10.257.7.2. Consciência Espiritual

No iní­cio de sua vida, ela foi ví­tima dos erros predominantes que se haviam alastrado por diversas igrejas dentro do protestantismo. A má compreensão do caráter de Deus, por exemplo, bem como do plano da salvação, estava por trás de sua confusão juvenil "sobre justificação e santificação".1

Posteriormente, tendo sido ensinada que a soberania e justiça de Deus eram os temas centrais do cristianismo, ela desfrutava pouca paz e quase total falta de percepção de um Deus amigo.2

A doutrina do castigo eterno, produto do pensamento calvinista, que focalizava a soberania de Deus em detrimento da responsabilidade humana, lançou sobre a jovem Ellen uma profunda angústia, tal como faz alguém que se espanta ante a idéia de um Deus que castiga pecadores para sempre.3

Uma teologia claramente posta em evidência. Quando a luz divina lhe ajudou a ler a Bí­blia sem ser influenciada pelas falsas concepções prevalecentes nas igrejas de sua época, a verdade sobre Deus se tornou cada vez mais clara. Seus escritos logo focalizaram a questão principal do grande conflito entre Deus e Satanás: Como Deus realmente é?4 Em quem se pode confiar - em Deus, ou em Satanás?

Uma clara representação do caráter de Deus. Junto com a teologia que captou o principal tema da Bí­blia, veio uma nova e cativante representação de Deus, que a atraiu a um profundo e dinâmico relacionamento com seu amorável, misericordioso e amigável Senhor.5

Durante o terceiro Concí­lio Missionário Europeu, em Basiléia, Suí­ça, em 22 de setembro de 1885, ela apresentou aos obreiros uma de suas tí­picas palestras: "Sinto-me tão grata esta manhã de podermos confiar a guarda de nossa alma a Deus como nosso fiel Criador. Algumas vezes o inimigo me assedia pertinazmente com suas tentações e trevas quando estou prestes a falar ao povo. Sobrevém-me tamanha sensação de fraqueza que me parece impossí­vel permanecer diante da congregação. Mas se eu me entregasse a esses sentimentos e dissesse que não conseguiria falar, o inimigo alcançaria a vitória. Não ouso proceder assim. Vou em frente, ocupo meu lugar no púlpito, e digo: "*"Jesus, apóio em Ti a minha alma desamparada; Tu não permitirás que eu seja confundida"*", e o Senhor me dá a vitória.

... Quem dera eu pudesse impressionar a todos com a importância de exercer fé momento após momento, hora após hora!... Se cremos em Deus, estamos armados da justiça de Cristo; apossamo-nos de Sua fortaleza. ... Queremos falar com nosso Salvador como se Ele estivesse justamente ao nosso lado."6

Grandiosos assuntos como a justiça pela fé, a importância da razão convicta e desapaixonada na reação do cristão ao evangelho e a responsabilidade de um "povo preparado" para cumprir a comissão evangélica nos últimos dias foram claramente definidos em publicações e assimilados na própria necessidade diária que ela sentia de perdão e poder.7

Confiança quando o futuro era incerto. Ellen White foi o exemplo de alguém que confiava em Deus mesmo quando as circunstâncias externas pareciam sombrias. Tí­pica de centenas de cartas e de seus muitos livros é uma passagem de uma carta a Tiago, seu marido, datada de Washington, Iowa, 2 de julho de 1874: "Somos justificados em andar pela vista enquanto isto é possí­vel, mas quando não podemos mais ver o caminho claramente, então precisamos colocar nossa mão na mão de nosso Pai celestial e deixar que Ele nos guie. Há, na vida de todas as pessoas, emergências nas quais não se pode nem seguir a vista nem confiar na memória ou experiência. Tudo que podemos fazer é simplesmente confiar e esperar. Honramos a Deus quando confiamos nE-le, pois Ele é nosso Pai celestial."8

Amor, seu princí­pio motivador. A clara compreensão que Ellen White possuí­a do amor a tornou diferente da maior parte dos outros escritores religiosos anteriores ou posteriores á sua época. O amor (ágape) como um princí­pio, não um sentimento motivado por esperança de recompensa ou favor, permeava seus escritos. Por exemplo: "O amor é um princí­pio ativo; conserva continuamente diante de nós o bem dos outros, refreando-nos de praticar atos desatenciosos, a fim de não falharmos em nosso objetivo de ganhar almas para Cristo. O amor não busca seus próprios interesses. Não levará os homens a ir após seu bem-estar e a satisfação do próprio eu. Ê o respeito que prestamos ao eu que tantas vezes estorva o crescimento do amor."9

Religião prática (teologia aplicada). A religião prática era outro tema sempre presente nos sermões e escritos de Ellen White. Para ela, religião era mais do que uma fonte de sentimento. Se a religião não motiva uma pessoa a estender a mão para ajudar os outros, sem esperança de lucrar alguma coisa, não vale nada. Se a religião não transforma a pessoa de modo que ela produza o "fruto do Espí­rito" (Gál. 5:22) e reflita o caráter de Jesus, seu professo cristianismo não tem nenhum sentido.

Para Ellen White, o cristianismo prático não era algo opcional; tinha tudo que ver com nossa preparação para a vida eterna. Escrevendo a uma mulher que possuí­a graves defeitos, ela declarou: "A menos que isto seja vencido agora, jamais o será; e a irmã King não terá parte com o povo de Deus, nem um lar no Seu reino eterno. Deus não pode levá-la para o Céu como se encontra. Você estragaria aquele lugar pací­fico e feliz.

"Que se pode fazer a seu favor? Pretende esperar até que Jesus volte nas nuvens do Céu? Será que Ele vai reformá-la inteiramente quando vier? Oh, não. Aquela ocasião não será para isso. O preparo deve ser feito aqui; toda a lapidação e polimento do caráter deve ser feito na Terra, nas horas de graça. Você deve preparar-se aqui; aqui devem ser dados os últimos retoques."10

Relação entre religião e saúde. Ellen White compreendeu bem a relação existente entre a religião e a saúde da mente e do corpo, que o bem-estar de um afeta diretamente o estado do outro. Suas percepções especí­ficas sobre este tema foram muito além do pensamento convencional. Por exemplo: "A religião pura e imaculada não é um sentimento, mas a prática de obras de misericórdia e amor. Tal religião é necessária à saúde e felicidade. Ela penetra no poluí­do templo da alma e com um açoite expulsa os pecaminosos intrusos. ... Com isso vem a serenidade e calma. Aumenta a força fí­sica, mental e moral, porque a atmosfera do Céu, como um agente vivo, atuante, enche a alma."11

Muitos identificam o capí­tulo "A Cura da Mente" no livro A Ciência do Bom Viver como abrindo novo território. O capí­tulo ini-cia-se com o seguinte parágrafo: "Muito í­ntima é a relação que existe entre a mente e o corpo. Quando um é afetado, o outro se ressente. O estado da mente atua muito mais na saúde do que muitos julgam. Muitas das doenças sofridas pelos homens são resultado de depressão mental. Desgosto, ansiedade, descontentamento, remorso, culpa, desconfiança, todos tendem a consumir as forças vitais, e a convidar a decadência e a morte."12

Sua compreensão da causa do sofrimento e da morte. Os conselhos de Ellen White a respeito da causa do sofrimento e da morte não foram apenas profundos; eles têm resistido à prova de um século como um fiel reflexo da mente de Deus. Ela afirmava que "doença, sofrimento e morte são obra de um poder antagônico. Satanás é o destruidor; Deus, o restaurador".13

Qual é, pois, a causa da enfermidade? Uma resposta era: as leis de Deus foram violadas por nossos antepassados ou por nós mesmos. Ela era inequí­voca: "Quando Cristo curava a doença, advertia a muitos dos enfermos: "*"Não peques mais, para que te não suceda alguma coisa pior."*" João 5:14. Assim Ele ensinava que haviam trazido sobre si mesmos a doença transgredindo as leis de Deus, e que a saúde podia ser preservada unicamente pela obediência."14

O sofrimento, além da doença devida à negligência das leis fí­sicas, também é causado por Satanás e não pela deliberada intervenção de Deus. Em muitas ocasiões ela reforçou o ensino de Jesus sobre este ponto. Em 1883, ela escreveu a respeito de um pequeno grupo de novos crentes em Ukiah, Califórnia: "Nosso coração se alegra ao vermos este pequeno centro de conversos à verdade avançando passo a passo, tornando-se mais forte em meio à oposição. Eles estão se tornando mais familiarizados com o aspecto do sofrimento na religião. Nosso Salvador advertiu a Seus discí­pulos que eles seriam desprezados por causa do Seu nome. "*"Bem-aventurado sois quando, por Minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós."*""15

Seus ensinos a respeito da causa da morte, bem como do sofrimento, fluí­ram do quadro geral do grande conflito entre Deus e Satanás: "Ê verdade que todo sofrimento é resultado da transgressão da lei divina, mas esta verdade fora pervertida. Satanás, o autor do pecado e de todas as suas conseqüências, levara os homens a considerarem a doença e a morte como procedentes de Deus - como castigos arbitrariamente infligidos por causa do pecado."16

Rápida em reconhecer os próprios erros. Ellen White era bastante rápida em confessar seus erros e buscar perdão. Ela conhecia muito bem a paz decorrente do perdão e era rápida em aliviar os outros do peso do remorso e da culpa. Baseado em sua própria experiência e refletindo a instrução divina, deu ela este conselho: "Não é louvável falar de nossa fraqueza e desânimo. Que cada qual diga: "*"Aflige-me ter cedido à tentação, e que minhas orações sejam tão débeis, minha fé tão fraca. Não tenho desculpa a apresentar por ser anão em minha vida religiosa. Mas estou procurando obter a plenitude do caráter de Cristo. Tenho pecado, e todavia amo a Jesus. Tenho caí­do muitas vezes, e no entanto Ele me estendeu a mão para salvar-me. Contei-Lhe tudo acerca de meus erros. Tenho confessado com tristeza e vergonha tê-Lo desonrado. Tenho olhado a cruz, dizendo: Tudo isso Ele sofreu por mim. O Espí­rito Santo me mostrou minha ingratidão, meu pecado em expor Cristo à ignomí­nia. Aquele que não conhece pecado perdoou o meu pecado. Ele me chama para uma vida mais alta, mais nobre, e eu prossigo para as coisas que diante de mim estão."*""17

Incansável ganhadora de almas. Os contemporâneos de Ellen White sabiam que ela era uma incansável ganhadora de almas. Eles observavam sua vida diária; recebiam suas cartas fervorosas. Seus vizinhos e companheiros de viagem eram abençoados por suas úteis iniciativas. Na verdade, a constante e prestimosa preocupação que ela sentia pelo bem-estar espiritual dos outros se tornaram uma caracterí­stica definida de sua vida. Ela nunca se viu como uma "escritora em torre de marfim", distante do mundo onde se travavam as batalhas espirituais a respeito das quais ela escrevia.

Jovens e idosos encontraram a Jesus por meio de seu ministério pessoal. Um de seus contemporâneos escreveu: "Minhas lembranças da irmã White é que jamais em minha vida conheci uma mulher que parecesse tão completamente consagrada ao Senhor Jesus. Ele parecia ser para ela um amigo pessoal, que ela conhecia, amava e em quem confiava. Ela encontrava grande alegria em falar sobre Jesus; e todas as pessoas mais jovens concordam que houve, pelo menos, uma jovem que viveu muito próximo do Senhor e que, de maneira sincera e prática, procurou de todo o seu coração seguir a Jesus."18

Uma viagem a Vergennes, Michigan, em junho de 1853, é lembrada por algo mais do que ficar "perdido" numa estrada bastante conhecida pelo condutor da carruagem. Perto da noitinha, depois de um longo dia de jornada sem água e sem alimento, Tiago e Ellen White ficaram muito contentes em encontrar uma solitária cabana feita de troncos e, nela, a dona da casa. Enquanto refazia as suas forças, a Sra. White falou com a hospitaleira anfitriã a respeito de Jesus e lhe deu de presente um exemplar de seu primeiro livro Experience and Views. Durante anos, os acontecimentos desse dia não pareciam apenas estafantes mas sem sentido. Mas em 1876, numa reunião campal realizada em Lansing, Michigan, a dona de casa daquela cabana, mais de vinte anos antes, apertou a mão de Ellen White e relembrou o primeiro encontro de ambas. Em seguida, ela apresentou a Sra. White a um grupo de adventistas do sétimo dia, os quais haviam começado sua nova comunhão com o Senhor depois da leitura de Experience and Views. A dona de casa havia contado aos vizinhos dispersos sobre esta senhora viajante que lhe "falara de Jesus e das belezas do Céu, e as palavras tinham tanto fervor que ela ficou encantada e jamais as esqueceu".19

 

 
     
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