Já na agricultura, a coisa mudava de figura. Mesmo quando transumante, o grupo agrícola tinha que se fixar num local o tempo suficiente para que sua plantação produzisse ao menos uma vez. A área plantada ficava bem próxima ao acampamento, propiciando trabalho com menos locomoção por parte das mulheres. De resto, crianças relativamente pequenas eram utilizadas pelo grupo de maneira a se constituírem em força de trabalho. Locomovendo-se menos, usando as crianças para a agricultura e não tendo limites tão rígidos no suprimento alimentar, os homens passam a se reproduzir mais, causando um crescimento demográfico notável.

Com o advento da agricultura, os grupos podem ser maiores, desde que dentro de limites estabelecidos pela fertilidade do solo, quantidade de terra disponível e estrutura organizacional da tribo. Quando o crescimento do grupo entrava em contradição com qualquer um desses fatores, ocorria uma cissiparidade, procurando a tribo derivada * e às vezes até a de origem* outro local. Esse processo intenso de subdivisões e deslocamentos iria provocar uma onda de difusão da agricultura e da atividade pastoril.

Acredita-se, portanto, que durante muito tempo a atividade agrícola não fixou em definítivo homem ao solo; apenas o deixou mais sedentário do que quando coletor e caçador.

A transumância foi uma característica importante do início da revolução agrícola. E, por conseqüência, a difusão cultural também caracterizou essa revolução: podemos imaginar inúmeros grupos reproduzindo-se e subdividindo-se, plantando e criando, invadindo espaços de caçadores e coletores, convivendo entre si ou em guerras, ou ensinando e submetendo os habitantes da região ocupada.

Não se pode pensar em agricultores "respeitando" a cultura de coletores, aceitando seu próprio desenvolvimento sócio-econômico, aguardando que o crescimento de suas forças produtivas os levasse a se tornarem também plantadores e criadores... Como toda grande revolução da humanidade, essa também teve seus arautos e corifeus, bem como sua massa de cooptados e subjugados.

A revolução agrícola toma-se quase irresistível. Seu avanço, a partir de poucos focos difusores, atinge áreas cada vez mais extensas, cercadas por contornos marginais, como diz Darcy Ribeiro. Esses contornos vão diminuindo a ponto de se tomarem simples pontos esquecidos pelo avanço da História.

Isso é bom? Isso é mau?

O fato é que a revolução agrícola paulatinamente destrói formas de existência anteriores, e os povos que se mantém coletores são poucos e facilmente assimiláveis às idéias da revolução quando atingidos.

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