O que queremos afirmar é que, a menos que o juí­zo pressuponha o mesmo castigo ou recompensa para todos, o registro não pode ser encerrado por ocasião da morte do indiví­duo. Poder-se-á deveras argüir que se sabe se uma pessoa está salva ou perdida, e que, portanto, ela pode ser considerada como tendo entrado num ou noutro lugar. Isto se pode dar por assentado, mas não resolve a dificuldade. Mesmo nos tribunais terrestres, o resultado de um crime cometido tem que ser aguardado, antes que se pronuncie o julgamento. Se numa luta com arma de fogo um dos contendores fica ferido, o julgamento não se baseia no efeito imediato, mas no resultado final do tiroteio. A pessoa ferida pode viver uma ou duas semanas. O criminoso não tem o direito de exigir um julgamento imediato, baseado na circunstância de que o ferido não morreu, e que, portanto, não houve homicí­dio. O homem é responsável de algo mais que o efeito imediato de seus atos. Parece mais razoável que o juí­zo seja postergado até que todos os fatos estejam reunidos, e se possa então chegar a uma estimativa justa. Se admitirmos que alguns serão castigados com muitos açoites e outros com poucos (S. Luc. 12:48), o juí­zo não pode nem deve ocorrer sem que todos os fatores sejam considerados. Isto só pode ser feito no tempo designado por Deus: o fim do mundo. Harmoniza-se com isto a declaração de que Deus reserva "os injustos para o dia de juí­zo, para serem castigados." II S. Pedro 2:9. Os í­mpios serão julgados pelos justos. "Os santos hão de julgar o mundo." I Cor. 6:2. Assim como os anjos têm sua ocupação no céu, terão os remidos, a sua. Deus revela Seus planos os Seus, e lhes confia responsabilidades. Aos santos se lhes dá o privilégio e a responsabilidade de julgar. Humanamente falando, Deus não quer correr nenhum risco de descontentamento nem dúvidas. é concebí­vel que se perderão algumas pessoas a quem outras consideravam dignas de salvarem-se. Ao verificar-se a falta de alguma pessoa no céu, poderia surgir na mente de outros uma dúvida acerca do porquê de sua ausência. Poderá ser alguém que nos é querido, a quem amamos e por quem tenhamos orado. Mas ei-la que está perdida. Não conhecemos as circunstâncias; não sabemos porque.

Se tomamos parte no juí­zo; se nós mesmos examinamos o caso e as provas; se depois de pesar todos os fatores, chegamos afinal à conclusão de que esta pessoa ao quis ser salva e não se sentiria feliz no céu, nenhuma dúvida surgirá jamais em nossa mente quanto à justiça do que foi feito. Participamos do juí­zo, e conhecemos os pormenores. Ali estávamos. Ficamos satisfeitos. Além disso, esse plano assegura um juí­zo justo e misericordioso. Teremos amado alguns dos que se perderão. Por eles teremos orado. Seremos bondosos para com eles até ao fim. Ninguém sofrerá castigo maior do que merece. O plano divino assegura-nos isso. Deve-se notar que os santos participarão do julgamento daqueles a quem conheceram. Se parte do propósito divino ao tornar-nos participantes do juí­zo consiste em assegurar-se de que não surgirá jamais em nossa mente dúvida alguma, os santos devem julgar sua própria geração e seus próprios conhecidos. Isto é ao mesmo tempo terrí­vel e bom. Deus não deve correr o risco de que alguém diga ou pense: "Alguns de meus amigos se perderam, e eu nunca tive a oportunidade de averiguar o que aconteceu. Pensei que estariam salvos. Eu os considerava melhores que qualquer outra pessoa, e gostaria de haver sabido um pouco mais de seu caso." Coisa tal, por certo nunca ocorrerá. Deus cuidará disso. Cada qual ficará convencido da justiça e da misericórdia divinas. O plano de Deus está devidamente ordenado. Saberemos por que certas pessoas se hão de perder. Participaremos de seu julgamento. Se o exposto é correto, não poderá haver julgamento por ocasião da morte. Um grupo de cristãos ora por um jovem extraviado. Oram um dia após outro, e ano após ano, mas sem resultado. Repentinamente morre esse jovem. Que sucederá no juí­zo? Os que o conheceram e por ele oraram, ainda vivem. Se o jovem deve ser julgado pelos santos imediatamente, todos eles teriam que morrer imediatamente a fim de participar de seu julgamento. Se assim não fosse, teria que ser julgado por outros que não o conheceram. Isto se aplica a todos os í­mpios que uma vez viveram. Em regra, e se hão de ser julgados pelos justos, não poderiam sê-lo senão uma geração após sua morte. Mas, o não serem julgados pelos justos, ou serem-no por outras pessoas deles desconhecidas, frustraria o plano divino. Portanto, sustemos que, se os í­mpios hão de ser julgados pelos santos, não podem eles sê-lo ao morrerem. Deus diz que os í­mpios estão reservados para o juí­zo, no fim do mundo.

Se bem seja verdade que cada geração se compreende melhor a si mesma e deve ser julgada à luz de seus próprios conhecimentos, de maneira que um pecador do Velho Testamento não deve ser julgado pelas normas do Novo Testamento, é também verdade que antes que se possa realizar qualquer juí­zo coerente, deve haver certo conhecimento das regras e princí­pios gerais que lhe servirão de diretriz. Isto pressupõe instrução e educação, e essa instrução basear-se-á em todos os fatores envolvidos. A morte de Cristo deve ser tida em linha de conta, bem como Sua expiação e ensino. Em vista disso, como poderiam os santos das primeiras gerações que viveram na terra, haver julgado os í­mpios de sua geração? é evidente que a idéia de que os santos participem do juí­zo deve ser abandonada se o juí­zo ocorre por ocasião da morte. Admirável é o plano concebido por Deus. O plano divino de que os santos participem do juí­zo, faz do céu um lugar seguro e ergue uma barreira eficaz contra quaisquer dúvidas posteriores. E como será o julgamento dos justos? é evidente que deve realizar-se alguma investigação antes de lhes ser concedida entrada na bem-aventurança eterna. Precisar-se-á decidir se sua vida e procedimento justifica que se lhes confira vida eterna; e esta decisão deve ser tomada antes de o Senhor vir buscá-los. Não é mais razoável salvar os justos e realizar depois o julgamento, que condenar os í­mpios e fazê-los comparecer depois perante o tribunal. Há aí­, porém, uma diferença. Os í­mpios não são destruí­dos senão ao fim do milênio. (Apoc. 20:4 e 5). Isto provê tempo abundante para julgá-los depois que o Senhor vier. Mas não ocorre assim com os justos. Se hão de ser julgados e se lhes há de dar alguma recompensa, o caso deles precisa ser decidido antes que venha o Senhor. Quando vier trará consigo o Seu galardão. (Apoc. 22:12) Daí­ o dever a condição dos justos ser determinada de antemão. Alguns opuseram objeção a este ensino. Não crêem que haverá um julgamento dos justos antes que o Senhor venha. Sem embargo, isto parece ser a única coisa conseqüente. Preciso é que o caso dos justos esteja decidido antes que o Senhor venha, pois ao contrário, como se poderá saber quem se há de salvar?

Se a objeção é feita aos termos "juí­zo investigativo" que têm sido usados, dever-se-ão procurar outros melhores. A isto estamos dispostos. Não se trata de um juí­zo executivo. Chama-lhe a Bí­blia "a hora do juí­zo" em contraste com o "dia do juí­zo" (Apoc. 14:7; Atos 17:31) Cremos que a expressão "juí­zo investigativo" se adapta ao caso do julgamento dos justos. Parece eminentemente apropriado que em se apresentando a questão de quem se há de salvar, os anjos estejam presentes para dar o seu testemunho e acompanhar o processo. (Dan. 7: 9 e 10) Eles têm estado vitalmente empenhados em nosso bem-estar; têm sido espí­ritos ministradores. Precisamos associar-nos com eles e com eles estar, e eles têm o direito de saber quem será admitido nas mansões celestiais. Esse também é o plano divino. Os anjos experimentaram alguns dos resultados do pecado. Viram Lúcifer apostatar. Viram milhões de anjos o seguirem. Viram o Salvador sofrer e morrer, e conhecem a miséria que o pecado tem causado. Estão vitalmente interessados em saber quem há de possuir a vida eterna. Não têm eles o desejo, de repetir a experiência do pecado pela qual passaram. é, portanto, um plano sábio da parte de Deus, que eles participem do juí­zo. O Dia da Expiação é um tipo adequado do dia do juí­zo. Bom seria que, à luz destas considerações, o leitor repassasse o capí­tulo sobre o Dia da Expiação. Naquele dia se fazia separação entre os justos e os í­mpios. A decisão dependia inteiramente de quem havia ou não confessado os seus pecados. Eram apagados os pecados dos que haviam levado suas ofertas e cumprido com o ritual. Os outros eram "extirpados". Ignoramos se era mantido no santuário terrestre qualquer registro dos que, através do ano, ali se apresentavam com sacrifí­cios. Conquanto isso fosse possí­vel, não é provável que se mantivesse semelhante registro. Sabemos, no entanto, que o sangue aspergido constituí­a em si mesmo um registro. Deus ordenara que se apresentassem sacrifí­cios. Cremos que Ele respeitava Sua própria ordem e anotava aqueles que O serviam em verdade, justiça e integridade. Em Seu livro eram registrados como sendo fiéis. Acerca do juí­zo do último dia, está escrito: "E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo." Apoc. 20:15.

Este texto fala taxativamente do livro da vida, e diz, em verdade, que somente os que nele forem achados serão salvos. Notem-se as palavras: "Aquele que não foi achado escrito no livro da vida." Isto implica um exame do livro para descobrir quais os nomes nele registrados. "Aquele que não foi achado." Que é isto senão uma investigação? é como se fosse dada a ordem: "Vede se este nome se acha no livro." Recebe-se, em resposta, a informação: "Achei-o", ou, "Não o achei". Qualquer informação indica uma investigação. A expressão: "Aquele que não foi achado", justifica o argumento de que há um exame do registro, dando em resultado a separação, para a salvação ou para a condenação. Afigura-se tão claro que deva haver, antes da vinda do Senhor, uma investigação do registro mantido no céu, que admira haver quem duvide sinceramente disso. é certo que Deus poderia, num momento, se o quisesse, decidir todas as questões quanto ao destino futuro de cada pessoa. Com exatidão infalí­vel, poderia destinar uma parte da humanidade para ser condenada e a outra parte para ser salva. Mas Deus não poderia fazer isso e ao mesmo tempo consentir que os anjos e os homens participassem do juí­zo. E isto é de vital importância. Deus precisa proteger quanto possí­vel a existência futura. Os homens, por sua própria investigação, precisam estar certos da justiça do castigo imposto. Os anjos que foram espí­ritos ministradores, precisam estar presentes quando os santos são julgados. Por este motivo são mantidos os livros. Por esta razão milhões de anjos presenciam o juí­zo. (Dan. 7:10) Deus toma todas as providências que se fazem mister para assegurar o futuro. O céu e a terra precisam ser protegidos. Deus não admitirá repentinamente milhões de seres humanos à felicidade do céu e ao privilégio da vida eterna sem consultar os anjos. Dizemo-lo com reverência. Os anjos têm passado por algumas tristes vicissitudes por causa do pecado. Viram perderem-se milhões de seus companheiros. Viram Cristo morrer na cruz. Tiveram conhecimento de parte dos pesares do Pai, motivados pelo pecado. E não se haveriam de interessar na concessão da vida eterna a milhões de pecadores remidos? Não deveriam possuir alguma segurança de que o admitir homens no céu não significa introduzir ali o pecado?

Falamos em linguagem humana. Cremos que precisam possuir essa certeza. E cremos que Deus lha dá. Estão presentes quando se decide o caso dos justos. Assim como os santos participam do julgamento dos í­mpios, os anjos participam do julgamento dos justos. Isto constitui uma segurança para o futuro. Nenhuma dúvida se levantará nem se poderá jamais levantar na mente de ninguém. Deus cuidou disso. Durante o milênio os anjos terão oportunidade de conhecer-nos melhor e nós a eles. Com eles trabalharemos no juí­zo. Durante esse tempo serão julgados os homens e os anjos. Nós participaremos desse julgamento. Os anjos dele participarão. Os homens e os anjos têm companheiros que se perderão e por quem têm interesse. Deus protege todos os interesses de maneira que o pecado não se levante segunda vez. Os anjos têm mantido o registro. O que está escrito nos livros, ali foi escrito por eles. Não hão de participar do exame do registro ao serem tomadas as decisões finais? Terão parte na execução do juí­zo. (Apoc. 20:1-3; 18:21; Ezeq. 9:1-11) Ao findar este, darão seu testemunho no tocante à justiça das decisões tomadas. (Apoc. 16: 5 e 7) Podem fazê-lo porque têm conhecimento dos fatores em jogo. "O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas Suas mãos." S. João 3:35. Talvez não estejamos certos do motivo de haver o Pai entregue todas as coisas nas mãos do Filho. Mas a declaração ocorre tantas vezes que se torna evidente que Deus quer que o conheçamos. Além da declaração citada, notemos a seguinte: "Todas as coisas Lhe sujeitaste debaixo dos pés". Heb. 2:8. "Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai." S. Mat. 11:27; S. Luc. 10:22. "... Lhe deste poder sobre toda a carne". S. João 17:2. Este poder inclui o de julgar. "O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juí­zo." João 5:22. Cristo "foi constituí­do juiz dos vivos e dos mortos." Atos 10:42. Deus "com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que destinou." Atos 17:31. Isto inclui a execução do juí­zo, pois o Pai "deu-Lhe o poder de exercer o juí­zo, porque é Filho do homem." S. João 5:27. De fato, a concessão da autoridade ao Filho pode resumir-se na significativa declaração do próprio Cristo: "é Me dado todo o poder no céu e na terra". S. Mat. 28:18. Isto não deixa dúvida alguma quanto ao alcance do poder a Ele dado. é todo o poder no céu e na terra.

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