Paulo e seus companheiros continuaram viagem para Perge, na Panfília. Seu caminho era penoso; encontraram dificuldades e privações, e estavam cercados de perigos por todos os lados. Nas vilas e cidades por onde passavam, e ao longo das estradas desertas, estavam rodeados de perigos visíveis e invisíveis. Mas Paulo e Barnabé tinham aprendido a confiar no poder libertador de Deus. O coração deles estava cheio de fervente amor pelas almas a perecer. Como fiéis pastores na busca da ovelha perdida, não abrigavam o pensamento de facilidades ou conveniências próprias. Esquecidos de si mesmos, não fraquejavam quando cansados, famintos ou com frio. Eles tinham em vista um único objetivo - a salvação dos que vagueavam distantes do redil.
    Foi aqui que Marcos, dominado por temor e desânimo, hesitou por um momento em seu propósito de consagrar-se de todo o coração à obra do Senhor. Pouco habituado a sacrifícios, desanimaram-no os perigos e privações do caminho. Trabalhara com êxito sob circunstâncias favoráveis, mas agora, em meio da oposição e dos perigos que tantas vezes cercam o missionário pioneiro, não suportou as dificuldades como bom soldado da cruz. Devia aprender ainda a enfrentar valorosamente os perigos, perseguições e adversidades. À medida que os apóstolos avançavam, encontrando dificuldades cada vez maiores, Marcos intimidou-se, e perdendo todo o ânimo, recusou-se a prosseguir, retornando a Jerusalém.
    Esta deserção fez com que Paulo julgasse por algum tempo desfavoravelmente a Marcos; severamente mesmo. Por outro lado, Barnabé se inclinava a desculpá-lo devido a sua inexperiência. Estava ansioso por que Marcos não abandonasse o ministério, pois nele via qualidades que o habilitariam para ser útil obreiro de Cristo. Anos depois sua solicitude por Marcos foi ricamente recompensada; pois o jovem se entregou sem reservas ao Senhor e à tarefa de proclamar a mensagem do evangelho em campos difíceis. Sob a bênção de Deus e a sábia orientação de Barnabé, ele se tornou um valoroso obreiro.
Paulo se reconciliou mais tarde com Marcos, recebendo-o como colaborador. Recomendou-o também aos colossenses, como "cooperador no reino de Deus" e como tendo para ele "sido consolação". Col. 4:11. Não muito tempo antes de sua morte, Paulo tornou a falar de Marcos como lhe sendo "muito útil para o ministério". II Tim. 4:11.
    Depois da partida de Marcos, Paulo e Barnabé visitaram Antioquia da Pisídia, e no sábado entraram na sinagoga judaica e se assentaram. "E, depois da lição da lei e dos profetas, lhes mandaram dizer os principais da sinagoga: varões irmãos, se tendes alguma palavra de consolação para o povo, falai." Convidado para falar, levantou-se "Paulo, e pedindo silêncio com a mão, disse: Varões israelitas, e os que temeis a Deus, ouvi". Seguiu-se então um maravilhoso discurso. Ele começou por historiar a maneira como o Senhor havia tratado com os judeus desde o tempo de seu libertamento do cativeiro egípcio, e como fora prometido um Salvador, da semente de Davi. E ousadamente declarou que "da descendência deste, conforme a promessa, levantou Deus a Jesus para Salvador de Israel; tendo primeiramente João, antes da vinda dEle, pregado a todo o povo de Israel o batismo do arrependimento. Mas João, quando completava a carreira, disse: Quem pensais vós que eu sou?     Eu não sou o Cristo; mas eis que após mim vem Aquele a quem não sou digno de desatar as alparcas dos pés". Assim com poder ele pregou a Jesus como o Salvador dos homens, o Messias da profecia.
    Depois de haver feito esta declaração, disse Paulo: "Varões irmãos, filhos da geração de Abraão, e os que dentre vós temem a Deus, a vós vos é enviada a palavra desta salvação. Por não terem conhecido a Este, os que habitavam em Jerusalém, e os seus príncipes, condenaram-nO, cumprindo assim as vozes dos profetas que se lêem todos os sábados." Atos 13:13-27.
    Paulo não hesitou em falar com clareza a verdade concernente à rejeição do Salvador pelos dirigentes judaicos. "E, embora não achassem alguma causa de morte, pediram a Pilatos que Ele fosse morto", declarou o apóstolo. "E, havendo eles cumprido todas as coisas que dEle estavam escritas, tirando-O do madeiro, O puseram na sepultura; mas Deus O ressuscitou dos mortos. E Ele por muitos dias foi visto pelos que subiram com Ele da Galiléia a Jerusalém, e são Suas testemunhas para com o povo." Atos 13:28-31.
    "E nós vos anunciamos", continuou o apóstolo, "que a promessa que foi feita aos pais Deus a cumpriu, a nós, Seus filhos, ressuscitando a Jesus; como também está escrito no salmo segundo: Meu Filho és Tu, hoje Te gerei. E que O ressuscitaria dos mortos, para nunca mais tornar à corrupção, disse-o assim: As santas e fiéis bênçãos de Davi vos darei. Pelo que também em outro salmo diz: Não permitirás que o Teu Santo veja corrupção. Porque, na verdade, tendo Davi no seu tempo servido conforme a vontade de Deus, dormiu, e foi posto junto de seus pais e viu a corrupção. Mas aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção viu." Atos 13:32-37.
    E agora, tendo falado claramente do cumprimento de profecias familiares concernentes ao Messias, Paulo pregou-lhes o arrependimento e a remissão dos pecados mediante os méritos de Jesus, Salvador deles. "Seja-vos pois notório, varões irmãos", disse ele, "que por Este se vos anuncia a remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por Ele é justificado todo aquele que crê." Atos 13:38-39.
    O Espírito de Deus acompanhou as palavras faladas e os corações foram tocados. O apelo dos apóstolos às profecias do Antigo Testamento, e sua declaração de que elas haviam sido cumpridas no ministério de Jesus de Nazaré, levaram a convicção a muitas almas que suspiravam pelo advento do Messias prometido. As palavras de afirmação dos apóstolos, de que "as boas novas" (Isa. 52:7) de salvação eram para judeus e gentios igualmente, trouxeram esperança e alegria a todos os que não haviam sido contados entre os filhos de Abraão segundo a carne.
    "E, saídos os judeus da sinagoga, os gentios rogaram que no sábado seguinte lhes fossem ditas as mesmas coisas." Tendo finalmente a congregação se dispersado, "muitos dos judeus e dos prosélitos religiosos", que tinham aceitado as boas novas que lhes foram apresentadas naquele dia, "seguiram a Paulo e Barnabé, os quais, falando-lhes, os exortavam a que permanecessem na graça de Deus". Atos 13:42 e 43.
    O interesse despertado em Antioquia da Pisídia pelo discurso de Paulo, reuniu no "sábado seguinte... quase toda a cidade a ouvir a Palavra de Deus. Então os judeus, vendo a multidão, encheram-se de inveja; e, blasfemando, contradiziam o que Paulo dizia.
    "Mas Paulo e Barnabé, usando de ousadia, disseram: Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a Palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e vos não julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios; porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, para que sejas de salvação até aos confins da Terra."
    "E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a Palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna." Eles se rejubilaram grandemente de Jesus os reconhecer como filhos de Deus, e com coração grato atentavam à palavra pregada. Os que creram foram zelosos em comunicar a mensagem evangélica a outros, e assim "a Palavra do Senhor se divulgava por toda aquela província". Atos 13:44-49.
    Séculos antes, a pena da inspiração tinha traçado esta colheita de gentios; mas aquelas previsões proféticas tinham sido apenas obscuramente entendidas. Oséias havia dito: "Todavia o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que não pode medir-se nem contar-se; e acontecerá que no lugar onde se lhes dizia: Vós não sois Meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo." Osé. 1:10. E outra vez: "E semeá-la-ei para Mim na terra, e compadecer-Me-ei de Lo-Ruama; e a Lo-Ami direi: Tu és Meu povo; e ele dirá: Tu és o meu Deus!" Osé. 2:23. O próprio Salvador, durante o Seu ministério terrestre, predisse a disseminação do evangelho entre os gentios. Na parábola da vinha Ele declarou aos impenitentes judeus: "O reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos." Mat. 21:43. E depois de Sua ressurreição Ele comissionou os discípulos para irem "por todo o mundo" (Mat. 28:19), a ensinar "todas as nações". Não deviam deixar de advertir a ninguém, mas deviam pregar "o evangelho a toda a criatura". Mar. 16:15.
    Voltando-se para os gentios em Antioquia da Pisídia, Paulo e Barnabé não deixaram de trabalhar pelos judeus de outras partes, onde quer que a oportunidade lhes deparasse ouvintes. Posteriormente, em Tessalônica, em Corinto, em Éfeso e em outros importantes centros, Paulo e seus companheiros de trabalho pregaram o evangelho tanto a judeus como a gentios. Mas suas maiores energias eram daí por diante dirigidas no sentido de estabelecer o reino de Deus em território gentílico, entre povos que tinham pouco ou nenhum conhecimento do verdadeiro Deus e de Seu Filho.
    O coração de Paulo e seus associados no trabalho estava aberto em benefício dos que estavam "sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo". Efés. 2:12. Mediante a incansável ministração dos apóstolos aos gentios, os "estrangeiros e forasteiros", os "que antes estáveis longe", aprenderam que "pelo sangue de Cristo", chegaram perto, e que pela fé em Seu sacrifício expiatório, podiam tornar-se "concidadãos dos santos, e da família de Deus". Efés. 2:13 e 19.
    Avançando pela fé, Paulo trabalhou sem cessar pela edificação do reino de Deus entre os que tinham sido negligenciados pelos mestres de Israel. Exaltava constantemente a Cristo Jesus como o "Rei dos reis, e Senhor dos senhores" (I Tim. 6:15), e exortava os crentes a permanecerem "arraigados e sobreedificados nEle, e confirmados na fé". Col. 2:7.
Para os que crêem, Cristo é o firme Fundamento. Sobre esta Pedra viva podem edificar igualmente judeus e gentios. Ela é suficientemente grande para todos, e forte bastante para sustentar o peso e o fardo de todo o mundo. Este é um fato plenamente reconhecido pelo próprio Paulo. Nos dias finais de seu ministério, quando, dirigindo-se a um grupo de crentes gentios que tinham permanecido firmes em seu amor pela verdade do evangelho, o apóstolo escreve: "Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal Pedra da esquina." Efés. 2:20.
    Como a mensagem do evangelho se espalhasse na Pisídia, judeus incrédulos de Antioquia, em seu cego preconceito, "incitaram algumas mulheres religiosas e honestas, e os principais da cidade, e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram" (Atos 13:50) fora daquele distrito.
    Os apóstolos não ficaram desencorajados por este tratamento; lembraram-se das palavras de seu Mestre: "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo o mal contra vós por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos Céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós." Mat. 5:11 e 12.
    A mensagem do evangelho estava avançando, e os apóstolos tinham todo o motivo de sentir-se encorajados. Suas atividades entre os de Antioquia da Pisídia, tinham sido ricamente abençoadas, e os crentes a quem tinham deixado a conduzir a obra sozinhos por algum tempo, "estavam cheios de alegria e do Espírito Santo". Atos 13:52.
 

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