O Adventismo do Sétimo Dia é um movimento religioso verdadeiramente singular, pois o tempo de seu surgimento estava previamente definido nas Escrituras. Assim como outras denominações religiosas, o Adventismo integra o ramo protestante do Cristianismo, mas dele se distingue por sua dimensão profética, vez que é um movimento surgido no tempo predeterminado e com uma mensagem acerca do tempo: "Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a HORA do Seu juízo." (Ap 14:7).

De fato, foi a compreensão da cronologia profética das Escrituras, especialmente a de Daniel 8:14 e 9:24-27, que fez do Adventismo do Sétimo Dia o que ele é atualmente, e sua existência só se justifica devido à missão que lhe foi outorgada: alertar o mundo sobre o tempo solene que se inaugurou na manhã de 23 de outubro de 1844, quando o fazendeiro Hiram Edson contemplou num êxtase Jesus Cristo entrando no Santo dos Santos do Santuário Celestial, a fim de selecionar os súditos de Seu Novo Reino, receber a Cidade Santa como Sua capital e então regressar.

Alguns acreditam que Deus teria suscitado a Igreja Adventista apenas para restabelecer o Sábado à sua dignidade original. Mas, nesse caso, não haveria necessidade de um novo movimento religioso, pois os batistas do sétimo dia ou mesmo os judeus poderiam ter-se incumbido da tarefa.

Assim também, se fosse apenas para promover um viver mais saudável, Deus poderia ter Se servido de outras denominações, já que os adventistas não são os únicos a valorizar a saúde como aspecto importante da prática religiosa. Embora com preocupações e orientações diferentes, os judeus, os muçulmanos e os mórmons também possuem suas regras dietéticas. O vegetarianismo tem sido advogado por um número cada vez maior de pessoas, inclusive por aquelas que não tem qualquer apreço pela Bíblia ou pela cultura judaico-cristã.

Também não haveria necessidade do Adventismo para que erros populares como a imortalidade da alma e o tormento eterno fossem denunciados, visto existirem outros segmentos cristãos que aceitam o estado inconsciente dos mortos e focalizam sua esperança na ressurreição.

Com efeito, o Adventismo foi chamado para uma missão particularmente especial: proclamar que o tempo profético havia expirado. E, nesse aspecto, o Adventismo guarda um paralelo com a pregação de Cristo e dos apóstolos:

"A nota predominante da pregação de Cristo, era: *"*O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho.*"* Mar. 1:15. Assim a mensagem evangélica, segundo era anunciada pelo próprio Salvador, baseava-se nas profecias. O *"*tempo*"* que declarava estar cumprido, era o período de que o anjo Gabriel falara a Daniel." (grifo nosso)1

"O próprio Cristo os enviara com a mensagem: *"*O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.*"* Mar. 1:15. Aquela mensagem era baseada na profecia de Daniel 9." (grifo nosso)2

"Cristo viera no tempo exato, e da maneira predita na profecia. O testemunho das Escrituras fora cumprido em todos os detalhes de Seu ministério." (grifo nosso)3

"O que os discípulos haviam anunciado em nome do Senhor, era correto em todos os pormenores, e os acontecimentos preditos estavam mesmo então a ocorrer. *"*O tempo está cumprido, o reino de Deus está próximo*"* - havia sido a sua mensagem. À terminação do *"*tempo*"* - as sessenta e nove semanas de Daniel 9, as quais se deveriam estender até ao Messias, *"*o Ungido*"* - Cristo recebera a unção do Espírito, depois de batizado por João, no Jordão. E *"*o reino de Deus*"*, que eles declararam estar próximo, foi estabelecido pela morte de Cristo." (grifo nosso)4

"A experiência dos discípulos que pregaram *"*o evangelho do reino*"* no primeiro advento de Cristo, teve seu PARALELO na experiência dos que proclamaram a mensagem de Seu segundo advento. Assim como saíram os discípulos a pregar: *"*O tempo está cumprido, o reino de Deus está próximo*"*, Miller e seus companheiros proclamaram que o período profético mais longo e o último apresentado na Bíblia estava a ponto de terminar, que o juízo estava próximo, e que deveria ser inaugurado o reino eterno. A pregação dos discípulos com relação ao tempo, baseava-se nas setenta semanas de Daniel 9. A mensagem apresentada por Miller e seus companheiros anunciava a terminação dos 2.300 dias de Daniel 8:14, dos quais as setenta semanas fazem parte. Cada uma dessas pregações se baseava no cumprimento de uma porção diversa do mesmo grande período profético." (grifo nosso)5

O Novo Testamento é enfático quanto à existência de um cronograma profético relacionado ao ministério de Cristo. Parte desse cronograma encontra-se na profecia das 70 semanas e parte, no calendário festivo de Israel.

O apóstolo Paulo declara que o nascimento de Jesus ocorreu no tempo marcado pelo Céu, pois vindo "a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gl 4:4). Embora as 70 semanas não anunciassem explicitamente a data do nascimento de Cristo, isto era feito indiretamente ao se revelar a data de Sua manifestação pública (no batismo), pois o costume da época era que os mestres religiosos começassem seu ofício aos 30 anos de idade. Bastava retroceder 30 anos desde a data prevista para o aparecimento do Messias e seria possível determinar o tempo de Seu nascimento na Terra.

A proclamação feita por Cristo no início de Seu ministério evidencia Sua consciência do término das 69 semanas proféticas naquela ocasião: "Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependeivos e crede no evangelho." (Mc 1:14 e 15; cf. também os versos 12 e 13).

A rigor, cada atividade a ser desenvolvida no ministério do Redentor tinha seu momento certo nos planos de Deus. Quando Maria pediu que Jesus operasse um milagre nas bodas de Caná, Ele de pronto respondeu: "Mulher, que tenho Eu contigo? Ainda não é chegada a Minha hora." (Jo 2:4).

O momento certo para Jesus aparecer publicamente em Jerusalém, palco de Sua paixão e morte, também já estava determinado no grande esquema divino. Quando Seus irmãos insistiram para que Ele fosse a Jerusalém e operasse lá os Seus milagres, Sua resposta foi enfática: "O Meu tempo ainda não chegou, mas o vosso sempre está presente." "Subi vós outros à festa; Eu, por enquanto, não subo, porque o Meu tempo ainda não está cumprido." (Jo 7:6 e 8).

Porém, "ao se completarem os dias em que devia Ele ser assunto ao céu, manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém." (Lc 9:51). A entrada triunfal ocorreu no ano marcado para o meio da septuagésima semana, exatamente no dia em que o cordeiro pascal era separado para o sacrifício (o décimo dia do primeiro mês judaico).

A existência de um cronograma profético é indicada também como a razão pela qual os judeus falharam várias vezes em suas tentativas de prender a Jesus:

"Então, procuravam prendê-lO; mas ninguém Lhe pôs a mão, porque ainda não era chegada a Sua hora." (Jo 7:30).

"Proferiu Ele estas palavras no lugar do gazofilácio, quando ensinava no templo; e ninguém O prendeu, porque não era ainda chegada a Sua hora." (Jo 8:20).

Mas, ao aproximar-se o tempo de Seu sofrimento, Jesus assim Se expressou: "À chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem." "Agora, está angustiada a Minha alma, e que direi Eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora." (Jo 12:23 e 27).

Também havia um prazo para Cristo ascender ao Céu:

"Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim." (Jo 13:1).

De fato, a ascensão de Cristo fazia parte de um esquema muito bem estruturado e perfeitamente tipificado nas sete semanas que antecediam o Pentecoste e na semana estipulada pela Lei Mosaica para a consagração dos sacerdotes.

Por fim, na noite da Última Ceia, ao dirigir-Se ao monte das Oliveiras, no qual deveria passar pelas tenebrosas horas do Getsêmani, Jesus "levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a Teu Filho, para que o Filho Te glorifique a Ti." (Jo 17:1). Aquele foi matematicamente o meio da septuagésima semana.

Sim, tudo na missão de Cristo pertencia a um momento determinado. Cada etapa de Seu ministério se cumpriu em perfeito sincronismo com o relógio de Deus, o que inspirou o autor de Hebreus a declarar que, "ao se cumprirem os tempos", Ele "Se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de Si mesmo, o pecado." (Hb 9:26).

Ao expirar no Gólgota, Jesus venceu a Satanás de uma vez por todas, resgatando, por meio de Seu sangue, nosso mundo para Deus. Era a isso que Ele Se referia quando anunciou: "Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso." (Jo 12:31). Ver Colossenses 2:13-15.

Isso nos ajuda a entender melhor o protesto dos endemoninhados de Gadara: "Que temos nós contigo, ó Filho de Deus! Vieste aqui atormentarnos antes de tempo?" (Mt 8:29).

Quão preciosa é a Cruz do Calvário para todo filho de Deus! Foi ali que o Deus feito homem redimiu a Humanidade do cativeiro do pecado, abrindo-lhe os portais da salvação. No momento certo, Ele interveio; ou, como escreveu Paulo, "Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a Seu tempo pelos ímpios." (Rm 5:6).

Outras referências relevantes sobre o aspecto cronológico em relação ao ministério de Jesus podem ser encontradas nos seguintes textos: Mateus 26:18 e 45; Marcos 14:35 e 41; Lucas 22:53; João 4:21 e 23; 5:25; 16:21, 25 e 32; Romanos 3:26; 1 Timóteo 2:6; Tito 1:3.

Embora estivesse patente que a mensagem de Cristo cumpria as especificações da profecia, não somente quanto ao seu conteúdo, mas também quanto ao tempo de sua proclamação, os líderes judaicos ainda assim a rejeitaram. Tentaram estabelecer outras datas para o início e o fim das 70 semanas, com o intuito de desviar a atenção de seu cumprimento em Jesus, e, por fim, chegaram a lançar uma maldição sobre quem tentasse calcular o tempo:

"A profecia de Daniel apontava tão insofismavelmente para o tempo da vinda do Messias, e tão diretamente lhes predizia Sua morte, que eles desanimavam o estudo dessa profecia, e finalmente os rabis pronunciaram a maldição sobre todos os que tentassem uma contagem do tempo." (grifo nosso)6

A maldição proferida pelos rabis a que Ellen G. White se refere encontra-se no Tratado do Sinédrio 97b, do Talmude Babilônico, onde se lê:

"R. Samuel b. Nahmani disse em nome de R. Jonathan: *"*Malditos sejam os ossos daqueles que calcularem o fim."

A alusão é ao "fim" dos períodos proféticos que indicavam o tempo da vinda do Messias, porque o texto prossegue:

"Pois eles diriam, desde que o tempo predeterminado chegou, e ainda Ele não veio, Ele nunca virá. Mas [ainda assim], espere-O, como está escrito. Embora Ele tarde, espere-O." (tradução e grifo nossos)7

Isso revela que os rabis estavam cientes de que o tempo profético havia expirado.8

Quanto ao período maior das 2.300 tardes e manhãs, com seu início no outono de 457 a.C. e término no outono de 1844 d.C., Ellen G. White declara:

"A pregação de um tempo definido para o juízo, na proclamação da primeira mensagem, foi ordenada por Deus. O cômputo dos períodos proféticos nos quais se baseava aquela mensagem, localizando o final dos 2.300 dias no outono de 1844, paira acima de qualquer contestação." (tradução e grifo nossos)9

Mas, assim como os rabis procederam no passado, também em nossos dias há quem tente encontrar diferentes eventos e datas para o início e o fim das 2.300 tardes e manhãs, principalmente conectando-os à perseguição promovida sob o rei sírio Antíoco IV Epifânio. Ellen G. White adverte:

"Os repetidos esforços por encontrar novas datas para o começo e fim dos períodos proféticos, e o raciocínio falaz necessário para apoiar este modo de ver, não somente transviam da verdade presente os espíritos, mas lançam o opróbrio sobre todos os esforços para se explicarem as profecias." (tradução nossa)10

Hoje alguns adventistas acreditam que os aspectos cronológicos de nossa mensagem são apenas resquícios do passado millerita, os quais merecem ser relegados ao esquecimento. Julgam como coisa de nenhuma importância qualquer discussão sobre períodos proféticos ou cronologia bíblica. Acreditam ser impossível obter a certeza histórica das datas que advogamos em nosso sistema doutrinário e que 1844 só tem alguma relevância por ser a data em que teria ficado provado o erro de se dar atenção a esquemas proféticos ou coisas do gênero.

Mas, longe de estarem corretas essas opiniões, a verdade é que na cronologia profética das Escrituras reside o firme fundamento da fé adventista. Se, por um lado, o abandono dessa herança e desse alicerce é capaz de provocar o abalo do Adventismo, para usar a linguagem de Geoffrey J. Paxton11, a comprovação final do cálculo profético que conduz a 1844 representará seu triunfo e sua glória.

A "glória" a que nos referimos aqui não decorre de uma suposta perspectiva de salvação exclusiva, crença que definitivamente não alimentamos, pois "Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que O teme e faz o que é justo Lhe é agradável" (At 10:34 e 35). Não obstante, cremos que o Adventismo foi incumbido de uma missão peculiar, de cujo cumprimento seus membros serão chamados a prestar contas muito em breve. Tal convicção está alicerçada nas profecias bíblicas que apontavam para o tempo específico de seu surgimento. A "glória do Adventismo" provém da capacidade que temos atualmente de aferir, com inédito grau de exatidão matemática, o cumprimento dessas antigas profecias.

Em A Astronomia e a Glória do Adventismo, você terá a maravilhosa surpresa de descobrir que a Ciência, especialmente a ciência astronômica, pode ser um poderoso instrumento na vindicação do Adventismo como sistema doutrinário válido. Você descobrirá que as "ordenançasdos céus" (Jó 38:33) são capazes de determinar a data exata da morte de Cristo, na qual está ancorada nossa data mais importante, 1844, de modo que a confirmação de Jesus como o "Ungido" da profecia bíblica pode também proporcionar a certeza de que a mensagem que temos proclamado é verdadeira, e que não temos seguido "fábulas engenhosamente inventadas" (2Pe 1:16).

Enfim, a leitura deste livro proporcionará uma nova dimensão das palavras inspiradas do salmista: "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das Suas mãos." (Sl 19:1). Promover a glória do Adventismo e de seu Divino Autor é nosso principal objetivo.

 

1 Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, 19ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,1995), 233.

2 Id., O Grande Conflito, 36ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), 345. 3 Ibid., 346.

4 Ellen G. White, O Grande Conflito, 346.

5 Ibid., 351.

6 Ellen G. White, O Grande Conflito, 378.

7 Disponível em: <http://www.come-and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_97.html>, acesso em: 01 mar. 2007.

8 "*"*Em 1656, ocorreu uma disputa na Polônia entre alguns notáveis eruditos judeus e os católicos, a respeito das 70 semanas. Os rabinos foram tão fortemente pressionados pelo argumento que provava a messianidade de Jesus, o tempo do Seu sofrimento e o fim das 70 semanas, que interromperam a discussão. Reuniram-se então eles a sós e laçaram uma maldição sobre qualquer judeu que procurasse averiguar a cronologia do período profético. Eis o seu anátema: *"*Que os ossos e memória do que tentar aferir as 70 semanas apodreçam*"*. - The Midnight Cry, 10 de agosto de 1843." Roy Allan Anderson, Revelações do Apocalipse, 5ª ed. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), 116.

9 Ellen G. White, The Great Controversy, 457, disponível em: <www.whiteestate.org>, acesso em: 01 mar. 2007.

10 Ellen G. White, The Great Controversy, 457.

11 O Abalo do Adventismo (Rio de Janeiro, RJ: Juerp, 1987) é o livro do pastor anglicano Geoffrey J. Paxton, que analisa os desafios com que a Igreja Adventista tem-se deparado desde meados dos anos 50. Trata da tensão existente entre a importância de preservarmos nossas marcas distintivas e a necessidade de evoluirmos no pensamento teológico.

 

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