LXVIII - Afugentada toda a cavalaria gaulesa, recolheu Vercingetórix as suas tropas pela ordem em que as postara em frente dos arraiais, e começou logo a marchar para Alésia, praça dos Mandúbios, ordenando que o seguissem incontinenti com as bagagens tiradas dos arraiais. Enviando sob a guarda de duas legiões as suas bagagens para uma colina, o perseguiu César enquanto durou o dia, e, mortos cerca de três mil da retaguarda dos inimigos, assentou no segundo arraial junto de Alésia. Examinada a situação da praça e aterrados os inimigos por haver sido derrotada a sua cavalaria, força em que mais confiavam, exortou os soldados ao trabalho, e começou as suas linhas de circunvalação.

6. A derrota de Vercingetórix Após o fracasso do cerco de Gergóvia, que César foi obrigado a suspender, tanto pela inferioridade numérica quanto pela posição geográfica desvantajosa, os romanos se viram diante de uma sublevação geral na Gália. Este levante foi liderado por Vercingetórix, líder dos Arvernos, que anteriormente já havia combatido César, juntamente com os Carnutes. César enfrentou as forças gaulesas em várias escaramuças até que Vercingetórix decidiu rumar para a cidade fortificada de Alésia, atual Alise, cidade próxima de Dijon, onde pretendia manter os romanos ocupados até a chegada de reforços.

LXIX - Estava a praça de Alésia em posição mui elevada na cumeada de uma montanha, cujas raízes eram de dois lados banhadas por dois rios. Diante da praça estendia-se uma planície de cerca de três mil passos de comprimento: as mais partes eram circuladas por colinas de igual altura com medíocres intervalos entre si. Junto à muralha, toda a parte que olhava para o sol nascente, estava cheia de tropas gaulesas, protegidas por um fosso e um muro de pedra insossa de seis pés de altura. A circunvalação, que começavam a fazer os romanos, era de onze mil passos em circuito. Os arraiais achavam-se assentados em lugares oportunos, e havia neles vinte e três redutos, onde de dia se postavam guardas, para evitar qualquer súbita sortida dos inimigos, e de noite sentinelas e fortes guarnições.

 

  • 8. Equipamento padrão do legionário romanoAo chegar a Alésia, em perseguição às tropas de Vercingetórix, César decidiu-se pelo cerco, em vista da excelente posição defensiva que gozava a cidade. Encastelada no topo de uma colina, e cercada, como descreveu César, por um muro de pedra de aproximadamente um metro e oitenta de altura e um fosso, a fortaleza proporcionava excelentes condições de defesa, reforçada pelo fato de só haver terreno plano, necessário para a movimentação de um exército como o romano, em uma única direção (a oeste da fortaleza), o que permitia aos defensores concentrar seus esforços. Parece estranho que César, sabendo de sua inferioridade numérica avassaladora, preferisse iniciar a construção de uma muralha ao invés de tentar um ataque, que mesmo sendo arriscado podia definir de uma vez a supremacia romana na Gália. Entretanto, se analisarmos o perfil tático padrão do exército romano, veremos que a prática do cerco era mais do que comum. Um general romano, Corbulo, afirmou certa vez que as batalhas eram ganhas mais pela dolabra (uma ferramenta usada para cavar trincheiras) que pelo gladium. O sítio era de certa forma uma tática padrão no exército romano. Compostas por homens treinados na mais dura disciplina, endurecidos pelo combate, e confiantes na sua superioridade técnica, as legiões romanas eram conhecidas por sua capacidade de levantar fortificações praticamente intransponíveis em curtíssimo espaço de tempo. O equipamento padrão do legionário romano era composto de, além das armas, geralmente o pilum e o gladium e o scutum, e eventualmente a javalina e outros armamentos menos comuns, de um kit básico cuja função era, além de assegurar a sobrevivência do soldado, provê-lo do equipamento necessário para a construção de estruturas defensivas e preparação de posições de artilharia. No caso de Alésia, a muralha que cercava a cidade tinha aproximadamente dezessete quilômetros de extensão e era protegida por vinte e três torres de guarda.

 

9. Armas romanasLXX - Começada a obra de circunvalação, deu-se um combate de cavalaria naquela planície, que, interposta às colinas, tinha, como dissemos, três mil passos de extensão. Combate-se de ambas as partes mui esforçadamente. Achando-se os nossos em aperto, manda-lhes César em auxílio os Germanos, e forma as legiões em batalha diante dos arraiais, para que não se desse alguma súbita investida da infantaria inimiga. Visto o auxílio das legiões, aumenta-se o ânimo aos nossos; postos em fuga, embaraçam-se os inimigos por sua mesma multidão, e amontoam nas estreitas portas deixadas. Perseguem-nos os Germanos com ardor até os entrincheiramentos. Faz-se grande carnificina: tentam até alguns, deixando os cavalos, transpor o fosso e galgar o muro de pedra insossa. Manda César avançar um pouco as legiões, que formara diante do entrincheiramento. Não menos se perturbam os Gauleses, que estavam dentro das trincheiras: bradam armas, julgando se marchava contra eles incontinenti; lançam-se alguns dentro da praça aterrados. Manda Vercingetórix fechar as portas desta, para não ficarem desertos os arraiais. Mortos muitos dos inimigos, e tomados não poucos cavalos, retiram-se os Germanos.

10. Mapa da primeira batalha de Alésia

  • César inicialmente dividiu suas forças em oito grupos (5 e 6), ao redor da colina onde ficava a cidade. Percebendo que estava prestes a ser cercado, Vercingetórix ordenou um ataque de cavalaria (4), que foi rechaçado pela cavalaria dos germanos (7). Durante o combate, a cavalaria de César perseguiu os gauleses até os muros do acampamento em torno da fortaleza de Alésia (3), e Vercingetórix foi obrigado a mandar fechar os portões do oppidum (8) para impedir que muitos de seus homens, em pânico diante da investida germânica, fugissem do acampamento (2) em direção ao oppidum, local mais protegido, mas que não teria condições de abrigar um grande número de homens. Para proteger-se, César ordenou que fosse escavada uma trincheira na planície de Laumes (1), a oeste da fortaleza gaulesa, para impedir novos ataques durante a construção das fortificações.

LXXI - Antes que fosse pelos Romanos concluída a circunvalação, toma Vercingetórix a resolução de despedir durante a noite a toda a sua cavalaria. Aos seus que partiam, recomenda-lhes: "Que vão cada qual para as suas cidades, e reúnam para esta guerra a todos os que estiverem em idade de pegar em armas. Põe-lhes diante dos olhos todos os serviços que lhes havia prestado, e conjura-os a atenderam à sua segurança, e a não abandoná-lo aos inimigos, para sofrer torturas, a ele benemérito da liberdade comum; pois, se fossem

LXVIII - Negligentes em socorrê-lo, haviam de com ele perecer juntamente oitenta mil homens de flor. Que dado balanço nos mantimentos, mal tinha trigo para trinta dias, mas - esse podia aturar mais algum tempo poupando-se". Com tais recomendações, despede na segunda vela da noite a sua cavalaria em silêncio pela parte, a que não haviam ainda chegado às linhas de circunvalação. Ordena com pena e morte aos que desobedecerem, que lhe seja trazido todo o trigo que havia; o gado, de que os Mandúbios tinham recolhido grande quantidade, o distribui a cada um parcamente, e por intervalos; a todas as tropas, que tinha em frente da praça, fá-las recolher para dentro dela. Tomadas essas providências, dispõe-se a esperar as tropas auxiliares da Gália, e a sustentar a guerra.

  • Percebendo que seria incapaz de romper o cerco romano, Vercingetórix dispensou sua cavalaria, já que ela seria inútil num combate em terreno acidentado, onde não poderia usar sua mobilidade. O principal problema residia na escassez de suprimentos, pois não poderia alimentar oitenta mil homens durante muito tempo. Sendo assim, urgia evacuar a fortaleza, deixando para trás somente a infantaria, para protegê-la. Para proteger os víveres restantes, transfere-os para dentro das muralhas do oppidum.

11. Escudo romano LXIX - Ao fato de tudo pelos trânsfugas e cativos, assentou César nestes gêneros de fortificação. Abriu um fosso de vinte pés de largura, cujos lados eram cortados a pique, e cuja profundidade igualava a largura. Quatrocentos passos por detrás deste colocou todas as mais fortificações, isto, para que (pois via-se obrigado a abranger tamanho espaço, que não podia facilmente guarnecer com soldados), de improviso ou à noite não voasse alguma multidão de inimigos contra os entrincheiramentos, ou não pudessem de dia arremessar dardos contra os nossos ocupados no trabalho. No espaço que ficava de permeio, abriu outros dois fossos de quinze passos de largura, e profundidade igual, dos quais o interior em paragens campestres e baixas, encheu com água derivada do rio. Por detrás destes construiu um terrado e tr incheira de doze pés. A esta revestiu de parapeito e ameias, ficando nas junturas do parapeito com o terrado eminentes grandes cervos para dificultar a subida aos inimigos, e flanqueou toda a obra de torres, que distavam oitenta pés, umas das outras.

12. Legionário romano com seu equipamentoLXX - Tendo a um tempo de cortarem madeira, de proverem-se de trigo e fazerem tantas fortificações, necessário era que as nossas tropas ficassem reduzidas, por amor das que com semelhante destino partiam para longe dos arraiais. Ensaiavam, entretanto, os Gauleses paralisar as nossas obras, fazendo sortidas em muito vigor por todas as portas da praça. Por isso entendeu César dever acrescentar às fortificações o que fosse necessário, para que pudessem ser defendidas por menor número de soldados. Assim, cortavam-se troncos de árvores com ramos mui firmes, que descascados se aguçavam em ponta, e faziam-se covas contínuas de cinco pés de profundidade. Nestas, lançavam-se aqueles estrepes, que se prendiam pela parte de baixo, para que não pudessem ser arrancados, e ficavam eminentes pela parte dos ramos. Havia deles cinco ordens conjuntas e entrelaçadas, nas quais quem entrava, achava-se cravado por agudíssimas puas. Chamavam-lhes cepo. Diante destes, em ordens obliquamente dispostas em quincunce, faziam-se outras covas de três pés de profundidade e um pouco mais estreitas para baixo. Nestas se lançavam estrepes roliços da grossura das coxas com agudas pontas endurecidas ao fogo, os quais não saíam da terra mais de quatro dedos, e para cuja firmeza e estabilidade calcava-se um pé de terra em cada cova, sendo o resto para ocultar a cilada, coberto de vimes e mato. Havia deste gênero oito ordens, que distavam três pés umas das outras. Chamavam-lhes lírios pela semelhança com a flor. Diante destes escondiam-se enterrados, e espalhados por toda parte com pequenos intervalos, estrepes de um pé com pontas de ferro, aos quais chamavam aguilhões.

 

  • Estes dois capítulos descrevem de maneira bastante precisa o perfil da muralha construída pelos romanos para conter os gauleses. Ciente de sua inferioridade numérica, principalmente em efetivos de cavalaria, César concluiu que não havia maneira de vencer os gauleses, a não ser que reduzisse as forças inimigas. A fortificação por ele construída tinha exatamente este objetivo. As armadilhas em torno da muralha agiam como soldados extras, eliminando um grande número de combatentes antes que os mesmos pudessem atingir as defesas internas, e desta forma César otimizava ao máximo a eficiência dos seus reduzidos efetivos. Como podemos observar na figura abaixo, a muralha era uma impressionante obra de engenharia, que além de prover uma proteção bastante efetiva, devia provocar um forte impacto psicológico, desestimulando os atacantes e proporcionando segurança e a certeza da vitória aos legionários romanos.

13. Flor de lis 14. Aguilhão

 

Diante de tal estrutura, os gauleses devem ter perdido toda a iniciativa tática, já que estavam acostumados ao combate em campo aberto, fazendo uso extensivo da cavalaria. As camadas sucessivas de armadilhas entre o fosso externo e a muralha propriamente dita garantiam que o inimigo não conseguiria alcançá-la, sendo empalado pelas defesas fixas ou atingido pelas flechas e lanças atiradas da muralha pelos romanos. Mesmo que alguns conseguissem atingir as posições romanas, já estariam tão reduzidos em número que seriam facilmente derrotados. Conforme já afirmamos, a muralha era uma obra impressionante, não só por sua extensão (dezessete quilômetros na muralha interna, e vinte e dois na externa), como pelo conceito, extremamente avançado para a época, de defesa em níveis, ou camadas. Até hoje, vários especialistas em assuntos militares se surpreendem diante do que chamam de "milagre de Alésia", pois a vitória romana, em vista de uma inferioridade numérica de um para cinco, era virtualmente impossível. Não podemos esquecer também um fato que agravava sobremaneira a situação dos romanos, que conforme veremos mais adiante, tiveram de lutar em duas frentes opostas, o que é contra todas as regras dos manuais militares, e quase sempre resulta em desastre. Diante de todas estas dificuldades, não podemos deixar de admirar a determinação e a genialidade de César, que ao cercar Alésia como o fez, agiu da melhor maneira possível diante da situação, garantindo assim a vitória.

LXXI - Concluído isto, acompanhando as paragens as mais planas segundo a natureza do lugar, e abrangendo um espaço de quatorze mil passos, fez em sentido oposto iguais fortificações do mesmo gênero contra o inimigo externo, a fim que nem ainda por grande multidão, se acaso sobreviesse, pudessem ser cercadas as guarnições dos entrincheiramentos; e para que os nossos não se vejam obrigados a sair dos arraiais, ordena que todos se provejam de trigo e forragem para trinta dias.

  • Como já vimos no capítulo anterior, após a conclusão da muralha destinada a cercar a fortaleza de Alésia, César ordenou a construção de um anel de defesa externo, destinado a conter os reforços requisitados por Vercingetórix. Este anel externo possuía as mesmas estruturas defensivas do interno. Evidentemente, estes anéis de defesa não eram contínuos, sendo interrompidos por diversos acidentes geográficos, como rios e colinas mais íngremes. Entretanto, os romanos souberam aproveitar a irregularidade do terreno a seu favor, guarnecendo os pontos mais difíceis com torres de vigia e deslocando mais homens para os locais em que as defesas fixas eram mais escassas.

15. Corte transversal da circunvalação romana

16. Espadas gaulesasLXXII - Enquanto estas coisas se passam em Alésia, os Gauleses, convocados a conselho os principais, resolvem não chamar a todos os que pudessem pegar em armas, como queria Vercingetórix, mas exigir de cada cidade um certo número de homens; pois receavam na confusão de tanta multidão, não poder disciplinar os seus, nem distinguí-los dos outros, nem prover a todos de vitualhas. Dos Héduos e seus clientes Segusiavos, Ambluaretes, Aulercos Branovices, Branovios, exigem trinta e cinco mil homens; igual número de Arvernos conjuntamente com os Eleuteros, Cadurcos, Gabalos, Velavios, que estavam na sua dependência deles; dos Sequanos, Senones, Bituriges, Santonos, Rutenos, Carnutes, mil; dos Belovacos, dez mil; outros tantos, dos Lemovices; oito mil dos Pictões, Turões, Parisios e Helvécios; dos Sequones, Ambianos, Mediomatricos, Petrocorios, Nérvios, Morinos, Nitiobriges, cinco mil; dos Aulercos Cenomanos, outros tantos; dos Atrebates, quatro mil; dos Veliocassos, Lexovios e Aulercos Euburovices, três mil; outros três dos Rauracos e Boios; trinta mil de todas as cidades que vizinham com o oceano e soem chamar Armoricas, em cujo número se compreende os Curiosolites, Redones, Ambibarios, Caletes, Osismos, Lemovices, Unelos. Destes os Belovacos não compreenderam o número exigido, dizendo que haviam de fazer a guerra aos Romanos em seu nome, e a seu arbítrio, sem obedecer a ordem de quem quer que fosse; sendo, porém, rogados por Cômio, seu hóspede, enviaram dois mil homens.

LXXIII - Da fiel e útil coadjuvação deste Cômio se tinha César, como acima ficou demonstrado, servido os precedentes anos na Britânia; por tão assinalado serviço lhe havia isentado a cidade de tributo, restituindo-a em seus direitos, e a mesma, sujeitado os Morinos. Mas tão geral era a conspiração da Gália para reaver a liberdade, e recuperar a antiga glória das armas, que nem pelos benefícios, nem pela recordação da amizade, se demoviam os Gauleses; e todos concorriam para esta guerra com empenho e forças. Reunidos oito mil de cavalo, e cerca de duzentos e cinqüenta mil peões, nas fronteiras dos Héduos se fazia alardo destas tropas, verificava-se seu número, davam-se-lhes chefes. Ao Artrebate Cômio, aos Héduos Viridomaro e Eporedórix, ao Arverno Varcaci Velauno, primo de Vercingetórix é conferido o comando supremo, juntam-se a estes os escolhidos das cidades, com cujo conselho devia a guerra ser feita. Partem todos para Alésia cheios de ardor e confiança, nem havia um só dentre eles, o qual julgasse poder suportar-se sequer o aspecto de tamanha multidão, principalmente em um combate duplo, pelejando-se da praça por sortida, apresentando-se de fora tantas tropas de infantaria e cavalaria.

  • Como podemos ver pelo capítulo acima, é impressionante a precisão de César ao descrever a composição dos reforços enviados a Vercingetórix. Conforme já dissemos anteriormente, o total das tropas de reforço gaulesas atingia aproximadamente duzentos e sessenta mil homens, sendo duzentos e cinqüenta mil a pé, e mais ou menos dez mil a cavalo.

LXXIV - Mas os que se achavam sitiados em Alésia, passado o dia em que aguardavam os socorros dos seus, consumido todo o trigo, ignorando o que se passava nos Héduos, deliberavam em conselho sobre a resolução que deviam tomar. E emitidos vários pareceres, dos quais uns propendiam para a rendição, outros, para a sortida da praça enquanto havia forças para tentá-la, não devo passar em silêncio o discurso de Critognato, por causa da singular e nefanda crueldade do orador. Este, descendente de família mui preclara entre os Arvernos, e homem de grande autoridade, falou nesta substância: "Nada direi do parecer daqueles que dão o nome de rendição à mais vergonhosa escravidão, pois em minha opinião nem devem os tais ser considerados cidadãos, nem ter assento neste conselho. Respondo àqueles que opinam pela sortida, e em cujo alvitre parece, no sentir de todos, residir a memória do antigo valor. Fraqueza é, e não coragem, o não poder suportar por algum tempo a penúria. Mas depressa se encontra quem se ofereça à morte, que quem sofra a dor com paciência. Eu aprovaria certamente este parecer (tanto em mim pode o pundonor), se visse que nenhuma outra perda acarretava, se não a da nossa vida: mas no tomar uma resolução, atentemos em toda a Gália, que convocamos em nosso auxílio. Que ânimo julgais que teriam nossos parentes e consangüíneos, se, mortos estes oitenta mil homens num lugar, se vissem obrigados a combater quase sobre os seus mesmos cadáveres? Não priveis do vosso auxílio aqueles, que por vossa causa desprezaram o seu perigo, nem vades por vossa estultícia, temeridade ou fraqueza, perder a toda Gália, e submetê-la à escravidão. Porque não vieram no dia aprazado, duvidais porventura da fidelidade e constância deles? Como assim? Julgais que os romanos se empregam quotidianamente naquelas fortificações ulteriores para mostrar ânimo? Se fechada toda a entrada não podeis ser certificados por correios que a vinda dos vossos se aproxima, sabei-o pelo testemunho dos mesmos, que sobressaltados com o temor dela, nem dia nem noite interrompem o trabalho da fortificação. Qual é, pois, o conselho que dou? Fazer o mesmo que fizeram os nossos antepassados em guerra de nenhuma sorte igual, a dos Cimbros e Teutões, na qual compelidos para as praças e coagidos por igual penúria, sustentaram a vida com os corpos dos que pela idade pareciam inúteis para a guerra, e não se renderam aos inimigos. Se disto não tivéssemos exemplo, julgaria eu, todavia, mui belo instituí-lo e transmiti-lo aos vindouros, por amor da liberdade. E que houve jamais semelhante àquela guerra? Assolada a Gália, e ocasionada grande calamidade, retiraram-se por fim os Cimbros de nossas fronteiras, e demandaram outras terras; direitos, leis, territórios, liberdade, tudo isso nos deixaram. Mas os Romanos que outra coisa exigem, ou querem, a não se fazer assento, levados da inveja, nas terras e cidades de todos os que depararam nobilitados e potentes pelas armas, impondo-lhes o jugo de uma eterna escravidão? Nunca fizeram a guerra com outro pressuposto. Se ignorais o que vai pelas nações longínquas, atentai na vizinha Gália, que reduzida à província, com a jurisdição e as leis mudadas, e sujeita às segures, vê-se opressa com perpétua escravidão."

  • Em virtude de sua situação crítica, pois seus mantimentos estavam se esgotando, surgiram algumas dissensões entre os gauleses, sendo que alguns chegaram inclusive a propor a rendição. Em resposta a tais idéias, alguns se indignaram, principalmente Critognato, um Arverno influente, que proferiu um discurso inflamado, incitando os gauleses a lutarem até a morte e recomendando que aqueles que não tivessem condição ou vontade de lutar, partissem, para economizar os já tão escassos víveres.

LXXV - Expostos os pareceres, resolvem que os que, por doentes ou em razão da idade, eram inúteis para a guerra, se retirem da praça e exponham antes a tudo, que a sofrer as conseqüências do parecer do Critognato: que, se o caso o requeresse, e os auxílios se demorassem, devia-se, todavia, lançar antes mão daquele alvitre, que renderem-se e sujeitarem-se a uma paz ignominiosa. Os Mandubios, que os haviam recebido na praça são obrigados a sair com mulheres e filhos. Aproximando-se de nossas fortificações, pediam estes em lágrimas com todo gênero de súplicas, que os socorrêssemos com alimentos, recebendo-os por escravos. Mas César, dispondo guardas nas trincheiras, vedava que fossem recebidos.

  • Seguindo o parecer de Critognato, Vercingetórix manda embora as mulheres, os velhos, as crianças e todos os que não tinham condições de combater.

LXXIX - Entretanto, Cômio e os mais chefes, a quem fora conferido o comando supremo, chegam com todas as tropas a Alésia, e ocupando uma colina exterior, acampam a não mais de mil passos de nossas fortificações. No dia seguinte, tirando a cavalaria dos arraiais, enchem toda aquela planície, que dissemos estender-se três mil passos em comprimento, e nas alturas postam as tropas de pé um pouco encobertas deste lugar. Havia vista de Alésia para o campo. Correm, avistadas estas tropas auxiliares; congratulam-se entre si; excitam-se à alegria os ânimos de todos. Tiram pois as tropas da praça, e postam-nas junto aos muros; cobrem com grades o próximo fosso, e enchem-no com faxina; preparam-se para a sortida, e todas as ocorrências.

17. Sandália de legionário romano Ao chegarem ao local da batalha, durante a noite, as tropas gaulesas de reforço estabeleceram-se numa colina a aproximadamente mil e quinhentos metros das fortificações romanas. Do oppidum, avistava-se todo o campo de batalha, e os gauleses sitiados, tomados de novo ânimo, começaram a preparar um ataque, preenchendo os fossos mais externos com faxinas e toda a espécie de entulho.

 

LXXX - Disposto todo o exército a uma e outra parte das fortificações, para, quando fosse necessário, ocupar cada um e conhecer o seu lugar, manda César sair dos arraiais a cavalaria, e travar combate. Havia de todos os arraiais, que de quaisquer partes ocupavam alturas, vista para o campo, e todos os soldados esperavam atentos o êxito da batalha. Tinham os Gauleses intermeado entre os de cavalo raros arqueiros e soldados armados à ligeira, que socorriam aos seus que cediam, e sustentavam o ímpeto dos nossos cavaleiros. Muitos destes se retiravam feridos da peleja. Acreditando irem os seus de cima, e vendo serem os nossos assoberbados pela multidão, de todas as partes os Gauleses, não só os da praça, como os que tinham vindo em auxílio deles, não cessavam de animar os seus com clamor e ululato. Como a ação se passava à vista dos dois campos, nenhum ato de covardia ou de bravura podia ficar oculto; eram uns e outros estimulados ao valor, já pelo desejo de glória, já pelo temor da ignomínia. Combatendo-se quase desde o meio dia até o pôr-do-sol com duvidoso resultado, os Germanos, por uma parte, lançaram-se em esquadrões cerrados sobre os inimigos, e os rechaçaram; postos estes em fuga, são os arqueiros envolvidos, e mortos. Da mesma forma os nossos, pelas demais partes, os perseguiram até os arraiais e não lhes deram tempo de tornar a reunir-se. Mas os que tinham saído de Alésia, quase perdido a esperança da vitória, retiram-se tristes para dentro da praça.

18. Mapa da segunda batalha de Alésia

  • Ao amanhecer do dia, das fortificações romanas, avistava-se a imensa tropa inimiga (1 e 3). Por volta do meio-dia, começou a segunda batalha de Alésia, quando César ordenou que a cavalaria germânica saísse do acampamento e atacasse o inimigo (6). Os gauleses absorvem o ataque com unidades de cavalaria, apoiadas por alguns arqueiros e infantaria ligeira (2). O combate prosseguiu, de forma inconclusiva, com pequenas escaramuças até o final do dia, quando a cavalaria germânica atacou em formação fechada, em um único ponto das defesas gaulesas, fazendo com que os cavaleiros gauleses recuassem, deixando os arqueiros e a infantaria leve sem proteção, permitindo que fossem cercados e massacrados pelos romanos. Houve também neste dia um ataque vindo da direção da cidadela (4), que no entanto, também não conseguiu transpor as defesas romanas. Os números (5) e (7) indicam posições de acampamentos romanos.

LXVIII - Metido de permeio um dia, e aprestado neste espaço grande número de grades, escadas, arpéus, saem os Gauleses dos arraiais em silêncio à meia noite e aproximam-se de nossas fortificações que olhavam para o campo. Levantando de repente clamor, pelo qual os que estavam sitiados na praça, soubessem da aproximação deles, entram a lançar grades nos fossos, a arredar os nossos das trincheiras com fundas, setas, pedras, a dispor tudo o mais que respeitar a um assalto. Ao mesmo tempo, ouvindo o clamor, dá Vercingetórix sinal aos seus com a trombeta, e fá-los sair da praça. Como nos precedentes dias, tomam os nossos nas fortificações o lugar que a cada um havia sido assinado: com fundas, seixos de librar, e azagaias, que nelas tinham disposto, e com pelotas aterram os Gauleses. Tirada a vista pelas trevas, recebem-se muitas feridas de parte a parte. Muitos arremessões são arrojados pelos tormentos. Mas os lugares tenentes M. Antônio, e C. Trebônio, a quem coubera a defesa destes postos, quando entendiam estarem os nossos sendo apertados em algum ponto, dos fortes mais distantes tiravam destacamentos, que lhes enviavam em socorro.

  • Passou-se um dia de trégua, quando as forças gaulesas preparam-se para o próximo ataque (1). Por volta da meia-noite, iniciando a terceira batalha, os gauleses sitiados em Alésia, alertados pelos gritos de seus companheiros no exterior das fortificações romanas, iniciam um ataque (3), lançando grades sobre os fossos e atirando diversos tipos de projéteis sobre os defensores romanos (2), que respondem de forma equivalente.

19. Mapa da terceira batalha de Alésia

LXXXII - Enquanto os Gauleses estavam mais longe das fortificações, causavam-nos mais danos com a multidão de projéteis; depois que chegaram para mais perto, ou sem saber nos estrepes se feriam, ou caindo nas covas, se espetavam, ou atravessados de pilos lançados da trincheira e torres, pereciam. Depois de recebidas de toda a parte muitas feridas, sem tomarem ponto algum fortificado, ao aproximar-se o dia, temendo que por sortida dos arraiais superiores, os atacássemos pelo flanco aberto, retiraram-se para os seus. Mas, os de dentro da praça, enquanto tiravam para fora o que Vercingetórix tinha aprestado para a sortida, cegam os primeiros fossos e nisso se demoram, antes que chegassem às nossas fortificações, reconheceram haverem-se retirado os seus. Assim voltam para a praça, sem levar a sortida a efeito.

  • Conforme observamos pelo relato de César, as fortificações construídas pelos romanos cumpriam sua função de forma excelente, já que os romanos sofriam mais danos pelos projéteis e armas de arremesso gaulesas que por combate corpo-a-corpo. Somente alguns dos gauleses, os que atacaram a parte internas das fortificações conseguiram atingir a muralha romana, para logo serem rechaçados. Evidentemente, os romanos também faziam uso extensivo de armas de "artilharia", com suas balistas e scorpios, infligindo grandes danos às fileiras gaulesas graças ao poder e ao alcance destas armas. Quanto aos reforços de Vercingetórix, praticamente nem chegaram perto da paliçada, quando surpreendidos pelas armadilhas romanas, morriam e feriam-se em grande número, tornando-se um alvo fácil para as flechas e pilos arremessados pelos legionários de César. Em meio a esta carnificina, e com o flanco desguarnecido, foram atacados pela cavalaria romana e acabaram por se retirar pela manhã, dando fim à terceira batalha. Idêntico destino tiveram as forças de Vercingetórix, que incapazes de suplantar as defesas romanas, e vendo que seus companheiros do lado externo haviam se retirado, desistiram da sortida.

 

20. Balista romanaLXXXIII - Repelidos duas vezes com grandes perdas, deliberam os Gauleses sobre o que lhes convém fazer; chamam os conhecedores dos lugares: deles sabem qual a situação e fortificação dos arraiais superiores. Havia para o setentrião uma colina, que pela grandeza do circuito não tinham os nossos podido compreender na circunvalação: viram-se pois obrigados a fazer arraiais em lugar quase desvantajoso e docemente inclinado. A estes ocupavam os lugar-tenentes C. Antísio Regino e C. Canínio Rebilo com duas legiões. Conhecidos os sítios pelos exploradores, os generais inimigos escolhem entre todas as tropas sessenta mil homens daquela cidades, que tinham a maior nomeada de bravura: combinam entre si secretamente o que, e como convenha obrar; designam para o ataque a hora do meio-dia. A estas tropas prepõem o Averno Verassivellauno, um dos quatro generais, parente de Vercingetórix. Saindo dos arraiais na primeira vela da noite, e concluindo o caminho quase ao nascer do dia, ocultou-se ele por trás da montanha e ordenou aos soldados que repousassem do trabalho noturno. Como pareceu apropinquar-se meio-dia, avançou, para aqueles arraiais que acima dissemos, e entraram ao mesmo tempo, a cavalaria a aproximar-se de nossas fortificações que olhavam para o campo, e as mais tropas a mostrar-se em frente dos arraiais.

  • 21. Scorpio romanoApós o fracassado ataque, as forças gaulesas retornam aos acampamentos para descansar e se reagrupar. Durante o dia, resolvem que o próximo ataque se daria no dia seguinte por volta do meio-dia. Durante o conselho, descobrem, consultando aqueles que conheciam melhor o terreno, os pontos mais fracos da fortificação romana, e decidem que o local ideal para o ataque seria uma colina ao norte, que por sua extensão não estava devidamente protegida pela circunvalação romana. Ao longo da noite, deslocam parte de suas tropas para as posições previamente combinadas, e por volta do meio-dia inicia-se a quarta batalha de Alésia.

LXXXIV - Ao ver da cidadela de Alésia os seus, sai Vercingetórix da praça, levando dos arraiais as longas hásteas aguçadas, as galerias cobertas, as foices e o mais que tinha preparado para a sortida. Combate-se ao mesmo tempo em todos os lugares, e tenta-se tudo: se alguma parte parece menos forte, contra ela se corre. O exército romano, distribuído por tantas fortificações, não acode com facilidade a muitos pontos. Aterra, sobremodo, aos nossos o clamor que no combate se lhes levantou pela retaguarda, porque vêm a sua segurança posta na bravura alheia, sendo que o perigo em distância se nos figura ordinariamente maior.

  • O ataque se inicia quando as forças de Verassivellauno marcham para seu objetivo (1), ao mesmo tempo em que a cavalaria gaulesa se dirige para o mesmo local (3). Do outro lado, à oeste, o restante da infantaria gaulesa se posiciona em frente às fortificações romanas (4 e 5), num ataque diversionista. Da cidadela (6), Vercingetórix percebe a movimentação das tropas, e também inicia um ataque. O combate generaliza-se, tornando-se bastante confuso. Por toda parte, os romanos tem de suportar o assalto dos gauleses (7 e 7 bis). A batalha prossegue, com intensidade cada vez maior.

22. Mapa da quarta batalha de Alésia

LXXXV - De um lugar sobranceiro que ocupa, nota César o que se passa em cada ponto; envia socorro aos que vê em aperto. A nenhum dos dois exércitos escapa ser esta a ocasião em que se deve empregar maior esforço para vencer: aos Gauleses, se não escalarem as nossas fortificações, nenhuma esperança lhes resta de salvação; aos Romanos, se bem as defenderem contra a escalada, se depara o termo de todos os trabalhos. As fortificações superiores, para onde dissemos haver sido enviado Vercassivelauno, são as que se acham em maior risco. A desigual sumidade de colina, em cuja encosta se acham assentadas, é para elas ameaçador padrasto. Uns arrojam projéteis de cima, outros acercam-se das trincheiras, formando testudes, revezam-se os fatigados por assaltantes de fresco. O terrado que todos lançam sobre o espaço fortificado, não só proporciona subida aos Gauleses, como inutiliza as ciladas que haviam os Romanos ocultado na terra; aos nossos, nem armas, nem forças, são já suficientes.

  • Ao norte das fortificações, Verassivellauno força a penetração nas linhas romanas (2), comprometendo ainda as já fracas defesas do local. Os gauleses atacam em ondas sucessivas, e são contidos pelos romanos em formação de tartaruga. Os romanos lançam todas as suas javalinas, e ficam sem maneira de reagir, a não ser em combate corpo a corpo.

LXXXVI - Ciente disto, manda César a Labieno com seis coortes em socorro aos que se acham em aperto, ordenando-lhe que, se não puder sustentar o assalto, faça uma sortida com as coortes, mas isto em caso extremo. Vai ter com os demais, e exorta-os a não sucumbirem ao trabalho, demonstrando-lhes que deste dia e hora, está pendente o fruto de todas as precedentes batalhas. Os da praça, desesperando de forçar as posições, que olhavam para o campo, por causa da grandeza das fortificações, tentam escalar as das alturas: para aí transportam quanto haviam preparado. Com uma nuvem de dardos desviam aos que combatiam das torres, cegam os fossos com terrados e grades, cortam a trincheira e parapeito com foices.

  • César reforça a posição com seis coortes, comandadas por Labieno (2 bis). Enquanto isso, Vercingetórix tenta romper as defesas romanas, concentrando seu ataque em único ponto (8), no qual consegue romper a paliçada a golpes de machado.

23. Centurião romanoLXXXVII - Manda para ali primeiramente o adolescente Bruto com seis coortes, depois ao lugar-tenente C. Fábio com outras sete, por fim, tornando-se a peleja mais acesa, conduz em pessoa tropas frescas de reforço. Restabelecida a peleja, e rechaçados os inimigos, dirige-se para onde enviara a Labieno; tira quatro coortes do próximo forte; ordena a parte da cavalaria que o siga, a parte que torneie as fortificações exteriores, e acometa o inimigo pela retaguarda. Depois que nem baluartes, nem fossos, podiam resistir à força dos inimigos. Labieno reúne quarenta coortes, que o acaso lhe ia deparando dos fortes mais vizinhos, e comunica a César por expressos o que entende deve fazer-se. Dá-se César pressa, a fim de assistir à batalha.

  • Vendo que a fortificação havia sido rompida, César envia treze coortes ao local, comandadas por Bruto e Fábio (8 bis), e em seguida dirige-se pessoalmente ao local com novas tropas. Os reforços surtem efeito e os gauleses são rechaçados. A seguir, César corre para o local onde combatia Labieno, seguido por quatro coortes e parte de sua cavalaria (9). Enquanto isso, o restante da cavalaria contornou a colina ao norte, para surpreender as forças de Verassivellauno pela retaguarda. Antes da chegada de César, Labieno compreende que suas forças não eram suficientes para conter o ímpeto do ataque gaulês, e manda chamar mais trinta e nove coortes, informando a César de seus planos. César acelera a marcha, para comandar pessoalmente a batalha.

LXXXVIII - Conhecida a sua vinda pela cor do vestido, que costumava usar nas batalhas por insígnia e avistados os esquadrões de cavalaria e as coortes, que mandara segui-lo, porquanto das alturas se devassavam os lugares declives, por onde vinha, travam os nossos a batalha. O clamor se levanta de ambas as partes, é seguido de outro levantado das trincheiras e de todos os fortes. Omitidos os pilos, atacam os nossos a espada. De repente, avista-se a cavalaria pela retaguarda ; vêm chegando outras coortes. Os inimigos voltam costas; aos que fogem sai ao encontro a cavalaria. Faz-se grande carnificina. Sedulio, caudilho e principal dos Lemovices, é morto; o Averno Vercassivelauno é tomado vivo na fuga; setenta e quatro signas militares são apresentadas a César; de tamanho número poucos dos inimigos se recolheram aos arraiais sem feridas. Os da praça, vendo a mortandade e fuga dos seus, retiram as tropas de junto das nossas fortificações, sem mais esperança de salvação. Faz-se logo, ouvido isto, fuga dos arraiais Gauleses. E se os soldados não estivessem cansados dos freqüentes reforços e do trabalho de todo o dia todas as tropas inimigas poderiam ter sido destruídas. A cavalaria enviada à meia-noite alcança a retaguarda dos inimigos; grande número é aprisionado e morto; os que restam da fuga retiram-se para suas cidades.

  • No clímax da batalha, os gauleses percebem a chegada da cavalaria romana pela retaguarda (10). Diante desta nova ameaça e da chegada das novas forças romanas, sob o comando de Labieno e César, os gauleses rompem a formação e se reagrupam num único ponto. Com a formação rompida, as forças gaulesas perderam a capacidade de reagir adequadamente à carga da cavalaria romana, e acabaram por ser massacradas. Os gauleses sobreviventes desistem do combate. Vercingetórix, ao ver a debandada de seus companheiros, retorna à Alésia. Era o fim da quarta batalha e do cerco de Alésia.

LXXXIX - No seguinte dia Vercingetórix, convocado conselho dos seus, demonstra-lhes que havia empreendido a guerra, não por interesse seu particular, mas pela liberdade comum, e pois que se tinha que ceder à força, se lhes oferecia para uma das duas coisas, ou para com a sua morte satisfazerem aos Romanos, ou para o entregarem vivo aos mesmos, como melhor entendessem. São a tal respeito mandados embaixadores a César, que ordena sejam entregues as armas e trazidos à sua presença os chefes. Estabeleceu o mesmo o seu tribunal num forte em frente dos arraiais: são para ali levados os chefes; rende-se-lhe Vercingetórix, são depostas as armas. Reservando os Héduos e os Arvernos, a ver se por eles recobrava as respectivas cidades, o restante dos cativos o distribuiu por cabeça a cada soldado a título de despojo.

XC - Concluído isto, parte para os Héduos; recebe a submissão da cidade. Mandados para ali, os embaixadores dos Arvernos, prometem fazer quanto lhes ordenasse. Exige-lhes grande número de reféns. Envia as legiões a quartéis de inverno. Restitui aos Hédulos e aos Arvernos cerca de vinte mil cativos. A.T. Labieno com duas legiões e a cavalaria manda-o partir para os Sequanos, dando-lhe por adjunto a M. Sempronio Rutilo. Ao lugar-tenente C. Fábio e a L. Minúcio Basilo com outras duas legiões coloca-os nos Remos, para que não venham estes a sofrer alguma invasão dos Belovacos comarcãos seus. A C. Antístio Regino, a T. Sêxtio, a C. Canínio Rebilo, cada um com uma legião, envia-os o primeiro para os Ambilaretos, o segundo para os Bituriges, o terceiro para os Rutenos. A Q. Túlio Cícero e P. Sulpício, coloca-os em Cabilão e Masticão entre os Hédulos junto ao Arar, a fim de que entendam no abastecimento de víveres. Resolve o mesmo invernar em Bibracte. Recebidas estas comunicações de César, fazem-se súplicas públicas em Roma por vinte dias.

  • Por fim, Vercingetórix rende-se. Todas as armas são entregues aos romanos. Vercingetórix é levado a Roma para o triunfo de César. Dois anos depois, a Gália torna-se província romana.
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