Este
capítulo é baseado em Atos 3; 4:1-31. AA 32
Os discípulos de Cristo tinham profundo senso da própria
ineficiência e, com humilhação e oração, uniam sua fraqueza a Sua força, sua
ignorância a Sua sabedoria, sua indignidade a Sua justiça e sua pobreza a Sua
inesgotável riqueza. Assim fortalecidos e equipados, não hesitaram em avançar a
serviço do Mestre. AA 32.1 Pouco tempo após a descida do Espírito Santo, e
imediatamente depois de um período de fervorosa oração, Pedro e João, subindo ao
templo para adorar, viram à porta Formosa, um coxo, de quarenta anos de idade,
cuja vida, desde o seu nascimento, tinha sido de dor e enfermidade.
Esse infeliz havia durante muito tempo desejado ver Jesus para ser curado, mas
encontrava-se quase ao desamparo, e estava muito afastado do cenário dos labores
do grande Médico. Seus rogos finalmente induziram alguns amigos a levá-lo à
porta do templo, mas chegando ali, soube que Aquele em quem suas esperanças se
centralizavam havia sido morto cruelmente. AA 32.2
Seu desapontamento provocou a simpatia dos que sabiam por
quanto tempo ele avidamente esperara ser curado por Jesus, e diariamente o
levavam ao templo, a fim de que os que passavam fossem, pela piedade, induzidos
a dar-lhe uma ninharia para lhe aliviar as necessidades. Ao passarem Pedro e
João, pediu-lhes uma esmola. Os discípulos olharam-no com compaixão, e Pedro
disse: “Olha para nós. E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa.
E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro”. Atos 3:4-6. Ao declarar Pedro desta
maneira a sua pobreza, o rosto do coxo descaiu; mas tornou-se radiante com
esperança ao continuar o apóstolo: “Mas o que tenho isso te dou. Em nome de
Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda”. Atos 3:6. AA 32.3
“E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus
pés e artelhos se firmaram. E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com
eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus”. Atos 3:7, 8. AA 32.4
“E, apegando-se o coxo, que fora curado, a Pedro e João, todo
o povo correu atônito para junto deles, ao alpendre chamado de Salomão”. Atos
3:11. Estavam estupefatos de que os discípulos pudessem efetuar milagres
semelhantes aos que foram realizados por Jesus. Contudo, ali estava aquele homem
que, durante quarenta anos, fora um coxo inválido, regozijando-se agora em pleno
uso de seus membros, livre de dor, e feliz por crer em Jesus. AA 32.5
Quando os discípulos viram o espanto do povo, Pedro
perguntou: “Por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós,
como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?”
Atos 3:12. Assegurou-lhes que a cura tinha sido operada em nome e pelos méritos
de Jesus de Nazaré, a quem Deus ressuscitara dos mortos. “Pela fé no Seu nome”,
declarou o apóstolo, “fez o Seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; e
a fé que é por Ele deu a este, na presença de todos vós, essa perfeita saúde”.
Atos 3:16. AA 33.1
Os apóstolos falaram claramente do grande pecado dos judeus,
em terem rejeitado e matado o Príncipe da vida; mas foram cuidadosos em não
levar seus ouvintes ao desespero. “Vós negastes o Santo e o Justo”, disse Pedro,
“e matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós
somos testemunhas” “E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como
também os vossos príncipes, mas Deus assim cumpriu o que já antes pela boca de
todos os Seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer”. Atos
3:14, 15, 17, 18. Ele declarou que o Espírito Santo os estava chamando para
arrependimento e conversão, e assegurou-lhes que não havia esperança de salvação
a não ser mediante a graça dAquele a quem haviam crucificado. Somente pela fé
nEle podiam seus pecados ser perdoados. AA 33.2
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos,” exclamou ele, “para
que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério
pela presença do Senhor”. Atos 3:19. AA 33.3
“Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez
com nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as
famílias da Terra. Ressuscitando Deus a Seu Filho Jesus, primeiro O enviou a
vós, para que nisso vos abençoasse, e vos desviasse, a cada um, das vossas
maldades”. Atos 3:25, 26. AA 33.4
Assim os discípulos pregaram a ressurreição de Cristo. Muitos
entre os que os ouviam estavam esperando por este testemunho e, quando o
ouviram, creram. Vieram-lhes à mente as palavras que Cristo havia dito, e
tomaram posição ao lado dos que aceitaram o evangelho. A semente que o Salvador
havia plantado brotava e produzia frutos. AA 33.5
Enquanto os discípulos falavam ao povo, “sobrevieram os
sacerdotes, e o capitão do templo, e os saduceus, doendo-se muito de que
ensinassem o povo, e anunciassem em Jesus a ressurreição dos mortos”. Atos 4:1,
2. AA 33.6
Após a ressurreição de Cristo, os sacerdotes tinham espalhado
longe e perto a mentira de que Seu corpo tinha sido roubado pelos discípulos
enquanto a guarda romana dormia. Não é de admirar que tenham ficado descontentes
quando ouviram Pedro e João pregar a ressurreição dAquele que haviam matado. Os
saduceus, especialmente, estavam sobremodo alvoroçados. Sentiam que suas mais
acariciadas doutrinas estavam em perigo e sua reputação em risco. AA 33.7
Os conversos à nova fé estavam rapidamente aumentando, e
tanto fariseus como saduceus concordaram em que, se permitissem a esses novos
ensinadores prosseguir livremente, sua própria influência estaria em maior
perigo do que quando Jesus estava na Terra. Em conformidade com isso, o capitão
do templo, com auxílio de alguns dos saduceus, deteve Pedro e João, e os pôs na
prisão, visto ser muito tarde para os interrogar naquele dia. AA 34.1
Os inimigos dos discípulos não podiam deixar de estar
convencidos de que Cristo ressuscitara dos mortos. A prova era por demais clara
para que fosse posta em dúvida. Não obstante, endureceram o coração, recusando
arrepender-se da terrível ação que haviam cometido, matando Jesus. Haviam sido
dadas aos príncipes judeus abundantes evidências de que os apóstolos estavam
falando e agindo sob a divina inspiração, mas eles firmemente resistiram à
mensagem da verdade. Cristo não tinha vindo da maneira como esperavam e, embora,
às vezes, tivessem estado convictos de que Ele era o Filho de Deus, fizeram
calar a convicção e O crucificaram. Por misericórdia, Deus lhes deu novas
provas, e agora outra oportunidade era-lhes concedida para voltarem a Ele. Ele
enviou os discípulos para dizer-lhes que haviam matado o Príncipe da vida, e
nesta terrível acusação deu-lhes outra oportunidade para arrependimento. Mas,
sentindo-se seguros em sua própria justiça, os ensinadores judeus recusaram-se a
admitir que os homens que os acusavam de haverem crucificado a Cristo estivessem
falando pela direção do Espírito Santo. AA 34.2
Tendo-se entregue a uma atitude de oposição a Cristo, cada
ato de resistência tornava-se para os sacerdotes um adicional incentivo para
prosseguirem nesse procedimento. Sua obstinação tornara-se mais e mais
determinada. Não que eles não se pudessem render; podiam, mas não o queriam. Não
era só porque fossem culpados e merecedores de morte, nem apenas por terem
levado à morte o Filho de Deus, que estavam apartados da salvação; mas porque se
armaram de oposição contra Deus. Persistentemente rejeitaram a luz, e sufocaram
as convicções do Espírito. A influência que controla os filhos da desobediência
operava neles, levando-os a maltratar os homens por cujo intermédio Deus estava
agindo. A malignidade de sua rebelião era intensificada por todo ato sucessivo
de resistência contra Deus e contra a mensagem que Ele mandara transmitir por
Seus servos. Cada dia, em sua recusa de se arrepender, os líderes judeus
retomavam sua rebelião, preparando-se para ceifar o que estavam semeando. AA
34.3
A ira de Deus não é declarada contra pecadores impenitentes,
apenas por causa dos pecados por eles cometidos, mas porque, quando chamados a
arrepender-se escolhem continuar em resistência, repetindo os pecados do passado
em desafio à luz que lhes é dada. Se os líderes judeus se tivessem submetido ao
convincente poder do Espírito Santo, teriam sido perdoados; mas estavam
determinados a não se render. De igual forma, o pecador, pela contínua
resistência, coloca-se onde o Espírito Santo não o pode influenciar. AA 34.4
No dia seguinte ao da cura do coxo, Anás e Caifás, com os
outros dignitários do templo, reuniram-se para o julgamento, e os prisioneiros
foram trazidos perante eles. No mesmo recinto e diante de alguns dos mesmos
homens, Pedro tinha vergonhosamente negado seu Senhor. Isso lhe veio claramente
à memória, ao comparecer ele próprio para ser julgado.
Agora, tinha oportunidade para reparar sua covardia. AA 35.1
Os presentes que se lembravam da parte que Pedro havia
desempenhado no julgamento de seu Mestre, lisonjeavam-se de que ele seria
intimidado pela ameaça de prisão e morte. Mas o Pedro que negara a Cristo na
hora de Sua maior necessidade era impulsivo e cheio de confiança própria,
diferindo grandemente do Pedro que fora trazido perante o Sinédrio para ser
interrogado. Depois de sua queda, ele se havia convertido. Não mais era
orgulhoso e jactancioso, mas modesto e sem confiança em si mesmo. Estava cheio
do Espírito Santo e, com o auxílio desse poder, estava resolvido a remover a
mancha de sua apostasia, honrando o nome que repudiara. AA 35.2
Até então, os sacerdotes tinham evitado mencionar a
crucifixão ou ressurreição de Jesus. Mas agora, em cumprimento de seu propósito,
foram obrigados a indagar do acusado como se efetuara a cura do inválido. “Com
que poder, ou em nome de quem fizestes isto?” perguntaram. Atos 4:7. AA 35.3
Com santa ousadia e no poder do Espírito, destemidamente
Pedro declarou: “Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em
nome de Jesus Cristo, o Nazareno, Aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus
ressuscitou dos mortos, em nome dEsse é que este está são diante de vós. Ele é a
Pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de
esquina. E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum
outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”. Atos
4:10-12. AA 35.4
Essa corajosa defesa aterrorizou os chefes judeus. Haviam
suposto que os discípulos seriam vencidos pelo temor e confusão, quando trazidos
perante o Sinédrio. Mas em vez disso, aquelas testemunhas falavam como Cristo
havia falado, com um poder convincente que silenciava os adversários. Não havia
indício de temor na voz de Pedro, quando declarou acerca de Cristo: “Ele é a
Pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de
esquina”. Atos 4:11. AA 35.5
Pedro usou aqui uma figura de linguagem familiar aos sacerdotes. Os profetas
haviam falado da pedra rejeitada; e o próprio Cristo, falando uma ocasião aos
sacerdotes e anciãos, disse: “Nunca lestes nas Escrituras: A Pedra, que os
edificadores rejeitaram, essa foi posta por cabeça de ângulo; pelo Senhor foi
feito isto, e é maravilhoso aos nossos olhos? Porquanto Eu vos digo que o reino
de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E quem
cair sobre essa Pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará
reduzido a pó”. Mateus 21:42-44. AA 35.6
Ao ouvirem os sacerdotes as destemidas palavras dos
apóstolos, “tinham conhecimento que eles haviam estado com Jesus”. Atos 4:13. AA
36.1
Depois da transfiguração de Cristo, é dito dos discípulos
que, ao fim da maravilhosa cena, “ninguém viram senão unicamente a Jesus”.
Mateus 17:8. AA 36.2
Nas palavras “unicamente a Jesus”, está contido o segredo da
vida e do poder que marcaram a história da igreja primitiva. Ao ouvirem pela
primeira vez as palavras de Cristo, os discípulos sentiram sua necessidade dEle.
Eles O buscaram, O acharam e O seguiram. Com Ele estavam no templo, à mesa, na
encosta das montanhas ou no campo. Eram como alunos com o professor, dEle
recebendo diariamente lições da eterna verdade. AA 36.3
Após a ascensão do Salvador, o senso da divina presença,
plena de amor e luz, permanecia ainda com eles. Era uma presença pessoal. Jesus,
o Salvador, que tinha andado com eles, com eles falado e orado, que lhes falara
de esperança e conforto ao coração, tinha sido tomado deles para o Céu, quando a
mensagem de paz ainda estava em Seus lábios. Enquanto o séquito de anjos, O
recebia, dEle lhes vieram as palavras: “Eis que Eu estou convosco todos os dias,
até à consumação dos séculos”. Mateus 28:20. Ele havia ascendido ao Céu na forma
humana. Sabiam que, diante do trono de Deus, Ele ainda era seu Salvador e Amigo;
sabiam que Sua simpatia era imutável; que Ele estaria para sempre identificado
com a humanidade sofredora. Sabiam que Ele estava apresentando diante de Deus os
méritos de Seu sangue, mostrando Suas mãos e pés feridos, como lembrança do
preço que havia pago por Seus redimidos; e esse pensamento os fortalecia para
suportar a injúria por Sua causa. Sua união com Ele era mais forte agora do que
quando Ele estava com eles em pessoa. A luz, o amor e o poder de um Cristo
sempre presente brilhava por meio deles, de maneira que os homens, contemplando,
se maravilhavam. AA 36.4
Cristo pôs o Seu selo às palavras que Pedro falara em Sua
defesa. Bem ao lado dos discípulos, como convincente testemunha, estava o homem
que tão milagrosamente havia sido curado. A aparência desse homem, poucas horas
antes um aleijado ao desamparo, mas agora restaurado à perfeita saúde,
acrescentava peso de testemunho às palavras de Pedro. Sacerdotes e príncipes
ficaram em silêncio. Eram incapazes de refutar as declarações de Pedro, mas nem
por isso estavam menos decididos a pôr um paradeiro ao ensino dos discípulos. AA
36.5
O mais importante milagre de Cristo — a ressurreição de
Lázaro — tinha selado a determinação dos sacerdotes de excluir do mundo Jesus e
Suas maravilhosas obras, as quais estavam rapidamente destruindo sua influência
sobre o povo. Eles O haviam crucificado; mas ali estava uma convincente prova de
que não haviam feito cessar a obra de milagres em Seu nome, nem a proclamação da
verdade que Ele ensinara. A cura do coxo e a pregação dos apóstolos já haviam
enchido Jerusalém de agitação. AA 36.6
A fim de ocultarem sua perplexidade, os sacerdotes e
príncipes ordenaram que os apóstolos fossem afastados, para que pudessem
aconselhar-se entre si. Concordaram todos que seria inútil negar que o homem
fora curado. Pensaram em encobrir o prodígio por meio de falsidades, mas isso
era impossível, pelo fato de que o milagre fora operado em plena luz do dia,
diante de uma multidão de pessoas, e já chegara ao conhecimento de milhares.
Sentiam que a obra dos discípulos devia cessar, ou Jesus ganharia mais adeptos.
Sua própria desgraça poderia seguir-se, pois estariam sujeitos a ser
responsabilizados pelo assassínio do Filho de Deus. AA 37.1
Apesar do seu desejo de destruir os discípulos, os sacerdotes
não ousaram fazer mais que ameaçá-los com o mais severo castigo, se continuassem
a falar nem agir no nome de Jesus. Chamando-os novamente perante o Sinédrio,
ordenaram-lhes não falar ou ensinar no nome de Jesus. Mas Pedro e João
responderam: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do
que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido”.
Atos 4:19, 20. AA 37.2
De boa vontade, teriam os sacerdotes punido esses homens por
sua inamovível fidelidade a sua sagrada vocação, mas temeram o povo; “porque
todos glorificavam a Deus pelo que acontecera”. Atos 4:21. Assim, com repetidas
ameaças e admoestações, foram os apóstolos libertados. AA 37.3
Enquanto Pedro e João estavam prisioneiros, os outros
discípulos, conhecendo a malignidade dos judeus, haviam orado incessantemente
por seus irmãos, temendo que a crueldade mostrada para com Cristo pudesse
repetir-se. Tão logo foram os apóstolos libertados, puseram-se eles em busca dos
demais discípulos e lhes relataram o resultado do interrogatório. Grande foi a
alegria dos crentes. “Ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus, e
disseram: Senhor, Tu és o que fizeste o céu, e a Terra, e o mar, e tudo o que
neles há; que disseste pela boca de Davi, Teu servo: Por que bramaram as gentes,
e os povos pensaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da Terra, e os príncipes
se ajuntaram à uma, contra o Senhor e contra o Seu Ungido. Porque
verdadeiramente contra o Teu santo Filho Jesus, que Tu ungiste, se ajuntaram,
não só Herodes, mas Pôncio Pilatos; com os gentios e os povos de Israel; para
fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu conselho tinham anteriormente determinado
que se havia de fazer”. Atos 4:24-28. AA 37.4
“Agora pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede
aos Teus servos que falem com toda ousadia a Tua Palavra; enquanto estendes a
Tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome do Teu
santo Filho Jesus”. Atos 4:29, 30. AA 37.5
Os discípulos oraram para que maior força lhes fosse
concedida na obra do ministério; pois viam que teriam de enfrentar a mesma
determinada oposição que Cristo tinha encontrado quando esteve na Terra.
Enquanto suas orações unidas ascendiam em fé ao Céu, veio a resposta. Moveu-se o
lugar onde estavam reunidos, e novamente foram cheios do Espírito Santo. Com o
coração cheio de ânimo, de novo saíram para proclamar a Palavra de Deus em
Jerusalém. “E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição
do Senhor Jesus” (Atos 4:33), e Deus abençoava maravilhosamente seus esforços.
AA 38.6
O princípio pelo qual os discípulos se mantiveram tão
destemidamente quando, em resposta à ordem de não falarem mais no nome de Jesus,
declararam: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós que a
Deus” (Atos 4:19), é o mesmo que os adeptos do evangelho se esforçaram por
manter nos dias da Reforma. Quando, em 1529, os príncipes alemães se reuniram na
Dieta de Espira, foi-lhes apresentado o decreto do imperador, restringindo a
liberdade religiosa, e proibindo toda posterior disseminação das doutrinas
reformadas. Dir-se-ia que a esperança do mundo estava prestes a ser esmagada.
Aceitariam os príncipes o decreto? Devia a luz do evangelho, ser vedada às
multidões ainda em trevas? Achavam-se em jogo decisões importantes para o mundo.
Os que haviam aceitado a fé reformada reuniram-se, sendo sua unânime decisão:
“Rejeitemos este decreto. Em questões de consciência, a maioria não influi” (D’Aubigné,
História da Reforma, livro 13, cap. 5). AA 38.1
Esse princípio tem de ser mantido firmemente em nossos dias. A bandeira da
verdade e da liberdade religiosa desfraldada pelos fundadores da igreja do
evangelho e pelas testemunhas de Deus durante os séculos decorridos desde então,
foi, neste último conflito, confiada a nossas mãos. A responsabilidade por esse
grande dom repousa com aqueles a quem Deus abençoou com o conhecimento de Sua
Palavra. Temos de receber essa Palavra como autoridade suprema. Cumpre-nos
reconhecer o governo humano como uma instituição designada por Deus, e ensinar
obediência a ele como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera. Mas,
quando suas exigências se chocam com as reivindicações de Deus, temos que
obedecer a Deus de preferência aos homens. A Palavra de Deus precisa ser
reconhecida como estando acima de toda a legislação humana. Um “Assim diz o
Senhor”, não deve ser posto à margem por um “Assim diz a igreja”, ou um “Assim
diz o Estado” A coroa de Cristo tem de ser erguida acima dos diademas de
autoridades terrestres. AA 38.2
Não se nos exige que desafiemos as autoridades. Nossas
palavras, quer faladas quer escritas, devem ser cuidadosamente consideradas,
para que não sejamos tidos na conta de proferir coisas que nos façam parecer
contrários à lei e à ordem. Não devemos dizer nem fazer coisa alguma que nos
venha desnecessariamente impedir o caminho. Temos de avançar em nome de Cristo,
defendendo as verdades que nos foram confiadas. Se somos proibidos pelos homens
de fazer essa obra, podemos, então, dizer como os apóstolos: “Julgai vós se é
justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus? Porque não podemos
deixar de falar do que temos visto e ouvido”. Atos 4:19, 20. AA 38.3