no compartimento Santíssimo do santuário celestial (Daniel 10:5).

O estudo da profecia das 2300 tardes e manhãs nos mostra que o Dia da Expiação no santuário celestial iniciou-se em no mês de outubro do ano de 1844. Decorre então que o Dia da Expiação no santuário celestial corresponde ao período de tempo que se inicia em 1844 e se estende até os nossos dias. Assim, se a expressão "homem vestido de linho" representa a Jesus Cristo oficiando no Dia da Expiação do santuário celestial (que se iniciou em 1844), ela também representa a Jesus em um tempo posterior a 1844. Repetiremos este conceito para enfatizá-lo, pois ele é de importância fundamental para a compreensão da profecia de Daniel 12:

Quando a Bíblia apresenta Jesus como homem vestido de linho, este representa a Jesus, nosso sumo sacerdote, estando em um tempo de 1844 para frente. Isto porque o Dia da Expiação do santuário celestial se iniciou em 1844.

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