Antes do advento da imprensa, sendo ainda desconhecidas, as cópias das Escrituras só poderiam ser produzidas pelo moroÂso, árduo e dispendioso processo de escrita a mão. Isto, naturalÂmente, limitava muito sua circulação. E pior ainda, suas verdaÂdes iluminadoras e salvadoras haviam sido bem escondidas nos séculos da Idade Escura. Durante esse tempo, o povo pouco sabia do seu conteúdo.
Mas com a invenção da arte de imprimir nos meados do déÂcimo quinto século, e com o advento da grande Reforma no século seguinte, as Escrituras Sagradas entraram numa nova era preparatória para a proclamação final do evangelho a todo o mundo.
Não menos significativo é o fato de que o primeiro livro imÂportante, impresso em tipos móveis foi a Bíblia Sagrada em latim, feita no prelo de João Gutenberg, em Mogúncia, Alemanha, em 1456, da qual um exemplar foi vendido em Nova Iorque, em 1911, por cinqüenta mil dólares, a maior, importância já paga por um único livro.
Mesmo assim, contudo, sendo as Escrituras publicadas somenÂte nas línguas antigas, pouco eram compreendidas pelo povo coÂmum. Sem a Palavra de Deus em suas mãos, a boa semente espalhada era facilmente destruída. Diziam os defensores dos seus ensinos puros: "Oh, se o povo pudesse tão-somente ter a Palavra de Deus no seu próprio idioma, isso não aconteceria! Sem isso será impossível estabelecer os leigos na verdade."
E por que não a teriam em sua própria língua? arrazoavam. Moisés escreveu no idioma do povo de seu tempo; os profetas falaram em linguagem familiar aos homens a que se dirigiam; e o Novo Testamento foi escrito no idioma corrente em todo o mundo romano.
A tradução da Bíblia Sagrada para o inglês por João Wiclef, em 1380, foi o principal acontecimento no início da Reforma. Preparou também caminho para o reavivamento do cristianismo na Inglaterra, e para a disseminação da Palavra de Deus aos miÂlhões de lá, e de todo o mundo, que então se seguiu.
Fazer tal trabalho naquele tempo, diz Neander, "requeria esÂpírito arrojado que perigo algum pudesse intimidar." Ao fazê-lo, Wiclef foi atacado por todos os lados, porque, diziam, "estava introduzindo entre a multidão um livro destinado exclusivamenÂte ao uso dos clérigos." Na denúncia geral foi declarado que "assim o evangelho era por ele franqueado aos leigos, e as muÂlheres poderiam lê-lo, quando anteriormente apenas poderia seÂlo pelos mais eruditos do clero; sendo desta maneira lançada foÂra e pisada pelos porcos a pérola do evangelho." No prefácio de sua tradução, Wiclef exortou todo o povo a ler as Escrituras SaÂgradas.
Um sentimento de temor e um estremecimento de júbilo perÂpassou o coração do grande reformador alemão, quando, na idaÂde de vinte'anos, enquanto examinava os volumes da biblioteca da universidade de Erfurt, tomou em suas mãos, pela primeira vez na vida, um exemplar completo da Bíblia Sagrada. "Ó Deus," murmurou ele, "se eu pudesse ter um destes livros, não pediria outro tesouro." Pouco mais tarde achava num convento, presa por uma corrente, uma Bíblia Sagrada a que ele tinha acesso constante.
Mas todas essas Bíblias que lá havia, e em toda parte, exceto a Inglaterra, estavam na língua original, e podiam ser lidas apeÂnas pelos instruídos. Por que, pensava Lutero, deverá a PalaÂvra viva ser conservada nas línguas mortas? A exemplo de Wiclef resolveu dar a Bíblia aos seus patrícios no seu próprio idioma. Issç> fez, o Novo Testamento em 1522, e a Bíblia completa, a maior obra de sua vida, em 1534.
Impressionado com a idéia de que o povo devia ler as EscriÂturas no idioma materno, William Tyndale, de igual modo, em 1525, legou aos ingleses sua tradução do Novo Testamento, e mais tarde, de porções do Velho Testamento. Seu desejo ardenÂte de que todos conhecessem a Bíblia foi bem expresso ao declaÂrar que se Deus lhe poupasse a vida, faria com que o trabalhaÂdor que empunhava o arado soubesse mais das Escrituras do que comumente sabiam os teólogos de seu tempo.
A primeira Bíblia inglesa completa impressa foi a de Miles Coverdale, editada em Zurique, Suíça, em 1535.