O único raio de esperança quanto a essa visão, dizia respeito ao tempo. Nem para sempre seriam conculcados o santuário e a verdade. Esta voltaria ao seu pedestal. Reivindicar-se-ia. No final de dois mil e trezentos dias o santuário seria purificado. Esse tempo devia o povo de Deus aguardar. Tal acontecimento, em si, não poderia, entretanto, representar grande conforto a Daniel. Que significavam os dois mil e trezentos anos? Quando deviam começar? Quando terminar? Não o compreendia. Começou a estudar mais fervorosamente do que nunca. Seu estudo o levou a compreender "pelos livros que o número de anos, de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que deviam acabar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos". Daniel 9:2. Ainda não recebera, porém, luz sobre os dois mil e trezentos dias. Teriam estes qualquer relação com o término dos setenta anos? Começariam, porventura, ao finalizar-se esse perí­odo? Não o sabia Daniel. Entregou-se, pois, à oração. Era preciso que recebesse luz sobre a questão. Mantêm alguns comentaristas que a ponta pequena, que se tornou excessivamente grande, representa o reino dos Seleucidas, especialmente sob o reinado do Antí­oco Epifânio e Antí­oco o Grande. Esta opinião justifica sérias objeções. é verdade que esses reis perseguiram. Eram astutos, í­mpios, arrogantes. Dificilmente se poderia, porém, dizer que o foram mais que outros, antes e depois deles. Ninguém dirá que foram maiores que Alexandre o Grande. A visão, entretanto, o requer. Antí­oco Epifânio, a quem muitos julgam referir-se especialmente a passagem, era perseguidor; interveio no ritual do santuário; nem por isso, entretanto, era tão grande que merecesse a atenção dispensada na visão à ponta pequena. Desempenhou por alguns breves anos a sua parte no drama e passou, não deixando rastos como os de Alexandre, e teria há muito tomado lugar entre os insignificantes reis daquele perí­odo, não fossem os persistentes esforços de comentaristas para lhe dar indevida preeminência. A visão do capí­tulo 8 de Daniel é uma visão isolada. A Medo-Pérsia e a Grécia não são aí­ mencionadas pela primeira vez. O capí­tulo 7 trata de assunto correlato e menciona os animais que representam a Medo-Pérsia, e a Grécia, referindo-se também a uma "ponta pequena".

Diz o profeta: "Estando eu considerando as pontas, eis que entre elas subiu outra ponta pequena, diante da qual três das pontas primeiras foram arrancadas; e eis que nesta ponta havia olhos, como olhos de homem, e uma boca que falava grandiosamente". Dan. 7:8. Esta ponta pequena intrigava a Daniel. Queria saber mais "daquela ponta... que tinha olhos, e uma boca que falava grandiosamente, e cujo parecer era mais firme do que o das suas companheiras". Vers. 20. Vira que "esta ponta fazia guerra contra os santos, e os vencia". Vers. 21. Viu, mais, que "proferirá palavras contra o altí­ssimo, e destruirá os santos do Altí­ssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues na sua mão por um tempo, e tempos, e metade dum tempo". Vers. 25. Finalmente, porém, "o juí­zo estabelecer-se-á, e eles tirarão o seu domí­nio, para o destruir e para o desfazer até ao fim". Vers. 26. O capí­tulo assim termina: "Aqui findou a visão. Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos muito me espantavam, e mudou-se em mim o meu semblante; mas guardei estas coisas no meu coração". Vers. 28. é fácil ver que esta profecia trata de modo geral dos mesmos acontecimentos considerados no capí­tulo 8.

Daniel ficara perturbado com o que vira. No capí­tulo 7 fora-lhe apresentado um poder perseguidor que fazia guerra aos santos do Altí­ssimo, falando contra Deus, cuidando em mudar tempos e leis - poder que era diferente de outros reis (Vers. 24), e que seria afinal destruí­do. Esse poder era a "ponta pequena", que tinha olhos como os de homem, e boca que falava grandiosamente. Quem seria representado por tal poder? Daniel pensou muito e acabou perplexo. "Meus pensamentos muito me espantavam". ("perturbaram", Trad. Bras.), confessa ele. Vers.28. Mas conservou no coração o assunto. Estava certo de que Deus tinha maior conhecimento. O capí­tulo 8 volta a tratar desse poder, e o capí­tulo 9 continua a explanação. é impossí­vel conceber que a ponta pequena de Daniel 7 seja Antí­oco Epifânio ou qualquer outro Antí­oco. Quase todos os comentadores protestantes da escola antiga concordam em que se refere ela ao papado, no qual desde logo se vê que encontra completo cumprimento. Como poderia ser verdade, quanto a qualquer dos Antí­ocos, que "fazia guerra contra os santos, e os vencia.

Até que veio o Ancião de dias, e foi dado o juí­zo aos santos do Altí­ssimo; e chegou o tempo em que os santos possuí­ram o reino"? Vers. 21 e 22. Antí­oco há muito que está morto. Reinou pouco tempo apenas. De que outro poder senão o papado é verdade que fez guerra aos santos do Altí­ssimo, ou tentou mudar tempos e leis? Não são a sagacidade, a sabedoria, a vasta polí­tica do papado expressivamente sugeridos pela ponta que tinha "olhos, como olhos de homem, e uma boca que falava grandiosamente"? Vers.8 Cremos achar-nos sobre sólida base exegética quando sustentamos que a ponta pequenas de Daniel 8 é Roma, primeiro pagã e depois papal; e a ponta pequena de Daniel 7, o papado.

Estas considerações nos ajudarão em nossa tentativa de estabelecer a significação dos dois mil e trezentos dias de Daniel 8:14. Ocorrem no meio de uma profecia que trata de um poder que existiu por mais tempo do que qualquer outro sobre a terra. Sendo esse perí­odo parte de uma profecia, não há dúvida de que se trata do tempo profético. Neste caso, os dois mil e trezentos dias representam outros tantos anos, de acordo com a consagrada interpretação das profecias. "Um dia te dei por cada ano". Ezeq. 4:6.

Se aceitarmos o ponto de vista de que a ponta pequena de Daniel 8 se refere a Roma imperial e à igreja católica romana, torna-se nosso dever descobrir qualquer relação possí­vel entre ela e o santuário mencionado em Daniel 8:14. Consideremos agora esse assunto.

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