Introdução

Em 52 a.c., Júlio César lutou aquela que foi sua batalha decisiva na conquista da Gália, ao redor da cidade fortificada de Alésia. Após esta batalha, a maior parte da resistência gaulesa ao invasor romano cessou, persistindo somente alguma oposição esporádica e não organizada. A conquista da Gália por César alterou profundamente o mapa geopolítico de Roma, mudando o eixo da civilização romana do mediterrâneo para a Europa ocidental, e alterou de forma indelével o desenvolvimento cultural dos povos que ali viviam. Os Gauleses eram os mais populosos e poderosos dentre as populações a que se convencionou chamar de Celtas. Excelentes artesãos, ferreiros e armeiros, alguns deles estavam construindo prósperos núcleos urbanos, alfabetizando-se e organizando Estados bem estruturados quando César invadiu a Gália. Esta conquista por parte de Roma, longe de destruir esta vitalidade cultural, ao contrário, adicionou os elementos civilizatórios da poderosa cultura do mundo romano à "bárbara" visão celta do mundo, e moldou os primitivos contornos daquela que seria uma das maiores e mais brilhantes civilizações européias.

Mas por que tal batalha se revestiu de tanto significado? A importância da batalha de Alésia fica clara quando analisamos os números envolvidos. Do lado romano, sessenta ou setenta mil homens, entre romanos e seus aliados germanos. Do lado gaulês, entre setenta e oitenta mil homens cercados dentro da fortaleza de Alésia, mais duzentos e sessenta mil, provenientes de mais de sessenta tribos, atacando os romanos em duas frentes, numa incrível vantagem numérica de cinco para um. Em vista deste quadro, surge a questão inevitável: como conseguiu César obter uma vitória tão decisiva e esmagadora diante de tão grandes desvantagens? Durante muito tempo pensou-se que tais números não passavam de uma fantasia criada pelo próprio César, destinada a engrandecer os feitos militares de suas legiões com o intuito de reforçar sua já sólida reputação como comandante militar e pavimentar seu caminho rumo ao controle da política romana. Entretanto, pesquisas e análises recentes, incluindo escavações arqueológicas realizadas no sítio da batalha, revelam que os números fornecidos por César em sua obra De Bello Gallico foram surpreendentemente exatos. Não é o objetivo deste trabalho comentar como se chegou a esta conclusão, mas simplesmente analisar as condições e ações que possibilitaram a César sair vitorioso de seu maior embate contra os gauleses. Para tanto, após uma breve exposição do quadro histórico onde se inseriu a campanha da Gália, incluindo uma breve biografia de César, transcrevemos os capítulos do De Bello Gallico que fazem referência especificamente à batalha de Alésia, procedendo a uma análise cuidadosa de cada um destes capítulos, utilizando para tanto toda uma bibliografia referente às condições materiais, procedimentos tático-militares e até mesmo a geografia da região onde se deu a batalha. Para facilitar a compreensão dos aspectos táticos, incluindo a movimentação das tropas durante a batalha, procuramos utilizar, da forma mais extensa possível, mapas e gráficos, na sua maior parte baseados no recente trabalho de Emile Mourey sobre o tema. Finalmente, procuramos responder à questão central deste trabalho, explicando as razões da vitória romana. Espera-se que as atuais escavações arqueológicas que vêm sendo realizadas não só no sítio de Alésia como em outros locais onde ocorreram batalhas importantes durante a campanha da Gália, como Bribacte e Gergóvia, nos tragam, num futuro próximo, novos dados que permitam traçar com mais exatidão o desenrolar das guerras gálicas, preenchendo pelo menos algumas das muitas lacunas que obscurecem nossa visão sobre este fascinante momento histórico.

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