Que o papado se tornasse um rival, um competidor de Cristo, não é mera figura de linguagem. Consideremos a situação. Cristo é nosso Sumo-Sacerdote. No calvário morreu, como Cordeiro de Deus. Derramou o sangue em nosso favor. Os sacrifí­cios mosaicos, durante séculos, tinham sido profecias disso. Viera agora a realidade, da qual aquilo foram sombras apenas. Como no Velho Testamento não bastava a morte do cordeiro, tendo de ser suplementada pelo ministério do sacerdote, que aspergia o sangue no altar ou no lugar santo, o mesmo se dava com a morte e o sangue de Cristo. Provido o sangue, tornou-Se Cristo "Ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem". Heb. 8:2. Assim, "vindo Cristo, o Sumo-Sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção". Heb. 9:11 e 12.

O Santuário aqui mencionado não se refere ao tabernáculo terrestre. "Por que Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus". Heb. 9:24. Perante Deus, Cristo intercede e apresenta Seu sangue, que não santifica meramente para purificação da carne, como se dava com o sangue de bodes e bezerros antigamente, "Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espí­rito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? Heb. 9:14. Todo aquele que deseje purificar a consciência pode, pois, com "ousadia... entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela Sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa". Heb. 10:19-22. No Velho Testamento ninguém, a não ser o sacerdote, podia entrar no santuário. Hoje todos o podem. é um "novo e vivo caminho que Ele nos consagrou".

Esse bendito novo e vivo caminho é o privilégio e dever da igreja tornar conhecido. Cada qual pode ir diretamente a Cristo. Não é preciso, como no santuário na terra, intervir um sacerdote. Isto foi abolido. Todo homem pode apresentar-se diretamente ao seu Criador, sem intervenção humana. Pode com ousadia entrar no santuário.

O papado, porém, pensava e ensinava diversamente. Tentou estabelecer a crença do Velho Testamento, de que o homem só se pode aproximar de seu Criador mediante representantes especiais, tais como sacerdotes. Os homens foram afastados de Deus mais que nunca. A igreja fechou o novo e vivo caminho aberto por Cristo, e levou os homens a procurar aproximar-se de Deus mediante o sacerdócio, que tinha de apelar a algum santo padroeiro que tivesse influência junto de Maria, a qual, por sua vez, exercia influência junto de Cristo, e Este junto de Deus. O sistema todo era uma tentada reencarnação das ordenanças mosaicas que haviam sido definitivamente abolidas, e que se não podiam comparar com o novo e vivo caminho do Novo Testamento.

Qual foi o resultado? Os homens afluí­ram à igreja de Roma, olvidando o santuário celestial e seu Ministro. A igreja romana obscureceu eficazmente o ministério de Cristo, tanto que poucos cristãos têm a noção da existência de um templo no céu, a não falar do ritual que ali se processa. Dia a dia Cristo aguarda a oportunidade de apresentar Seu sangue, esperando que homens encontrem o novo caminho. Muito poucos, porém, o encontram. Por outro lado, milhões afluem para a igreja romana, para ali receber indulgências e perdão dos pecados, sob condições aceitáveis. O papado quase conseguiu tornar de nenhum efeito o ministério de Cristo. Inaugurou outro ministério, estabelecido, não nas promessas de evangelho, nem na base do novo concerto, tão pouco em Cristo como Sumo-Sacerdote, mas sim nas vãs promessas de um sacerdote terrestre que carece, ele mesmo, do perdão e do poder do sangue expiador de Cristo.

Dizendo que o papado tentou substituir a verdadeira obra mediatória de Cristo por um falso sistema de mediação, estamos bem cientes do fato de que a igreja católica romana crê no sacrifí­cio de Cristo na cruz, que é Ele o advogado e intercessor do homem e que é por Ele que somos salvos. Sobre o caso, vêm a propósito as declarações seguintes: "Coisa alguma existe da qual deve o fiel derivar maior gozo do que da reflexão de que Jesus Cristo Se constituiu nosso advogado e intercessor perante o Pai, junto a quem são supremos Sua influência e autoridade". "Certo, existe um só mediador, Cristo o Senhor, que, unicamente, nos reconciliou por Seu sangue (I Tim. 2:5), e que, tendo efetuado nossa redenção e entrado uma vez no santuário, não cessa de interceder por nós. Heb. 9:12; 7:25". - Catechism of the Council of Trent, Pág. 59 e 247, tradução do Rev. J. Donovan, edição de 1829.

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