O ÚLTIMO CONFLITO

Em Daniel 8:14 encontra-se uma declaração que reclama nosso estudo. Reza assim: "Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado".

Qualquer declaração relativa ao santuário, é importante. Em particular o é o texto acima citado. Declara que, em determinado tempo, o santuário será purificado. Isto é de algum modo extraordinário, pois o santuário terrestre era purificado todos os anos, no Dia da Expiação. Por que, então, devia decorrer um certo tempo " dois mil e trezentos dias " antes que se efetuasse essa especial purificação?

O capí­tulo oitavo de Daniel contém uma importante profecia. Descreve uma visão tida por Daniel quanto a um carneiro e a um bode:

"No terceiro ano do reinado do rei Belshazzar apareceu-me uma visão, a mim, Daniel, depois daquela que me apareceu no princí­pio. E vi, na visão (acontecendo, quando vi, que eu estava na cidadela de Susã, na proví­ncia de Elã), vi pois, na visão, que eu estava junto ao rio Ulai. E levantei os meus olhos, e vi, e eis que um carneiro estava diante do rio, o qual tinha duas pontas; e as duas pontas eram altas, mas uma era mais alta do que a outra; e a mais alta subiu por último.

"Vi que o carneiro dava marradas para o ocidente, e para o norte e para o meio-dia; e nenhum dos animais podiam estar diante dele, nem havia quem pudesse livrar-se da sua mão; e ele fazia conforme a sua vontade, e se engrandecia. E, estando eu considerando, eis que um bode vinha do ocidente sobre toda a terra, mas sem tocar no chão; e aquele bode tinha uma ponta notável entre os olhos; e dirigiu-se ao carneiro que tinha as duas pontas, ao qual eu tinha visto diante do rio; e correu contra ele com todo o í­mpeto da sua força. E o vi chegar perto do carneiro, e irritar-se contra ele; e feriu o carneiro, e lhe quebrou as duas pontas, pois não havia força no carneiro para parar diante dele;

 

E o lançou por terra, e o pisou a pés; não houve quem pudesse livrar o carneiro da sua mão. E o bode se engrandeceu em grande maneira; mas, estando na sua maior força, aquela grande ponta foi quebrada: e subiram no seu lugar quatro também notáveis, para os quatro ventos do céu". Dan. 8:1-8.

A interpretação é dada nos versí­culos 20 e 21: "Aquele carneiro que viste com duas pontas são os reis da Média e da Pérsia; mas o bode peludo é o rei da Grécia; e a ponta grande que tinha entre os olhos é o rei primeiro".

Entre os comentadores há unânime acordo em que "a ponta grande" é Alexandre o Grande. Enquanto se achava ainda "na sua maior força aquela grande ponta foi quebrada". Vers. 8. Em seu lugar surgiram quatro outras, denotando as quatro divisões do Grande Império pela morte de Alexandre. Vers. 22.

A parte da profecia em que estamos especialmente interessados, começa com o versí­culo nove. "E de uma delas saiu uma ponta mui pequena, a qual cresceu muito para o meio-dia, e para o oriente, e para a terra formosa. E se engrandeceu até ao exército do céu; e a alguns do exército, e das estrelas, deitou por terra, e as pisou. E se engrandeceu até ao prí­ncipe do exército: e por ele foi tirado o contí­nuo sacrifí­cio, e o lugar do seu santuário foi lançado por terra. E o exército lhe foi entregue, com o sacrifí­cio contí­nuo, por causa das transgressões; e lançou a verdade por terra; fez isso, e prosperou. Depois ouvi um santo que falava; e disse outro santo aquele que falava: Até quando durará a visão do contí­nuo sacrifí­cio, e da transgressão assoladora, para que seja entregue o santuário, e o exército, a fim de serem pisados? E ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado".

é evidente que a profecia se refere à "ponta mui pequena" que "cresceu muito", Alexandre é a "ponta grande". Dan. 8:21. O poder simbolizado pela ponta pequena começou de maneira obscura, mas "cresceu muito". é digno de nota o que faz essa ponta. Ela "destruirá maravilhosamente" o povo de Deus. Vers. 24. Isto é feito, não tanto por guerra, mas "por causa da tranqüilidade", quer dizer, em paz. Vers. 25. é entendido e astuto, agindo por meio de "engano". Vers. 25. é poderoso, mas "não pelo seu próprio poder", e "fez isso, e prosperou". Vers. 24 e 12.

 

é um poder orgulhoso, pois "no seu coração se engrandecerá", "e se engrandeceu até ao prí­ncipe do exército", Vers. 25 e 11. é um poder perseguidor, pois destrói "os fortes e o povo santo", e todo um "exército" lhe foi entregue para ser pisado. Vers. 24, 10 e 13. Ensina falsas doutrinas, e "lançou a verdade por terra". Vers. 12. Combate contra a verdade; o santuário é "lançado por terra" e pisado, e isto "por causa das transgressões". Vers. 11-13. O apogeu é atingido quando ele se levanta "contra o Prí­ncipe dos prí­ncipes". é então quebrado "sem mãos". Vers. 25. Quando Daniel viu tudo isto em visão, tão afetado ficou, que, diz, "enfraqueci, e estive enfermo alguns dias". Ficou espantado com a visão, e nem ele nem ninguém a compreendeu. Vers. 27.

Interessamo-nos especialmente no tempo mencionado pelo versí­culo catorze. A conversa tida pelos dois anjos, foi evidentemente para benefí­cio de Daniel. A visão do carneiro e do bode parece ser relatada apenas para levar a história da ponta pequena que "cresceu muito". Quando Daniel viu as perseguições efetuadas por esse poder, e como ele prosperava por métodos astutos e se engrandecia e destruí­a "maravilhosamente", naturalmente cogitou por quanto tempo aquilo havia de durar. Na conversa dos anjos, é lhe dito que deve haver um perí­odo de dois mil e trezentos dias, durante os quais, "o santuário, e o exército" seriam "pisados", e esse mau poder havia de prosperar.

Como esse poder "fortalecerá a sua força, mas não pelo seu próprio poder"? Parece uma contradição. Como poderia deitar por terra "alguns do exército, e das estrelas" e pisa-las? Como poderia derribar e espezinhar o santuário? Como poderia lançar "a verdade por terra", e prosperar nessa obra? Entretanto, é justamente o que havia de fazer. Vers. 24, 10-12 e 25. Daniel ficou atônito, não compreendendo a visão.

Mas ele ficou mais do que atônito. Quando viu o que esse poder faria ao santuário, à religião, ao povo de Deus, à verdade, ficou "enfermo alguns dias". Vers. 27. Aí­ estava um poder blasfemo que perseguiria o povo de Deus, tentando destruir a verdade, e prosperando nesse empenho. Até mesmo o santuário seria lançado por terra e apisoado.

 

O único raio de esperança quanto a essa visão, dizia respeito ao tempo. Nem para sempre seriam conculcados o santuário e a verdade. Esta voltaria ao seu pedestal. Reivindicar-se-ia. No final de dois mil e trezentos dias o santuário seria purificado. Esse tempo devia o povo de Deus aguardar.

Tal acontecimento, em si, não poderia, entretanto, representar grande conforto a Daniel. Que significavam os dois mil e trezentos anos? Quando deviam começar? Quando terminar? Não o compreendia. Começou a estudar mais fervorosamente do que nunca. Seu estudo o levou a compreender "pelos livros que o número de anos, de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que deviam acabar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos". Daniel 9:2. Ainda não recebera, porém, luz sobre os dois mil e trezentos dias. Teriam estes qualquer relação com o término dos setenta anos? Começariam, porventura, ao finalizar-se esse perí­odo? Não o sabia Daniel. Entregou-se, pois, à oração. Era preciso que recebesse luz sobre a questão.

Mantêm alguns comentaristas que a ponta pequena, que se tornou excessivamente grande, representa o reino dos Seleucidas, especialmente sob o reinado do Antí­oco Epifânio e Antí­oco o Grande. Esta opinião justifica sérias objeções. é verdade que esses reis perseguiram. Eram astutos, í­mpios, arrogantes. Dificilmente se poderia, porém, dizer que o foram mais que outros, antes e depois deles. Ninguém dirá que foram maiores que Alexandre o Grande. A visão, entretanto, o requer. Antí­oco Epifânio, a quem muitos julgam referir-se especialmente a passagem, era perseguidor; interveio no ritual do santuário; nem por isso, entretanto, era tão grande que merecesse a atenção dispensada na visão à ponta pequena. Desempenhou por alguns breves anos a sua parte no drama e passou, não deixando rastos como os de Alexandre, e teria há muito tomado lugar entre os insignificantes reis daquele perí­odo, não fossem os persistentes esforços de comentaristas para lhe dar indevida preeminência.

A visão do capí­tulo 8 de Daniel é uma visão isolada. A Medo-Pérsia e a Grécia não são aí­ mencionadas pela primeira vez. O capí­tulo 7 trata de assunto correlato e menciona os animais que representam a Medo-Pérsia, e a Grécia, referindo-se também a uma "ponta pequena".

 

Diz o profeta: "Estando eu considerando as pontas, eis que entre elas subiu outra ponta pequena, diante da qual três das pontas primeiras foram arrancadas; e eis que nesta ponta havia olhos, como olhos de homem, e uma boca que falava grandiosamente". Dan. 7:8. Esta ponta pequena intrigava a Daniel. Queria saber mais "daquela ponta... que tinha olhos, e uma boca que falava grandiosamente, e cujo parecer era mais firme do que o das suas companheiras". Vers. 20. Vira que "esta ponta fazia guerra contra os santos, e os vencia". Vers. 21. Viu, mais, que "proferirá palavras contra o altí­ssimo, e destruirá os santos do Altí­ssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão por um tempo, e tempos, e metade dum tempo". Vers. 25. Finalmente, porém, "o juí­zo estabelecer-se-á, e eles tirarão o seu domí­nio, para o destruir e para o desfazer até ao fim". Vers. 26. O capí­tulo assim termina: "Aqui findou a visão. Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos muito me espantavam, e mudou-se em mim o meu semblante; mas guardei estas coisas no meu coração". Vers. 28. é fácil ver que esta profecia trata de modo geral dos mesmos acontecimentos considerados no capí­tulo 8.

Daniel ficara perturbado com o que vira. No capí­tulo 7 fora-lhe apresentado um poder perseguidor que fazia guerra aos santos do Altí­ssimo, falando contra Deus, cuidando em mudar tempos e leis " poder que era diferente de outros reis (Vers. 24), e que seria afinal destruí­do. Esse poder era a "ponta pequena", que tinha olhos como os de homem, e boca que falava grandiosamente. Quem seria representado por tal poder? Daniel pensou muito e acabou perplexo. "Meus pensamentos muito me espantavam". ("perturbaram", Trad. Bras.), confessa ele. Vers.28. Mas conservou no coração o assunto. Estava certo de que Deus tinha maior conhecimento. O capí­tulo 8 volta a tratar desse poder, e o capí­tulo 9 continua a explanação.

é impossí­vel conceber que a ponta pequena de Daniel 7 seja Antí­oco Epifânio ou qualquer outro Antí­oco. Quase todos os comentadores protestantes da escola antiga concordam em que se refere ela ao papado, no qual desde logo se vê que encontra completo cumprimento. Como poderia ser verdade, quanto a qualquer dos Antí­ocos, que "fazia guerra contra os santos, e os vencia.

 

Até que veio o Ancião de dias, e foi dado o juí­zo aos santos do Altí­ssimo; e chegou o tempo em que os santos possuí­ram o reino"? Vers. 21 e 22. Antí­oco há muito que está morto. Reinou pouco tempo apenas. De que outro poder senão o papado é verdade que fez guerra aos santos do Altí­ssimo, ou tentou mudar tempos e leis?

Não são a sagacidade, a sabedoria, a vasta polí­tica do papado expressivamente sugeridos pela ponta que tinha "olhos, como olhos de homem, e uma boca que falava grandiosamente"? Vers.8 Cremos achar-nos sobre sólida base exegética quando sustentamos que a ponta pequenas de Daniel 8 é Roma, primeiro pagã e depois papal; e a ponta pequena de Daniel 7, o papado.

Estas considerações nos ajudarão em nossa tentativa de estabelecer a significação dos dois mil e trezentos dias de Daniel 8:14. Ocorrem no meio de uma profecia que trata de um poder que existiu por mais tempo do que qualquer outro sobre a terra. Sendo esse perí­odo parte de uma profecia, não há dúvida de que se trata do tempo profético. Neste caso, os dois mil e trezentos dias representam outros tantos anos, de acordo com a consagrada interpretação das profecias. "Um dia te dei por cada ano". Ezeq. 4:6.

Se aceitarmos o ponto de vista de que a ponta pequena de Daniel 8 se refere a Roma imperial e à igreja católica romana, torna-se nosso dever descobrir qualquer relação possí­vel entre ela e o santuário mencionado em Daniel 8:14. Consideremos agora esse assunto.

A igreja católica romana constitui uma tentativa de restabelecimento da velha teocracia de Israel, com o ritual do santuário que a acompanhava. A igreja católica adotou do judaí­smo a parte principal do ritual, juntamente com alguns cerimoniais do paganismo. Possui um estabelecido ritual do santuário, com seus sacerdotes, sumo-sacerdotes, levitas, cantores e mestres. Possui um serviço de sacrifí­cios, culminando na missa, com o ritual que a acompanha e a oferta de incenso. Tem os seus dias de festas, segundo o molde de costume israelita. Tem os seus cí­rios, seu altar do incenso, sua mesa com o pão e seu altar mor. Em evidência está a pia com a água benta; observa-se a missa diária. é quase completo o paralelo entre a antiga religião israelita e a católica romana.

Tudo isso não seria muito importante, não fosse o fato de constituir uma tentativa de obscurecer a verdadeira obra de Cristo no santuário celestial.

 

Terminado o perí­odo do Velho Testamento, quando Cristo começou Sua obra no santuário celestial, era intento de Deus que os serviços do santuário na terra cessassem. Rasgou-se de alto a baixo o véu do templo " e posteriormente foi destruí­do o templo todo " significando a cessação do ritual na terra e a inauguração do serviço no céu. Cristo entrou num templo não feito por mãos. Entrou no próprio céu, para ali ministrar em nosso favor. Os homens são convidados a irem ter com Ele, levando-Lhe os seus pecados e recebendo perdão. O ritual do tabernáculo terrestre preparou os homens a olharem para o verdadeiro santuário no céu. Chegara o tempo para se fazer a transferência.

A igreja católica não compreende absolutamente nem aprecia a obra de nosso sumo-sacerdote, no céu. Não compreende que o ritual do santuário terrestre não deveria prevalecer. Restabeleceu as velhas cerimônias e crenças, tentando levar os homens à prática de um ritual caduco. E, em grande parte, teve êxito. "Toda a terra se maravilhou após a besta". Apoc. 13:3.

Isso, como se disse, tendeu a obscurecer a obra de Cristo. Os homens perderam o conhecimento do santuário celestial e da obra de Cristo ali. Sua atenção foi chamada para a obra rival de Seu pretenso vigário na terra. Enquanto Cristo, no céu, perdoa os pecados, o sacerdote na terra alega fazer a mesma coisa. Enquanto Cristo intercede pelo pecador, o sacerdote faz o mesmo. E as condições impostas pelo sacerdote para receber-se o perdão dos pecados, são muito mais fáceis do que as de Cristo. Os homens se esqueceram por completo de que há um santuário no céu. Essa verdade foi lançada por terra. Transcorreram os séculos sucessivos, e a igreja conservou os homens em completa ignorância quanto a importantí­ssima obra que se processa no céu, ao mesmo tempo que exaltava o que ela tinha a oferecer, mercadejando com o que há de mais sagrado.

O papado tornou-se, assim, verdadeiramente um competidor, um rival de Cristo. Tentou expulsa-Lo do espí­rito dos homens, no que teve êxito notável. é tarefa da igreja, designada por Deus, chamar a atenção para Cristo e a verdade. é o único instrumento que Deus tem para instruir os homens. Quando Cristo subiu ao alto para iniciar Seu ministério no santuário celestial,

 

tornou-se dever e privilégio da igreja proclamar essas novas até aos confins do mundo. Daí­ por diante não mais haveria sacrifí­cios na terra. Isso cabia à velha dispensação. Cessara também o sacerdócio leví­tico. Rasgou-se o véu, abrindo-se ao homem novo e vivo caminho. Os homens tiveram livre acesso a Deus, podendo apresentar-se com ousadia ante o trono da graça, sem intercessor humano. Todo o povo de Deus se tornara sacerdote real, não devendo daí­ por diante homem algum colocar-se entre uma alma e seu Criador. Abriu-se a todos o acesso a Deus.

Que o papado se tornasse um rival, um competidor de Cristo, não é mera figura de linguagem. Consideremos a situação. Cristo é nosso Sumo-Sacerdote. No calvário morreu, como Cordeiro de Deus. Derramou o sangue em nosso favor. Os sacrifí­cios mosaicos, durante séculos, tinham sido profecias disso. Viera agora a realidade, da qual aquilo foram sombras apenas. Como no Velho Testamento não bastava a morte do cordeiro, tendo de ser suplementada pelo ministério do sacerdote, que aspergia o sangue no altar ou no lugar santo, o mesmo se dava com a morte e o sangue de Cristo. Provido o sangue, tornou-Se Cristo "Ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem". Heb. 8:2. Assim, "vindo Cristo, o Sumo-Sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção". Heb. 9:11 e 12.

O Santuário aqui mencionado não se refere ao tabernáculo terrestre. "Por que Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus". Heb. 9:24. Perante Deus, Cristo intercede e apresenta Seu sangue, que não santifica meramente para purificação da carne, como se dava com o sangue de bodes e bezerros antigamente, "Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espí­rito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? Heb. 9:14. Todo aquele que deseje purificar a consciência pode, pois, com "ousadia... entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou,

 

pelo véu, isto é, pela Sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa". Heb. 10:19-22. No Velho Testamento ninguém, a não ser o sacerdote, podia entrar no santuário. Hoje todos o podem. é um "novo e vivo caminho que Ele nos consagrou".

Esse bendito novo e vivo caminho é o privilégio e dever da igreja tornar conhecido. Cada qual pode ir diretamente a Cristo. Não é preciso, como no santuário na terra, intervir um sacerdote. Isto foi abolido. Todo homem pode apresentar-se diretamente ao seu Criador, sem intervenção humana. Pode com ousadia entrar no santuário.

O papado, porém, pensava e ensinava diversamente. Tentou estabelecer a crença do Velho Testamento, de que o homem só se pode aproximar de seu Criador mediante representantes especiais, tais como sacerdotes. Os homens foram afastados de Deus mais que nunca. A igreja fechou o novo e vivo caminho aberto por Cristo, e levou os homens a procurar aproximar-se de Deus mediante o sacerdócio, que tinha de apelar a algum santo padroeiro que tivesse influência junto de Maria, a qual, por sua vez, exercia influência junto de Cristo, e Este junto de Deus. O sistema todo era uma tentada reencarnação das ordenanças mosaicas que haviam sido definitivamente abolidas, e que se não podiam comparar com o novo e vivo caminho do Novo Testamento.

Qual foi o resultado? Os homens afluí­ram à igreja de Roma, olvidando o santuário celestial e seu Ministro. A igreja romana obscureceu eficazmente o ministério de Cristo, tanto que poucos cristãos têm a noção da existência de um templo no céu, a não falar do ritual que ali se processa. Dia a dia Cristo aguarda a oportunidade de apresentar Seu sangue, esperando que homens encontrem o novo caminho. Muito poucos, porém, o encontram. Por outro lado, milhões afluem para a igreja romana, para ali receber indulgências e perdão dos pecados, sob condições aceitáveis. O papado quase conseguiu tornar de nenhum efeito o ministério de Cristo. Inaugurou outro ministério, estabelecido, não nas promessas de evangelho, nem na base do novo concerto, tão pouco em Cristo como Sumo-Sacerdote,

 

mas sim nas vãs promessas de um sacerdote terrestre que carece, ele mesmo, do perdão e do poder do sangue expiador de Cristo.

Dizendo que o papado tentou substituir a verdadeira obra mediatória de Cristo por um falso sistema de mediação, estamos bem cientes do fato de que a igreja católica romana crê no sacrifí­cio de Cristo na cruz, que é Ele o advogado e intercessor do homem e que é por Ele que somos salvos. Sobre o caso, vêm a propósito as declarações seguintes:

"Coisa alguma existe da qual deve o fiel derivar maior gozo do que da reflexão de que Jesus Cristo Se constituiu nosso advogado e intercessor perante o Pai, junto a quem são supremos Sua influência e autoridade". "Certo, existe um só mediador, Cristo o Senhor, que, unicamente, nos reconciliou por Seu sangue (I Tim. 2:5), e que, tendo efetuado nossa redenção e entrado uma vez no santuário, não cessa de interceder por nós. Heb. 9:12; 7:25". " Catechism of the Council of Trent, Pág. 59 e 247, tradução do Rev. J. Donovan, edição de 1829.

"Podemos apresentar-nos a Deus com toda a confiança, diz S. Arnoldo, pois que o Filho é nosso mediador junto do Pai eterno, e a mãe é nossa mediadora junto do Filho". " Glories of Mary, de Afonso Liguori, doutor da igreja, pág. 224, edição revista.

é no que respeita ao ministrar do sangue, na relação que existe entre o homem e Cristo, que o papado procurou erigir um sistema falso. Aí­ foram interpostos santos, e especialmente Maria, entre a alma e Deus. Isto achamos uma graví­ssima perversão da verdade, visto como interpõe pessoas estranhas à mediação como necessárias para nos aproximarmos de Deus, quando as Escrituras ensinam que "há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem". I Tim. 2:5. A Bí­blia não reconhece ninguém mais como mediador, e ensinar a igreja de outro modo é fazer de nenhum efeito a verdade de Deus.

Existem, pois, dois ministérios que prometem aos homens perdão e cancelamento dos pecados: o de Cristo, no céu, e o do papado, na terra. Cada qual tem um sacerdote e as cerimônias que o acompanham. Cada qual pretende pleno poder de perdoar. O papado se jacta de possuir as chaves do céu. Pode abrir e fechar. é senhor de um tesouro de méritos sem o qual bem poucos se podem salvar.

 

Está de posse da "hóstia", o santo mistério de Deus. Possui um chefe infalí­vel. Tem poder sobre o purgatório. Pode indultar do castigo. Pretende ter autoridade sobre os reis da terra. Não reconhece superior. é supremo.

Todas essas pretensões cairiam por terra, se tão somente os homens conhecessem o verdadeiro ministério de Cristo. O conhecimento da verdade quanto ao santuário, é o único antí­doto aos falsos reclamos da hierarquia romana. Por esta razão é para o papado importante que a questão do santuário permaneça desconhecida. Por esta razão tornou Deus o Seu povo depositário de Sua verdade relativa ao santuário.

Não precisamos entrar em detalhes acerca dos problemas matemáticos dos dois mil e trezentos dias. Remetemos o leitor para O Conflito dos Séculos, por Ellen G. White, e outras obras denominacionais adventistas. Basta dizer que esses dias " ou antes, anos - começaram em 457 antes de Cristo e terminaram em 1844 depois de Cristo. Nesse ano deveria ser purificado o santuário.

é evidente que essa purificação não se pode referir ao santuário terrestre. Este há muito que foi destruí­do, suspendendo o ritual. Tem de referir-se, pois, ao santuário celestial, do qual se diz, com efeito, ser purificado "com sacrifí­cios melhores" do que os do Velho Testamento. Heb. 9:23.

Já estudamos em detalhes a questão da purificação do santuário da terra. Essa purificação era sí­mbolo da purificação do santuário do céu. Como os sacerdotes ministravam no primeiro compartimento do tabernáculo cada dia do ano, até ao grande Dia da Expiação, assim também Cristo ministrou no primeiro compartimento do santuário celestial até ao tempo de sua purificação. Esse tempo foi 1844. Então Cristo passou para a fase final de Seu ministério. Entrou no Santí­ssimo. Começou então a hora do Juí­zo, também chamada juí­zo investigativo. Concluí­da esta obra, terminará o tempo de graça e Cristo voltará.

Desejamos ainda chamar a atenção para a palavra "purificado", empregada em Daniel 8:14. Em hebraico é tsadaq, traduzindo-se "justificado", isto é, tornar-se ou ser considerado justo. Alguns traduzem: "Então será o santuário justificado". Outros: "Então será o santuário vindicado". Outros, ainda: "Então o santuário receberá o reconhecimento que merece".

 

A palavra encerra a idéia de restauração, assim como de purificação.

Estes significados da palavra são importantes, em vista do fato de ter sido o assunto do santuário espesinhado e a verdade lançada por terra. Virá jamais o tempo em que ao assunto do santuário se dê de novo seu legí­timo lugar, quando Deus vindique sua verdade e sejam postos a descoberto o erro e as maquinações secretas? Sim, responde a profecia, o tempo virá; surgirá um poder maligno que há de perseguir o povo de Deus, obscurecer a questão do santuário, lançar por terra a verdade, e prosperar nessa obra. Estabelecerá seu próprio sistema, em competição com o de Deus, tentando mudar a lei, enganando a muitos por sua polí­tica astuciosa. Será, porém, desmascarado. No fim dos dois mil e trezentos dias surgirá um povo possuidor de luz acerca da questão do santuário, povo que seguirá a Cristo, pela fé, até ao santí­ssimo, e que terá a solução capaz de quebrar o poder do mistério da iniqüidade, saindo a batalhar pela verdade de Deus. Tal povo será invencí­vel. Proclamará destemidamente a verdade. Fará a contribuição suprema em defesa da verdade do santuário. Edificará "os lugares antigamente assolados"; levantará "os fundamentos de geração em geração"; será chamado "reparador das roturas, e restaurador de veredas para morar". Isa. 58:12.

O conflito final será bem definido. Todos compreenderão os riscos e as conseqüências. O ponto principal será a adoração da besta ou a adoração a Deus. Nesse conflito o templo de Deus se abrirá no céu, e os homens verão "a arca do Seu concerto... no Seu templo". Apoc. 11:19. O povo de Deus na terra terá parte em mostrar aos homens o templo aberto. Por outro lado, a igreja apóstata abrirá a boca "em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do Seu nome, e do Seu tabernáculo, e dos que habitam no céu". Apoc. 13:6.

é grande privilégio ser-nos permitido ter parte numa obra como esta. Mas, a querermos vencer, temos de saber onde nos achamos e porque. Conceda-nos Deus graça para que sejamos achados fiéis.

 

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