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A CONSAGRAÇíO DE ARíO E SEUS FILHOS

A

s vestes dos sacerdotes tinham significação simbólica, como, aliás, tinha a maioria das coisas concernentes ao santuário. Isto se verificava especialmente quanto ao sumo-sacerdote, encarnação do povo, e seu representante. A respeito das vestes, está escrito o seguinte: "Estes pois são os vestidos que farão: um peitoral, e um éfode, e um manto, e uma túnica bordada, uma mitra, e um cinto: farão pois vestidos santos a Arão teu irmão, e a seus filhos, para Me administrarem o ofí­cio sacerdotal". Êxodo 28:4. Além destes são mencionadas ceroulas de linho, em Leví­tico 16:4, e a coroa da santidade em Êxodo 29:6; 28:36-38.

O peitoral mencionado em primeiro lugar, era uma peça em "quadrado e dobrado" suspensa sobre o peito da cadeiasinhas. Neste peitoral havia quatro ordens de pedras preciosas de três cada uma, com os nomes dos filhos de Israel gravados sobre elas, um nome em cada pedra. Êxodo 28:31. Esta peça do vestuário chamava-se "peitoral do juí­zo", e Arão devia traze-la "sobre o seu coração, quando" entrasse "no santuário". Vers. 29. No peitoral também se dizem está Urim e Tumim, aquelas duas misteriosas pedras que indicavam o agrado e o desagrado do Senhor quando O consultavam em tempos de necessidade. Lev. 8:8; Êxo. 28:30; I Sam. 28:6. Pelo fato de se dizer que elas estavam no peitoral, alguns tem suposto que se achassem um bolso aí­ posto para este fim. Parece preferí­vel crer, no entanto, que elas fossem colocadas de maneiras preeminente no peitoral, como as outras pedras, uma do lado direito, outra do lado esquerdo, bem à vista.

O éfode era uma curta peça de vestuário feita de "ouro, e de azul, e de púrpura, e de carmesim, e de linho fino torcido, de obra esmerada". Êxo. 28:6. Não tinha mangas, e pendia para baixo, tanto no peito como nas costas. Nas ombreiras achavam-se duas pedras sardônicas com os nomes dos filhos de Israel gravados, seis nomes em cada pedra.

 

"E porás as duas pedras nas ombreiras do éfode, por pedras de memória paras os filhos de Israel: e a Arão levará os seus nomes sobre ambos os seus ombros, para memória diante do Senhor" Êxo. 28:12.

Sob o éfode havia longo manto de linho azul, sem mangas, e inconsútil. Ao redor, as bordas, havia romãs de azul, e de púrpura, e de carmesim. "E campainhas de ouro no meio delas ao redor... E estará sobre a Arão quando ministrar, para que se ouça o seu sonido, quando entrar no santuário diante do Senhor, e quando sair, para que não morra". Vers. 33 a 35. Sob o manto do éfode achava-se a túnica ordinária de linho dos sacerdotes, e a ceroulas de linho.

O cinto do sumo-sacerdote era feito de ouro, azul, púrpura e carmesim, da mesma maneira que o éfode; o do sacerdote, de linho branco bordado de azul, púrpura e vermelho. Era colocado sobre o manto do éfode, um tanto para cima, servindo para prender a roupa. Êxo. 35:5; 29:5.

Os sacerdotes usavam a túnica de linho branco, as ceroulas, o cinto e a mitra. O sumo-sacerdote usava além disso o éfode, o manto do éfode, o peitoral e a coroa sobre a mitra, e mais, naturalmente, as pedras preciosas com os nomes de Israel nelas gravadas, e o Urim e Tumim.

As vestes de Arão eram "para glória e ornamento". Êxo. 28:2. As vestes ordinárias do sacerdote que ele usava sob as roupas de sumo-sacerdote, eram simbólicas da pureza interior, e também de utilidade. As que eram estritamente do sumo-sacerdote, serviam de glória e beleza, sendo, um sentido especial, simbólicas.

As vestimentas usadas por Arão não foram escolhidas por ele. Foram prescritas. Eram "vestidos santos", feitos por aqueles que eram "sábios de coração a quem Eu tenha enchido do espí­rito da sabedoria, que façam vestidos a Arão para santifica-lo: para que Me administrem o ofí­cio sacerdotal". Êxo. 28:3. Na cor e no peitoral se harmonizavam com o próprio tabernáculo, sendo adornados de pedras preciosas.

"E farão éfode de ouro". "E o cinto de obra esmerada do seu éfode, que estará sobre ele, será da mesma obra". "Farás também o peitoral do juí­zo... de ouro. Também farás o manto do éfode todo de azul... e campainhas de ouro". Êxo. 28:6, 8, 15, 31 e 33.

 

Se bem que estas vestimentas fossem feitas de diversos materiais, o ouro formava parte preeminente delas. Se as vestes se acrescenta a coroa de ouro sobre a mitra, sobre a qual estava escrito: "Santidade ao Senhor", as doze pedras preciosas com os nomes de Israel nelas gravadas, e as duas pedras sardônicas, tendo também o nome de Israel, e afinal, Urim e Tumim; o efeito do conjunto deve ter sido glorioso e belo. Ao mover-se o sumo-sacerdote, lenta e dignamente, de um lugar para outro, a luz solar se refletia nas dezesseis pedras preciosas, as campainhas produziam um som musical, e o povo era profundamente impressionado com a solenidade e a beleza do culto de Deus.

O sumo-sacerdote, em sua posição oficial, não era simplesmente um homem. Era uma instituição; era um sí­mbolo, não representava meramente a Israel era sua própria encarnação. Levava o nome Israel nas duas pedras sardônicas "nas ombreiras do éfode, por pedras de memória"; levava-os nas doze pedras preciosas "no peitoral do juí­zo no seu coração"; levava "o juí­zo dos filhos de Israel sobre o seu coração diante do Senhor continuamente". Êxo. 28:30. Assim levava Israel tanto sobre os ombros, como sobre o coração. Sobre os ombros levava o fardo de Israel; no peitoral significando a sede das afeições e do amor " o propiciatório " levava a Israel. No Urim e Tumim " isto é "as luzes e as perfeições (Ver a margem) " ele levava "o juí­zo dos filhos de Israel sobre o seu coração"; na coroa de ouro sobre a mitra, tendo a inscrição "santidade ao Senhor", levava "a iniqüidade das coisas santas, que os filhos de Israel santificarem em todas as ofertas", e isto "para que tenham perfeita aceitação perante o Senhor". Vers. 36-38.

O sumo-sacerdote devia agir pelos homens nas coisas pertencentes a Deus, "para expiar os pecados do povo" (Heb. 2:17). Era o mediador que ministrava pelo culpado. "O sumo-sacerdote representava todo o povo. Todos os israelitas eram considerados como nele estando. A prerrogativa gozada por ele pertencia a todo o povo (Êxo. 19:6),.. (vitringa)". Que o sumo-sacerdote representava toda a congregação se vê, primeiro pelo fato de levar sobre si o nome das tribos gravadas nas pedras sardônicas que trazia nos ombros,

 

e segundo, pelos mesmos nomes gravados nas doze pedras preciosas do peitoral. A divina explicação dessa representação dupla de Israel, na vestimenta do sumo-sacerdote, é que ele "levará os seus nomes sobre ambos os seus ombros, para memória diante do Senhor" (Êxo. 28:12 e 19). Além disso, ele cometendo pecado odioso, envolvia o povo em sua culpa: "se o sacerdote ungido pecar para escândalo do povo" (Lev. 4:3). A versão dos Setenta reza: "se o sacerdote ungido pecar de modo a trazer pecado sobre o povo". O sacerdote ungido, naturalmente, é o sumo sacerdote. Quando ele pecava, o povo pecava. Sua ação oficial era reputada como sendo deles. A nação inteira partilhava do pecado do seu representante. O contrário também verificar-se. O que ele fazia na sua função oficial, segundo era previsto pelo Senhor, era considerado como sendo feito por toda a congregação: "todo sumo-sacerdote... é constituí­do a favor dos homens" (Heb. 5:1). " The International Standard Bible Encyclopaedia, pág. 2439.

O caráter representativo do sumo-sacerdote deve ser salientado. Adão era o representante do homem. Quando ele pecou, pecou o mundo, e a morte passou a todos os homens. Rom. 5:12. "Pela ofensa de um só, a morte reinou"; "pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores". Vers. 17 e 19.

Semelhantemente, Cristo, sendo o segundo homem e o último Adão, era o representante do homem. "Está também escrito: o primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente: o último Adão em espí­rito vivificante". "O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu". I Cor. 15:45 e 47. "Assim como por uma só ofensa veio o juí­zo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação devida". Rom. 5:18. "Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justo". Rom. 5:19. "Porque assim como todos morrem em Adão, assim também serão vivificados em Cristo". I Cor. 15:22.

Sendo o sumo-sacerdote, em sentido especial, uma figura de Cristo, era também o representante do homem. Ele figurava por todo o Israel.

 

Levava-lhes as cargas e os pecados. Levava a iniqüidade de todas as coisas santas. Levava-lhes o juí­zo. Quando ele pecava, Israel pecava. Quando fazia expiação por si mesmo, Israel era aceito.

A consagração de Arão e seus filhos o sacerdócio foi uma ocasião muito solene. O primeiro ato, era um banho. "Então fará chegar Arão e seus filhos à porta da tenda da congregação, e os lavarás com água". Êxo. 29:4. Os sacerdotes não se lavavam a si mesmos. Sendo um ato simbólico, figura da regeneração, não se podia lavar a si mesmo. Tito 3:5.

Estando lavado, Arão era então revestido de seus trajes de beleza e de glória. "Depois tomarás os vestidos, e vestiras a Arão da túnica e do manto do éfode, e do éfode mesmo, e do peitoral e do peitoral: e o cingirás com o cinto de obra de artí­fice do éfode. E a mitra porás sobre a sua cabeça: a coroa da santidade porás sobre a mitra". Êxo. 29: 5 e 6. Notai outra vez que Arão não se vestiu a si mesmo daqueles trajes. Foram-lhe vestidos. Como eram simbólicos das vestes da justiça, ele não se podia vestir a si mesmo. "Vistam-se os Teus sacerdotes de justiça, e alegra-te os Teus santos". Sal. 132:9. "Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus: porque me vestiu de vestidos de salvação, me cobriu com o manto justiça, como o noivo que se adorna de atavios, como a noiva que se enfeita com as suas jóias". Isa. 61:10.

Arão está agora pronto. Tem por baixo a túnica branca, o longo manto azul, com campainhas e romãs, o éfode com as duas belas pedras sardônicas com os nomes dos filhos de Israel nelas gravados, o peitoral com as doze pedras e Urim e Tumim, a mitra e a coroa de ouro com a inscrição: "Santidade ao Senhor". Está lavado, limpo, vestido; todavia ainda não está pronto para oficiar. Vem em seguida a unção. O óleo santo é lhe derramado sobre a cabeça por Moisés. "E tomarás o azeite da unção, e o derramarás sobre a sua cabeça: assim o ungirás". Êxo. 29:7. Não somente Arão é ungido, mas também o tabernáculo. "Então Moisés tomou o azeite da unção, e ungiu o tabernáculo, e ungiu o altar e todos os seus vasos, como também a pia e a sua base, para santifica-los". Lev. 8:10 e 11. Essa unção incluí­a toda a mobí­lia, tanto do santo como do santí­ssimo. Êxo. 30:26-29.

 

é de notar, que, enquanto o tabernáculo e o que nele se achavam eram aspergido com óleo, sobre Arão foi o mesmo derramado. Lev. 8:10 a 12; Êxo. 29:7.

A unção com óleo é um sí­mbolo do dom do espí­rito de Deus. I Sam. 10:1 e 6; 16:13; Isa. 61:1; Luc. 4:18; Atos 10:38. A profusão de azeite usado no caso de Arão " ele "desse sobre a barba, a barba de Arão", "desce a orla dos seus vestidos" " é simbólica da plenitude do espí­rito que Deus concede à igreja.

Até aqui todas as cerimônias " com exceção da lavagem " disseram respeito a Arão somente. Agora, entretanto, os quatro filhos têm parte igual ao pai no que se segue.

Uma oferta de expiação pelo pecado, um novilho, foi trazido, e Arão e seus filhos sobre ele puseram as mãos, sendo o mesmo depois morto. O sangue foi apanhado por Moisés, que o pôs "com o seu dedo sobre as pontas do altar em redor", e expiou "o altar; depois derramou o resto do sangue à base do altar, e o santificou, para fazer expiação por ele". Lev. 8:15. Observemos que o sangue do novilho não foi levado para dentro do santuário, como no caso em que o sacerdote ungido, o sumo-sacerdote, pecava. Lev. 4:6. Talvez o motivo seja que esta oferta particular pelo pecado não era por Arão apenas, mas também por seus filhos, e que ela parece aplicar-se em especial ao altar para sua purificação e santificação, para que a reconciliação se pudesse efetuar sobre ele. Lev. 8:15. Alguns opinam, em verdade, que essa oferta não era absolutamente por Arão, mas só pelo altar.

Feita a oferta da expiação do pecado, era trazida uma oferta queimada. Isto era oferecido pela maneira regular, sendo tudo queimado sobre o altar, de onde subia ao Senhor em cheiro suave. Vers. 18-21.

A obra até aqui foi preparatória. O serviço de consagração propriamente dito começa ao trazer-se "o carneiro da consagração", ou literalmente "o carneiro do enchimento", matando-o após haverem imposto as mãos sobre a sua cabeça. O sangue é levado por Moisés, que o põe "sobre a ponta da orelha direita de Arão, e sobre o polegar da sua mão direita, e sobre o polegar do seu pé direito". Vers. 23. O mesmo é feito com os filhos, sendo também espargido no altar.

 

"Também fez chegar os filhos de Arão; e Moisés pôs daquele sangue sobre a ponta da orelha direita deles, e sobre o polegar do seu pé direito: e Moisés espargiu o resto do sangue sobre o altar em redor". Lev. 8:24.

Depois disto vem o "encher". Pão asmo, um bolo de pão azeitado e um coscorão, junto com a gordura do carneiro e a espádua direita, são colocados nas mãos de Arão e nas de seus filhos, e movidos por oferta de movimento perante o Senhor. Havendo ela sido movida por Arão e seus filhos, Moisés tira-a de suas mãos e a queima sobre o altar. O peito é reservado para Moisés como sua parte. Vers. 26-29.

Em seguida, Moisés tomou do azeite e do sangue "e o espargiu sobre Arão e sobre os seus vestidos, e sobre os seus filhos, e sobre os vestidos de seus filhos com ele; e santificou a Arão e os seus vestidos, e seus filhos, e o vestido de seus filhos com ele". Vers. 30.

Com essa cerimônia termina a consagração de Arão e seus filhos. Estavam agora revestidos de poder para oficiar no santuário, conquanto tivessem de esperar ainda sete dias, durante os quais não se deviam afastar do santuário, mas tinham de ficar "í  porta da tenda da congregação dia e noite por sete dias, e fareis a guarda do Senhor, para que não morrais: porque assim me foi ordenado". Vers.35.

Até então, Moisés oficiara em todas as ofertas feitas. Ao fim dos sete dias, Arão começa seu ministério. Oferece uma oferta pelo pecado por si mesmo, um bezerro, e um carneiro por oferta queimada. Lev. 9:2. Oferece também uma oferta pelo pecado, uma oferta queimada, uma oferta de manjares, e uma oferta pací­fica pelo povo. Vers. 3 e 4. Ao fim das ofertas, Arão levanta as mãos e abençoa o povo. Moisés une-se-lhe nisto, e aparece a glória do Senhor. Moisés concluiu sua obra, e não mais precisa oficiar como sacerdote.

Todo o serviço de consagração tende a impressionar Arão e seus filhos quanto à santidade de sua vocação. Deve ter sido uma nova experiência para Arão o haver sido lavado por Moisés. Dificilmente poderia ele escapar à lição que Deus lhe visava dar. Ao dirigirem-se os dois irmãos para a pia, pode-se facilmente imaginar que falavam entre si acerca da obra a ser feita. Moisés comunica ao irmão que o deve lavar. Arão admira-se de o não poder fazer ele próprio.

 

Discutem a situação. Moisés informa Arão de que Deus lhe dera instruções especí­ficas quanto a que devia ser feito. "Isto é o que o Senhor ordenou que se fizesse", diz Moisés. Lev. 8:5. Em virtude das palestras que entretinha com Deus, Moisés tem melhor compreensão de Suas exigências do que Arão. Entende que isto não é um banho ordinário. Fosse assim, e Arão poderia provavelmente faze-lo melhor por si mesmo. Trata-se de uma purificação, espiritual. Ele não se pode purificar a si mesmo do pecado. Alguém o deve fazer por ele; daí­ a lavagem simbólica.

Depois de lavado, Arão não tem permissão de se vestir a si mesmo. Moisés o faz por ele. Arão sente-se por completo impotente. Deverá ser feito tudo para mim? Cogita ele. Não me é permitido fazer coisa alguma por mim mesmo? Não, ele não deverá nem mesmo colocar a mitra. Tudo deverá ser feito para ele.

Que maravilhosa lição ensina esse relatório! Deus faz todas as coisas. Tudo quanto o homem precisa fazer é submeter-se. Deus purifica; Deus veste. Provê o vestido de justiça, as vestes de glória e de beleza. Tudo quanto Deus pede é que não rejeitemos o vestuário oferecido, como fez o homem, na parábola.

No serviço de consagração, Moisés tocou a orelha de Arão com o sangue, significando assim que ele devia dar ouvidos aos mandamentos de Deus e cerra-los a todo mal. "Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros". I Sam. 15:22. Cristo foi obediente até a morte. Fil. 2:8. Nossos ouvidos dever ser consagrados ao serviço de Deus.

Moisés tocou também o polegar da mão direita, significando que Arão devia fazer justiça. Como o ouvir se relaciona com a mente, assim a mão tem que ver com a atividade do corpo. Ela representa as energias vitais, o ato exterior, a prática da justiça. De Cristo diz a Escritura: "Eis aqui venho... para fazer, ó Deus, a Tua vontade". Heb. 10:7. Cristo veio a fazer a vontade de Deus. "A minha comida", disse Ele, "é fazer a vontade dAquele que Me enviou, e realizar a Sua obra". João 4:34. O tocar a mão com o sangue significa a consagração da vida e serviço a Deus " Inteira dedicação.

 

O tocar o polegar do pé direito com o sangue, tem idêntico sentido. Quer dizer andar no caminho direito, cumprir as ordens de Deus, estar ao lado da verdade e da retidão. Isto significa andar na vereda da obediência, tendo seus passos ordenados pelo Senhor. Toda faculdade do ser cumpre dedicar a Deus e consagrar ao Seu serviço.

No ministério de Deus não se deve entrar levianamente. Tremenda é a responsabilidade é agir como mediador entre Deus e os homens. O que isso faz tende carregá-los sobre seus ombros, levá-los no coração, deve se achar a santidade em sua fronte, e suas próprias vestes deve ser santificadas. é preciso que esteja limpo, ungido com o espí­rito santo, o sangue deve ser-lhe aplicado ao ouvido, à mão e ao pé. Cada um dos seus passos deve ser acompanhado de melodia de uma vida consagrada, seu progresso assinalado por uma frutí­fera satisfação, tornando, mesmo de longe, manifesta a doce harmonia de uma vida bem ordenada. Deve ser pronto a discernir a vontade de Deus no clarão fugaz ou na sombra da sua aprovação ou desaprovação; o ouro do valor e da obediência deve se achar entremeado na própria estrutura de seu caráter; no semblante, no vestuário e no coração cumpre-lhe refletir a pureza, a paz e amor de Deus. Ele tem de ser submisso e pronto a deixar que Deus faça como Lhe apraz; e esquecer o próprio eu e pensar nos outros, não se eximindo a pesadas cargas. Cumpre-lhe ter de contí­nuo em mente que o bem estar e a felicidade de outros dele depende, de cada ato seu, em virtude de seu caráter público e oficial é de vasta significação.

Ao contemplar o verdadeiro ministro a responsabilidade que sobre ele impende, bem como as conseqüências adviriam de um fracasso ou falta sua, pode bem exclamar: Para essas coisas, quem é idôneo?

 

 

O Templo de Zorobabel

O templo construí­do por Salomão foi destruí­do nas invasões de Nabucodonozor, no sexto século antes da nossa era. Governantes e povo foram gradualmente se afastando do Senhor e entregando-se mais à idolatria e ao pecado. Mau grado todos os esforços divinos para conjugar esses males, Israel continuava em apostasia. Deus lhes enviou Seus profetas, com advertências e com rogos, "porém zombaram dos mensageiros de Deus, e desprezaram as Suas palavras e mofaram dos Seus profetas até que o furor do Senhor subiu tanto, contra o Seu povo, que mais nenhum remédio houve. Porque fez subir contra eles o rei dos caldeus, o qual matou os seus mancebos à espada, na casa do seu santuário; e não teve piedade nem dos mancebos, nem das donzelas, nem dos velhos, nem dos decrépitos: a todos os deu na sua mão." II Crôn. 36:16 e 17.

Ao destruir Jerusalém, Nabucodonozor queimou "a casa do Senhor, e derrubaram os muros de Jerusalém; e todos os seus palácios queimaram a fogo, destruindo também todos os seus preciosos vasos." Vers. 19. "E os que escaparam da espada levou para Babilônia: e fizeram-se servos dele e de seus filhos, até ao templo do reino da Pérsia." Vers. 20. Começou assim o chamado cativeiro dos setenta anos, "para que se cumprisse a palavra do Senhor, pela boca de Jeremias, até que a Terra se agradasse dos seus sábados; todos os dias da desolação repousou, até que os setenta anos se cumpriram." Vers. 21.

O esplendor do templo de Salomão é visí­vel nos despojos que Nabucodonozor levou de Jerusalém. Uma descrição do livro de Esdras se refere a "trinta bacias de ouro, mil bacias de prata, vinte e nove facas, trinta taças de ouro, quatrocentas e dez taças de prata doutra espécie e mil outros vasos. Todos os vasos de ouro e de prata foram cinco mil e quatrocentos:

 

todos estes levou Sesbazar, quando do cativeiro subiram de Babilônia para Jerusalém." Esdras 1:9-11.

Israel esteve setenta anos no cativeiro. Ao cumprirem-se os dias, obtiveram permissão de voltar, mas naquela ocasião muitos haviam estado por tanto tempo em Babilônia, que preferiram lá ficar. Contudo, um remanescente voltou, e ao tempo devido foram lançados os alicerces do novo templo. "E todo o povo jubilou com grande júbilo, quando louvaram ao Senhor, pela fundação da casa do Senhor." Esdras 3:11. Mas a alegria não foi completa, pois "muitos dos sacerdotes, e levitas e chefes dos pais, já velhos, que viram a primeira casa, sobre o seu fundamento, vendo perante os seus olhos esta casa, choraram em altas vozes: mas muitos levantaram as vozes com júbilo e com alegria. De maneira que não discernia o povo jubilou com tão grande júbilo que as vozes se ouviam de mui longe." Esdras 3: 12 e 13.

O templo assim erigido passou a ser chamado templo de Zorobabel, derivando seu nome do orientador dos trabalhos da construção. Pouco se sabe quanto à sua estrutura, mas se supõe, e talvez com boas razões, que seguiu as linhas do templo de Salomão. A arca já não existia. Desaparecera ao tempo da invasão de Nabucodonozor. Refere a tradição que homens santos a tomaram e esconderam nas montanhas para evitar que caí­sse em mãos profanas. De qualquer maneira, o lugar santí­ssimo nada mais tinha a não ser uma pedra que servia de substituto da arca no Dia da Expiação. Esse templo existiu até perto do aprimoramento de Cristo. Foi então substituí­do pelo templo de Herodes.

 

OS SANTUÁRIOS DE DEUS NA TERRA

N

ão foi muito depois de ter dado a lei no monte Sinai que o Senhor ordenou a Moisés: "Fala aos filhos de Israel, que Me tragam uma nova oferta alçada: de todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a Minha oferta alçada". Êxo. 25:2. Essa oferta devia consistir em "ouro, e prata, e cobre, e azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino, e pêlos de cabras, e peles de carneiros tintas de vermelho, e peles de texugos, e madeira de cetim, azeite para a luz, especiarias para o óleo da unção e especiarias para o incenso, pedras sardônicas, e pedras d"engaste para o éfode e para o peitoral". Vers. 3-7. Isso devia ser usado na construção de "um santuário, e habitarei no meio deles". Vers. 8.

O santuário aqui mencionado toma, pelo comum, o nome de tabernáculo. Era em realidade uma tenda com paredes de madeira, tendo o fôrro quatro camadas de materiais: a interior de linho fino dobrado, a exterior "de peles de carneiro, tintas de vermelho, e outra coberta de peles de texugo em cima". Êxo. 26:14. O edifí­cio propriamente dito não era muito grande, pois tinha cerca de 6 metros por 18, e uma parte fechada externa chamada pátio, com aproximadamente 30 metros de largura por 60 de comprimento.

O tabernáculo era um edifí­cio portátil, de maneira que podia ser desmontado e facilmente transportado. Ao tempo em que foi construí­do, Israel jornadeava pelo deserto. Aonde quer que fossem, transportavam consigo o tabernáculo. As tábuas da construção não eram pregadas uma à outra como em geral se faz, mas separadas, e cada uma delas mantida em pé por meio de uma base de prata. Êxo. 36:20-34. As cortinas que cercavam o pátio pendiam de pilares fixos em bases de cobre. Êxo. 38:9-20.

 

A mobí­lia do tabernáculo era feita de maneira que pudesse ser facilmente transportada. O edifí­cio inteiro, conquanto formoso e magní­fico em suas linhas, revelava sua natureza transitória. Destinava-se a servir somente até ao tempo em que Israel se estabelecesse na Terra Prometida e um edifí­cio de natureza mais estável pudesse ser erigido.

O edifí­cio propriamente dito tinha dois compartimentos, o primeiro e maior, chamado santo; e o segundo, o santí­ssimo. Uma rica cortina ou véu separava esses compartimentos. Como não havia janelas no edifí­cio, tanto um como outro compartimento, e especialmente o interior, se dependessem da luz do dia, forçosamente haviam de ficar í s escuras. Em virtude da natureza temporária da estrutura, alguma luz talvez penetrasse; porém, na melhor das hipóteses, devia ser muito pouca. No primeiro compartimento, contudo, os candeeiros do castiçal de sete lâmpadas produziam suficiente luz para que os sacerdotes efetuassem o serviço diário segundo prescrevia o ritual.

Havia no primeiro compartimento três objetos do mobiliário, a saber: a mesa dos pães da proposição, o castiçal de sete lâmpadas e o altar do incenso. Quem penetrasse no compartimento pela frente do edifí­cio, que estava voltada para o nascente, veria quase na extremidade da sala o altar do incenso. Veria à direita a mesa dos pães da proposição, e à esquerda, o castiçal. Dispostos sobre a mesa, em duas fileiras, os doze pães da proposição, juntamente com o incenso e os copos para a oferta memorial. Nela se encontravam também pratos, colheres e tigelas usados no serviço diário. Êxo. 37:16. O castiçal era feito de ouro puro. "O seu pé, e as suas canas, os seus copos, as suas maçãs e as suas flores da mesma peça". Vers. 17. Tinha seis canas, três de cada lado e uma no centro. Os copos que continham o óleo tinham a forma de amêndoas. Vers. 19. Não só o castiçal era feito de ouro, mas também os espevitadores e apagadores. Vers. 23.

A mais importante peça do mobiliário desse compartimento era o altar do incenso. Tinha cerca de um metro de altura e quase meio de largura. Era forrado de ouro puro, e tinha uma coroa de ouro ao redor. Era sobre esse altar que o sacerdote, no serviço diário, colocava as brasas tiradas do altar das ofertas queimadas, e o incenso. Ao pôr incenso sobre as brasas do altar,

 

o fumo ascendia, e, como o véu entre o santo e santí­ssimo não alcançava o teto do edifí­cio, o incenso enchia logo não só o lugar santo mas o santí­ssimo também. Deste modo, o altar do incenso, embora estivesse no primeiro compartimento, servia igualmente o segundo. Por essa razão ficava "diante do véu que está diante da arca do testemunho, diante do propiciatório, que está sobre o testemunho, onde Me ajuntarei contigo". Êxo. 30:6.

No segundo compartimento, o santí­ssimo, existia apenas uma peça de mobiliário: a arca. Tinha ela a forma de caixa com pouco mais de um metro de comprimento e aproximadamente 60 centí­metros de largura. A cobertura dessa caixa chamava-se propiciatório. Sobre o propiciatório havia uma coroa de ouro ao redor, como se dava com o altar do incenso. Na arca colocou Moisés os dez mandamentos escritos sobre duas tábuas de pedra, com o próprio dedo de Deus. Pelo menos durante algum tempo continha ela também o vaso de ouro com o maná e a vara florescida de Arão. Heb. 9:4. Sobre o propiciatório havia dois querubins de ouro, de obra batida, ficando um de um lado e outro de outro. Êxo. 25:19. Diz-se desses querubins que "estenderão as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas o propiciatório; as faces deles uma defronte da outra: as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório". Êxo. 25:20. Ali Deus Se comunicaria com Seu povo. Disse Ele a Moisés: "Ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do testemunho), tudo o que Eu te ordenar para os filhos de Israel". Êxo. 25:22.

No pátio, bem em frente da porta do tabernáculo estava uma pia, uma enorme bacia cheia de água. Era feita de cobre obtido dos espelhos que as mulheres haviam dado para esse fim. Nessa pia deviam os sacerdotes lavar as mãos e os pés antes de entrar no tabernáculo e começar o serviço. Êxo. 30:17-21; 38:8.

No pátio ficava também o altar dos holocaustos, que desempenhava parte muito importante por servir em todas as ofertas sacrificais. Tinha cerca de um metro e meio de altura e em cima 2m,40 de largura, e era oco por dentro e coberto de cobre. Êxo. 27:1. Sobre esse altar colocavam-se os animais que eram oferecidos em holocaustos.

 

Aí­ também era consumida a gordura e colocada a parte da carne que se requeria. Nas quatro extremidades havia saliências que se assemelhavam a chifres. Em certas ofertas sacrificais, o sangue era colocado sobre essas pontas ou aspergido sobre o altar. O resto do sangue, que não se usava na aspersão, era derramado na base do altar.

 

O Templo de Salomão

Ao assumir o reino Salomão, o velho tabernáculo devia achar-se em condições precárias. Contava várias centenas de anos e estivera exposto ao vento e à intempérie por todo esse longo tempo. Davi se havia proposto edificar ao Senhor uma casa, mas lhe foi dito que, visto ser ele homem guerreiro, não lhe seria dado faze-la. Seu filho Salomão construí­-la-ia. E esse templo foi edificado "com pedras preparadas, como as traziam se edificava: de maneira que nem martelo, nem machado, nem nenhum outro instrumento de ferro se ouviu na casa quando a edificavam". I Reis 6:7.

O templo propriamente dito tinha cerca de 9 metros de largura por 27 de comprimento. Na frente, que ficava para o lado do nascente, havia um vestí­bulo com aproximadamente 9 metros de comprimento por 5 de largura. Ao redor das outras paredes do templo foram construí­das três filas de câmaras, sendo algumas delas usadas para aposentos dos sacerdotes e levitas que oficiavam no templo, e as demais para depósito do dinheiro e outras dádivas ofertadas. Por dentro era forrado de cedro coberto de ouro e esculpido com figuras de querubins, palmas e flores abertas. I Reis 6:15, 18, 21, 22 e 29. Deles se diz: "Assim edificou Salomão aquela casa, e a aperfeiçoou. Também cobriu as paredes da casa por dentro com tábuas de cedro: desde o soalho da casa até ao teto tudo cobriu com madeira por dentro: e cobriu o soalho da casa com tábuas de faia". I Reis 6:14 e 15.

O tabernáculo original não tinha soalho, mas no templo Salomão colocou "tábuas de cedro nos lados da casa, desde o soalho até í s paredes: e por dentro lhas edificou para o oráculo, para o Santo dos Santos". Vers. 16. Depois de haver coberto toda a parte interior do templo com cedro, de modo que "pedra nenhuma se via", "cobriu Salomão a casa por dentro de ouro puro:

 

E com cadeias de ouro pôs um véu diante do oráculo, e o cobriu com ouro. Assim toda a casa cobriu de ouro, até acabar toda a casa". Vers. 18, 21 e 22.

No oráculo, ou lugar santí­ssimo, foi colocada a arca do concerto do Senhor. A arca original tinha dois querubins de ouro puro. Agora, dois outros querubins foram feitos e fixados sobre o soalho, e entre estes foi a arca colocada. Foram feitos de madeira de oliveira, tendo cada um deles cerca de quatro metros e meio de altura. "Ambos os querubins eram duma mesma medida e dum mesmo talhe". I Reis 6:25. "Os querubins estendiam as asas, de maneira que a asa dum tocava na parede, e a asa do outro querubim na outra parede: e as suas asas no meio da casa tocavam uma na outra". I Reis 6:27. Isso fazia com que as asas dos dois querubins combinadas cobrissem uma área de 9 metros aproximadamente. Esses querubins eram cobertos de ouro e em todas as paredes da casa, tanto por dentro como por fora, estavam esculpidas figuras de querubins, palmas e flores abertas. Até o soalho era coberto de ouro. Vers. 29 e 30.

No primeiro compartimento várias mudanças foram feitas. Diante do oráculo, e que é mencionado como a ele pertencendo (I Reis 6:22, Vers. Brás.), estava, como no tabernáculo, o altar do incenso. Em vez de um castiçal, havia agora dez, cinco de um lado e cinco de outro. Esses castiçais eram de ouro puro, como o eram os espevitadores, os apagadores, as bacias, os perfumadores e os braseiros. I Reis 7:49 e 50. Em vez de uma mesa com os pães da proposição, havia ali dez, "cinco à direita, e cinco à esquerda". II Crôn. 4:8.

O altar dos holocaustos, ou de cobre, como é chamado, foi consideravelmente aumentado no templo de Salomão. O do antigo tabernáculo tinha cerca de dois metro e meio. O do templo de Salomão quase quatro vezes mais, ou sejam, nove metros, e quase cinco de altura. As caldeiras, pás e bacias usadas no serviço do altar eram de cobre. II Crôn. 4:11 e 16.

No santuário havia uma pia para as abluções. No templo ela era muito maior. Era uma ampla bacia de bronze com 4m,50 de diâmetro e quase dois e meio de altura, com uma capacidade de mais de 70 mil litros. Chamava-se mar de fundição. I Reis 7:23-26. O bronze de que era feito tinha um palmo de espessura.

 

Os bordos foram feitos à semelhança de um copo, com flores de lí­rios. O mar inteiro firmava-se sobre doze bois, "três que olhavam para o norte, e três que olhavam para o ocidente, e três que olhavam para o sul, e três que olhavam para o oriente: e o mar em cima estava sobre eles, e todas as suas partes posteriores para a banda de dentro". I Reis 7:25.

Ao lado desse mar de grandes proporções havia bacias menores montadas sobre rodas, de maneira que pudessem ser movidas de um lugar para outro. I Reis 7:27-37. Cada uma dessas bacias continha mais de 400 litros de água e eram usadas para lavar as partes dos animais que deviam ser queimadas sobre o altar dos holocaustos. II Crôn. 4:6. Cada uma delas estava colocada sobre uma base de cobre; "e era a obra das rodas como a obra da roda de carro: seus eixos, e suas cambas, e seus cubos, e seus raios, todos eram fundidos". I Reis 7:33. Os lados eram ornamentados com figuras de leões, bois, querubins e palmas, "e debaixo dos leões e dos bois junturas de obra estendida". Vers. 29 e 36. O tamanho do pátio não é mencionado, mas certamente devia ser consideravelmente maior do que o do tabernáculo.

Em I Reis 6:22 encontra-se uma declaração interessante relativamente ao altar do incenso. Os versí­culos anteriores descrevem o oráculo, ou o lugar santí­ssimo. é mencionada como ali estando a arca que continha os dez mandamentos, dizendo-se também que "cobriu de cedro o altar". Vers. 19 e 20. Esse altar, segundo se afirma no vers. 22, "pertencia ao oráculo". (Vers. Brás.). Talvez suscite alguma dificuldade a questão que surge da leitura do capí­tulo nove de Hebreus, onde o altar do incenso é omitido na descrição da mobí­lia do primeiro compartimento, e um incensário é mencionado como estando no segundo compartimento. Vers. 2-4. A Versão Brasileira registra "altar de ouro para o incenso", ao invés de incensário. Seja, porém, qual for a idéia que se tenha desse ponto controvertido, é digno de nota que Hebreus 9:2 omite o altar de incenso ao descrever o lugar santo. A afirmação de I Reis 6:22, de que o altar de incenso conquanto localizado no lugar santo "pertencia" ao santí­ssimo, é geralmente considerada como a tradução correta. Da declaração de Êxodo 30:6 concluí­mos, portando, que o altar do incenso estava situado defronte ao véu,

 

No lugar santo, "diante do propiciatório", e que seu uso era tal que, em certo sentido, "pertencia" também ao lugar santí­ssimo. E como na realidade o incenso enchia tanto o lugar santo como o santí­ssimo, esta parece ser, afinal, a melhor maneira de compreender o assunto. ( Ver Êxo. 40:26).

     
 


 Como e porque e iniciou o Sistema Sacrifical?


O primeiro quadro que de Deus se nos apresenta depois de o homem haver pecado, é aquele em que, passeando no jardim pela viração do dia, pergunta a Adão: "Onde estás?" Gen. 3:9. O quadro tanto tem de belo como de significativo. O homem pecara e desobedecera ao Senhor, mas Deus o não desamparou. Pôs-Se à procura de Adão. E interroga: "Onde estás?" São estas as primeiras palavras de Deus ao homem, depois da queda, que ficaram registradas.
O sermos assim apresentados a Deus não é um fato destituído de significação. Ele está procurando Adão, e chamando-o, buscando o pecador que se escondia de Sua presença. Temos aqui um quadro idêntico ao do pai da parábola, que dia após dia procurava divisar no horizonte o vulto do filho pródigo, e corre a encontrá-lo "quando ainda estava longe". S. Lucas 15:20. Um quadro semelhante ao do pastor que vai "pelos montes... em busca da que se desgarrou", e "maior prazer tem por aquela do que pelas noventa e nove que se não desgarraram". S. Mat. 18:12 e 13.

 

 

Passando a conhecer a morte


    Adão não compreendeu em toda a sua plenitude o que havia feito ou os resultados de sua desobediência. Dissera-lhe Deus que o pecado implicava em morte, e que "no dia em que dela comeres, certamente morrerás". Gen. 2:17. Mas Adão jamais contemplara o quadro da morte, de modo que não compreendia o que ela significava. Foi com o intuito de impressionar-lhe o espírito com a natureza do pecado que Deus vestiu a Adão e a Eva com peles de animais que haviam sido sacrificados. Adão, contemplando o quadro da morte pela primeira vez, deve ter ficado profundamente impressionado com a terribilidade do pecado. O cordeiro ainda ali está, e o sangue corre. Não tornará ele a viver jamais? Jamais tornará a comer, a andar ou a brincar? A morte assume, de pronto, aos olhos de Adão, um novo e mais profundo significado. Começa a compreender que a menos que o Cordeiro seja imolado em seu lugar, ele terá de morrer, como o animal que tem aos seus pés, sem futuro, sem esperança, sem Deus. Depois, sempre, a pele que lhe vestia o corpo lembrava-o de seu pecado, mas também, e mais ainda, da salvação do pecado.

    O quadro que nos apresenta Deus a fazer vestes para Seus filhos prestes a serem afastados de seu lar, revela o amor divino pelos Seus, e Sua terna consideração por eles, mau grado haverem pecado. Como a mãe que veste os filhinhos com roupas quentes e confortáveis antes de os mandar para o cortante vento, assim Deus bondosamente veste Seus dois filhos antes de os despedir. Se é preciso afastá-los, devem levar consigo a prova de Seu amor. Devem ter consigo alguma evidência de que Deus ainda tem cuidado deles. Não é Seu intento deixá-los a lutar sozinhos, é necessário afastá-los do Jardim do Éden, mas ainda os ama. Supre-lhes o que lhes falta.
   

Afastando o casal do Éden - Obtendo a repulsa do pecado


    Por causa do pecado, Deus teve de afastar Adão e Eva do lar que lhes preparara. Por certo deve ter sido com grande pesar de coração que os dois abandonaram o lugar, em que pela primeira vez se haviam visto, e que tão gratas evocações lhes trazia. Mas imensuravelmente maior deve ter sido a dor por Deus experimentada ao ordenar-lhes que saíssem. Ele os havia criado. Amava-os. Providenciara quanto ao seu futuro. Eles, porém, Lhe haviam desobedecido. Tinham escolhido outro senhor. Do fruto proibido haviam tomado. "Ora, pois", disse Deus, "para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente... o lançou fora". Gen. 3:22-24.
    Deus não deixou Adão em estado de desespero. Não só lhe assegurou que o Cordeiro "morto desde a fundação do mundo" havia de morrer por ele, provendo-lhe assim real salvação, mas também prometeu auxiliá-lo a resistir ao pecado, concedendo-lhe capacidade para aborrecê-lo. "E porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a sua semente", disse Deus. Gen. 3:15. Sem fazer violência ao texto, podemos dar-lhe a seguinte interpretação: "Em teu coração porei repulsa ao mal". Essa repulsa é vital para a nossa salvação. Do ponto de vista humano, enquanto houver no coração amor ao pecado, nenhum homem poderá ser salvo.

    Talvez resista ao mal, mas se em seu íntimo existir amor ou apego a ele, não estará em terreno seguro. De Cristo se diz: "Amaste a justiça e aborreceste a iniqüidade". Heb. 1:9. É importante aprendermos a aborrecer o pecado. Unicamente quando a iniqüidade do pecado se nos torna real e aprendemos a aborrecer o mal é que estamos seguros. Cristo não só amou a justiça; também aborreceu a iniqüidade. Essa repulsa é fundamental no Cristianismo. E Deus prometeu colocar em nosso coração essa repulsa ao pecado.
    O Evangelho está sintetizado nas promessas que Deus fez a Adão e no modo por que o tratou. Deus não deixou Adão entregue à própria sorte depois de pecar. Procurou-o, chamou-o. Providenciou-lhe um Salvador, simbolizado pelo cordeiro sacrifical. Prometeu ajudá-lo a odiar o pecado, a fim de que, pela graça de Deus, dele se afastasse. Se Adão tão somente cooperasse com Deus, tudo estaria bem. Foi-lhe apresentado o meio para voltar ao estado de que havia caído. Não precisava ser vencido pelo pecado. Com o auxílio divino podia triunfar sobre ele.
   

    "O pecado jaz à porta..." A ira e o pecado no coração

    De um modo frisante isso nos é revelado no caso de Caim e Abel. Caim está irado; seu semblante decaído. Em seu coração já cometeu o assassínio, e está pronto a matar Abel. Deus o adverte de que "o pecado jaz à porta... e sobre ele dominarás". Gen. 4:7. Era esta uma misericordiosa advertência a Caim, e uma afirmação de esperança de que não precisava ser vencido pelo pecado. Qual selvagem animal que está pronto para arremessar-se sobre a presa, o pecado jaz à porta. Segundo a expressão do Novo Testamento, Satanás anda em derredor "bramando como leão". Mas Caim não precisava ser derrotado. "Sobre ele dominarás"- são as palavras de Deus. Isto é mais do que uma declaração; é uma promessa.   O homem não precisa ser vencido. Existe esperança e auxílio em Deus. O pecado não deve ter domínio sobre nós. Devemos triunfar sobre ele.
    Originariamente era plano de Deus que o homem entretivesse livre comunhão com seu Criador. Essa intenção desejava Ele ver realizada no Jardim do Éden. Mas o pecado contrariou o Seu desígnio original. O homem pecou, e Deus o pôs fora do jardim. A partir daí, a tristeza passou a ser o quinhão da humana criatura. 
   

"E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles"


    Mas o Ser Supremo concebeu um plano mediante o qual poderia reaproximar-Se de Seu povo. Se eram obrigados a abandonar o lar que para eles fora preparado, por que Deus não havia de ir com eles? Se não podiam morar no Paraíso, onde lhes era dado gozar perfeita comunhão com o Pai Celestial, por que não habitaria Deus com eles? Assim, em chegando o tempo apontado, Deus dirigiu ao Seu povo as palavras: "E Me farão um santuário, e habitarei no meio deles". Êxo. 25:8. Amor admirável! Deus não pode suportar a separação dos que Lhe pertencem! Seu amor arquiteta um plano mediante o qual Lhe é possível habitar entre eles. Acompanha-os em seu jornadear através do deserto, guiando-os à Terra Prometida. Está novamente com Seu povo. Com efeito, existe agora uma parede de permeio. Deus habita no santuário, e o homem não se pode aproximar dEle diretamente. Mas Deus está tão perto quanto Lhe permite a presença do pecado. Está "no meio" do Seu povo.


    Diz de Cristo o Novo Testamento: "E chama-Lo-ão Emanuel, que traduzido é: Deus conosco". S. Mat. 1:23. O ideal do crente é a comunhão com Deus, união com Ele, e não separação. "Enoque andou com Deus". Gen. 5:24. Moisés com Ele falou face a face. Êxo. 33:11. Mas Israel não estava preparado para essa experiência. Era mister que se lhe ensinassem lições de reverência e santidade. Precisava aprender que sem santidade ninguém pode ver a Deus. Heb. 12:14. Foi com o propósito de ensinar-lhes isto que Deus ordenou que Lhe fizessem um santuário para que pudesse habitar entre eles.
      

    Antes, porém, de pedir-lhes que Lhe construíssem um santuário, lhes deu os Dez Mandamentos. Êxo. 20. Deu-lhes a Sua lei para que estivessem ao par do que deles se exigia. Estiveram ao pé do monte que fumegava. Ouviram os trovões e viram os relâmpagos; e, ao falar o Senhor, "todo o monte tremia grandemente" e tremia também o povo. Êxo. 19:16-18. O espetáculo foi tão impressionante, e "tão terrível era a visão, que Moisés disse: Estou todo assombrado, e tremendo", e "os que a ouviram pediram que lhes não falasse mais". Heb. 12:21 e 19. O povo, contudo, pôde tão somente ver e reconhecer a justiça dos reclamos divinos e, tanto antes como depois da proclamação da lei, respondeu: "Tudo o que o Senhor tem falado, faremos" (ver Êxo. 19:8; 24:3 e 7).


    Ao assumirem tão tremendo compromisso, por certo bem pouco compreendiam de sua incapacidade para cumprir o que haviam prometido. De sua experiência passada podiam ter aprendido que sem o auxílio divino não poderiam guardar a lei. Todavia, prometeram assim fazer, mau grado não muito depois se acharem a dançar em torno do bezerro de ouro. A lei proibia a adoração de ídolos, e haviam prometido guardar a lei; no entanto, estavam a adorar um de seus antigos ídolos.

No culto que renderam ao bezerro de ouro, revelaram sua incapacidade ou relutância para cumprir o que haviam concordado em fazer. Haviam quebrado a lei que tinham prometido observar, e agora ela os condenava. Deixou-os num estado de desalento e desengano.


    Ao permitir isso, Deus tinha um propósito em vista. Desejava ensinar a Israel que em si mesmos nenhuma esperança havia de que sempre guardassem a lei divina. E essas injunções eram necessárias à santidade, e sem santidade ninguém pode ver a Deus. Isso os colocou face a face com sua condição desesperadora. A lei que lhes havia sido dada para vida, trouxera-lhes condenação e morte. Sem Deus, estavam sem esperança.
 

Um meio de escape
    Deus não os abandonou nessa situação. Assim como no Jardim do Éden o cordeiro morto prefigurava Cristo, agora, mediante os sacrifícios e a intercessão do sangue, Deus lhes ensinava que providenciara um meio de escape. Abraão compreendeu isso quando o carneiro preso no mato foi aceito em lugar de seu filho. Por certo não havia compreendido perfeitamente a significação de sua própria resposta, quando Isaque lhe perguntou: "Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?" ao que Abraão respondeu: "Deus proverá para Si o cordeiro para o holocausto, meu filho". Gên. 22:7 e 8. Ao erguer ele o cutelo, disse Deus: "Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada". Vers. 12. Ao olhar Abraão em volta, viu um carneiro preso no mato e, tomando-o, "ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho". Vers. 13. Disso Cristo disse: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia, e viu-o, e alegrou-se". S. João 8:56.


    No carneiro preso no mato, que morreu em lugar de seu filho, Abraão viu Cristo. Regozijou-se e alegrou-se. A lição que Abraão aprendera, Deus desejava ensinar agora a Israel. Pelo cordeiro pascal; pelo novilho, pelo carneiro, pelo bode, pelas rolas e pombos; pelo espargir do sangue sobre o altar da oferta queimada, sobre o altar do incenso, para o véu ou sobre a arca; pelos ensinos e mediação do sacerdote, Israel devia aprender como aproximar-se de Deus. Não deviam ser deixados sem esperança ao enfrentar a condenação da santa lei divina. Havia um meio de escape. O Cordeiro de Deus morreria por eles. Pela fé em Seu sangue podiam entrar em comunhão com Deus. Pela mediação do sacerdote podiam vicariamente entrar no santuário, e na pessoa do sumo-sacerdote podiam comparecer na própria sala de audiência do Altíssimo. Para os fiéis em Israel, isso prefigurava o tempo em que o povo de Deus poderia entrar sem receio, mediante o sangue de Jesus, no santíssimo. Heb. 10:19.


    Tudo isso desejava Deus ensinar a Israel pelo sistema sacrifical. Para eles era o caminho de salvação. Infundiu-lhes esperança e coragem. Conquanto a lei divina, os dez mandamentos, os condenasse por causa de seus pecados, o fato de que o Cordeiro de Deus devia morrer por eles os enchia de esperança. O sistema sacrifical era o evangelho para Israel. Aponta claramente o caminho à comunhão e companheirismo com Deus.


    Há entre os cristãos professos os que não atribuem muita importância ou valor aos serviços do templo que foram ordenados por Deus; no entanto, verdade é que o plano evangélico da salvação, conforme revelado no Novo Testamento, se torna muito mais claro pela compreensão do Velho Testamento. Com efeito, pode-se dizer com certeza que aquele que compreende o sistema levítico do Velho Testamento, pode muito melhor compreender e apreciar o Novo Testamento. Um prefigura o outro, servindo-lhe de tipo.
 

    A primeira lição que Deus Se propôs a ensinar a Israel, por meio do sistema sacrifical, era que o pecado implica em morte. Varias vezes seu espírito foi impressionado com esta lição.


    Cada manhã e tarde, durante o ano inteiro, um cordeiro era oferecido pela nação. Dia após dia o povo levava ao templo ofertas por seus pecados, seus sacrifícios ou ofertas de gratidão. Em todos os casos um animal era imolado e o sangue aspergido no lugar apontado. Em cada cerimônia e solenidade estava impressa a lição: O pecado significa morte.


    Esta lição é hoje mais necessária do que nos dias do Antigo Testamento. Alguns cristãos têm uma idéia muito imprecisa da gravidade do pecado. Imaginam-no como uma fase transitória da vida que a humanidade vencerá. Outros o têm como lamentável, mas inevitável. Carecem de que em seu espírito se grave indelevelmente a lição de que o pecado significa morte. O Novo Testamento, com efeito, afirma que o salário do pecado é a morte. Rom. 6:23. Mas mesmo assim muitos deixam de perceber ou aprender a importância disso. Uma concepção mais nítida do pecado e da morte como inseparavelmente unidos, muito auxiliará na apreciação e compreensão do evangelho.


    Outra lição com que Deus desejava impressionar a Israel era a de que o perdão do pecado pode ser obtido unicamente pela confissão e intercessão do sangue. Isso impressionava profundamente a Israel com o preço do perdão. O perdão do pecado significa mais do que passar por alto faltas. Perdoar custa alguma coisa; e o preço é a vida, a vida do próprio Cordeiro de Deus.


    Esta lição também é importante para nós. Para alguns, a morte de Cristo se afigura desnecessária. Deus podia, ou devia perdoar, sem o Calvário, pensam eles. A cruz não se lhes apresenta como parte integrante e vital da obra de expiação. Bem andariam os cristãos, hoje, se contemplassem mais do que o fazem o preço de sua salvação. O perdão não é um simples fato. Custa alguma coisa. Mediante o sistema cerimonial Deus ensinou a Israel que ele pode ser obtido unicamente pelo derramamento de sangue. Precisamos dessa lição hoje.


    Cremos que um estudo das prescrições do Antigo Testamento, relativas à maneira de que o homem se aproximar de Deus, pagará generosos dividendos. No sistema sacrifical se contêm os princípios fundamentais da piedade e santidade que encontram seu pleno cumprimento em Cristo. Alguns há que, por não haverem compreendido perfeitamente estas lições fundamentais, são incapazes e não estão preparados para prosseguir na consecução de maiores coisas que por Deus lhes foram preparadas. O Antigo Testamento é básico. Aquele que está bem firmado nele, será capaz de construir uma superestrutura que não ruirá ao caírem as chuvas e soprarem os ventos. Estará edificado "sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina". Efés. 2:20.
 

 
     

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